Por Marcelo Gleiser
“É incrível que buracos negros
tenham sido inventados antes de ser descobertos pelo homem.
O que acontece com quem cai num
buraco negro? Imagino que muitos de vocês perderam muitas horas de sono com
isso. Especialmente agora, quando sabemos que existe um buraco negro gigante no
centro da maioria das galáxias, inclusive na nossa, um monstro de 4 milhões de
massas solares. No dia 13 de Junho, a sonda espacial NuSTAR -equipada com um
telescópio que detecta raios X- foi lançada para examinar em detalhe o que
ocorre no nosso gigantesco ralo cósmico.
Segundo a teoria da relatividade
geral de Einstein, a gravidade pode ser explicada como resultado da curvatura
do espaço em torno de um objeto com massa: quando maior a massa do objeto, mais
curvo o espaço à sua volta, e maior sua atração sobre corpos vizinhos. Quanto
mais curvo o espaço, mais difícil é escapar da sua gravidade.
O buraco negro é o caso no qual o
espaço é tão curvo que nada escapa de sua atração, nem mesmo a luz. Para
"ver" um buraco negro é preciso olhar para o entorno dele.
Para Einstein e a maioria dos
físicos, os buracos negros são um grande desafio. A maioria deles são restos de
estrelas que, ao morrer, implodem como balões furados. O problema é que,
durante a implosão, a gravidade vai ficando cada vez mais forte. E a implosão
não para. No centro da estrela em colapso, se forma uma "singularidade",
um ponto onde a gravidade é infinitamente forte e as leis da física deixam de
fazer sentido.
A “singularidade” é circundada pelo
"horizonte", a esfera que separa a estranheza do buraco negro do
mundo exterior. Se você ultrapassar o horizonte, nunca mais escapa: seu destino
é continuar até a singularidade, onde será triturado por completo. Mas não há
nada a temer, pois bem antes disso seu corpo será esticado feito espaguete e
rasgado.
Einstein jamais gostou de teorias
que deixam de fazer sentido. Em 1935, escreveu um artigo com Nathan Rosen no
qual sugeriu que o centro de um buraco negro é uma ponte para outro local no
Universo (ou mesmo para outro universo), e que, do outro lado, existe um
"buraco branco", o oposto do buraco negro, um ponto de onde surge
matéria, como uma cornucópia cósmica.
Esses "buracos de
minhoca", como ficaram conhecidas as pontes de Einstein-Rosen, vêm
inspirando incontáveis histórias e filmes de ficção científica, pois, em
princípio, permitem viagens a velocidades maiores do que a da luz.
Infelizmente, fora a total falta de evidência de buracos brancos, para manter
as duas bocas do buraco de minhoca abertas é necessário um tipo de matéria que
tem energia "negativa", até hoje nunca vista.
A coisa piora se a teoria de Stephen
Hawking, que prevê que buracos negros evaporam lentamente, estiver correta.
Afinal, se evaporarem, tudo o que resta é a “singularidade” nua, o ponto
absurdo. Horrorizados, físicos propuseram que algo protege essa nudez, a “Conjectura
de Censura Cósmica”.
Qualquer que seja o destino da “singularidade”,
é incrível que buracos negros tenham sido inventados antes de ser descobertos,
um casamento quase mágico da imaginação com o Cosmo. É como se a natureza nos
dissesse: arrisquem mesmo, sonhem alto. E estejam sempre abertos para o
inesperado, pois ele está sempre à espreita.”
FONTE: escrito
por Marcelo Gleiser, professor
de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de
"Criação Imperfeita". Artigo publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/50567-no-coracao-de-um-buraco-negro.shtml) [Imagem do Google adicionada por
este blog ‘democracia&política’].
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