ENTREVISTA CONCEDIDA PELA PRESIDENTA DA REPÚBLICA, DILMA ROUSSEFF, ÀS RÁDIOS GAÚCHA, GUAÍBA E OSÓRIO
Porto Alegre-RS, 09 de agosto de 2013
Jornalista (Pedro Farias, Rádio Osório): Presidente, falamos ao vivo. A minha satisfação é enorme. Osório lhe saúda pela sua ida lá. A senhora vai retornar à cidade de Osório.
Presidente, a senhora vai a uma instituição educacional, que é de grande importância porque forma os técnicos aqui. Os de nível técnico, realmente, são os trabalhadores. Eu até gostaria de perguntar à senhora com relação ao campus avançado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Tramandaí. Também, todo mundo sabe, que iria ser em Caxias. Então, Presidente, como está a situação do campus avançado do estado do Rio Grande do Sul em Tramandaí?
Presidenta: Olha, primeiro, eu queria, Pedro Farias, desejar um bom dia para todos os nossos ouvintes da Rádio Osório, e queria te dizer que é um prazer, primeiro, visitar Osório, e segundo, conversar com você, com o André Machado, da Rádio Gaúcha, e com o Felipe Vieira, da Rádio Guaíba.
Queria dizer também que o campus avançado de Tramandaí está atualmente em fase de projeto. Nós recebemos, como você sabe, um terreno em doação, e esse terreno vai ter a construção do campus. A gente está prevendo que o início dessa construção será agora no início do ano que vem. Já foram destinados um pouco mais de 10 milhões de reais para a construção, e em torno de um pouco mais de 1 milhão para custeio mensal. Esse campus, do litoral norte, em Tramandaí, vai mesmo, sem ter toda a construção concluída, iniciar o uso das suas funções no segundo semestre de 2014, em instalações provisórias.
Nós já temos autorizada a estrutura do campus. São 30 docentes, 26 técnicos administrativos, além da oferta de 5 cursos e 300 vagas. Ele começa com 5 cursos, mas isso não significa que amanhã ele não se desdobre e se transforme em vários cursos.
O que é muito importante num campus como esse, que vai funcionar ali naquela região, o campus de Tramandaí? O que é importante? É por conta da interiorização. O que acontecia antes? Você tinha as estruturas universitárias federais concentradas nas principais cidades do país. Quando esse processo de interiorização começou, lá por 2005, inclusive era ministro da Educação o governador do Rio Grande do Sul, que está aqui nos acompanhando, Tarso Genro, não havia esse processo de interiorização. Por que nós resolvemos, e eu dou uma continuidade a isso? É porque é muito importante para nós que haja esse acesso a um ensino universitário público em todas as regiões do país. Isso atrai, não só os jovens e oferece oportunidades, mas também, só com a mão-de-obra capacitada, cria massa crítica de conhecimento na região, permite que a região se desenvolva melhor. Por isso, eu acho muito importante esse campus no litoral norte.
Jornalista: Presidenta, bom dia.
Presidenta: Bom dia.
Jornalista: Presidenta, tem duas obras que são muito importantes para o estado do Rio Grande do Sul das quais a senhora já falou: o metrô de Porto Alegre e a ponte do Guaíba. No caso da ponte, há uma promessa do início da obra – ou pelo menos uma previsão do início da obra – no segundo semestre do ano que vem, feita, não com o projeto executivo, mas apenas com projeto básico, através do regime diferenciado de contratação. Quanto ao metrô, o governador Tarso Genro e o prefeito José Fortunati solicitaram a Brasília, como prioridade, mais R$ 2 bilhões e 300 milhões, para que a obra possa ser iniciada aqui em Porto Alegre. Então, pergunto para a senhora se virá mais recursos do governo federal e em que montante virão para o metrô de Porto Alegre e se o plano para a ponte do Guaíba é fazer essa obra no regime diferenciado.
Presidenta: Olha, primeiro, mais uma vez eu queria te cumprimentar, André, e desejar aos ouvintes da rádio Gaúcha um bom dia; é um imenso prazer estar aqui em Porto Alegre.
Eu queria te dizer, primeiro, sobre o metrô. Eu, em outubro de 2011, assegurei uma parceria entre o governo federal e a prefeitura, e o governo do estado garantiu R$ 1 bilhão de orçamento, R$ 1 bilhão de recursos federais a fundo perdido para esse metrô, mais 750 milhões em financiamento para o metrô. Naquele momento, o metrô custava R$ 2 bilhões e 400, e teria 14 quilômetros, iria até a FIERGS. Agora, nós oferecemos a todas as cidades, grandes cidades, mais R$ 50 bilhões. Nós já tínhamos colocado à disposição, para mobilidade urbana, R$ 89 bilhões. Esses R$ 1,78 bilhão são daqueles R$ 89 [bilhões]. Então, para esses novos R$ 50 bilhões, nós chamamos o governador e o prefeito. O prefeito nos apresentou um novo projeto. Por esse projeto, ele colocaria mais em torno de R$ 2 bilhões e 300 milhões, e reduziria o percurso, que não mais acabaria ali na FIERGS, mas no triângulo. Reduziria de 14 para 11 quilômetros, 11,7 quilômetros.
Nós consideramos que esse projeto é importante. Agora, nós estamos na fase de discutir com o governador e com o prefeito Fortunati como será a composição disso que ele pede ao governo federal; o que é financiamento e o que é Orçamento-Geral da União. O nosso interesse é fazer esse projeto com eles. Agora, tem de ficar bastante claro que ele hoje está consistente porque, vejam vocês, houve licitação, venceram duas empresas, uma pediu um preço muito elevado e a outra não se classificou. Então nós teremos uma discussão um pouquinho mais apurada, e aí eu terei imenso prazer de vir aqui em Porto Alegre e anunciar como é que vai ser a composição desses 2,3 bilhões.
Jornalista: Então, não vamos esperar anúncio nesta viagem?
Presidenta: Não, não vai ter anúncio nesta viagem, mas, nesta viagem tem anúncio de que vai ter um anúncio.
Jornalista: E dá para antecipar qual é esse anúncio?
Presidenta: Não, porque eu não posso dizer como é que vai ser a composição. Nós estamos...
Jornalista: Não, o anúncio dessa viagem.
Presidenta: ...querendo viabilizar...
Jornalista: O anúncio dessa viagem.
Jornalista: Vai ser anúncio.
Jornalista: O que é que a senhora vai anunciar?
Presidenta: Olha, mas vocês se acostumaram mal. Eu não vou anunciar nesta viagem, eu vou entregar um campus, e mais do que isso. E também não vamos nos esquecer: o monotrilho, que vai ser amanhã. Porque eu sou da época em que o monotrilho só ficava parado.
Jornalista: Somos.
Presidenta: Nós todos aqui, nós todos somos dessa época. Eu vou ter o grande, mas o grande privilégio de andar no monotrilho, que foi uma coisa que... Você não sempre quis andar no monotrilho? Eu sempre quis.
Jornalista: Presidenta, sobre a questão do metrô, a senhora diz que, na próxima... a senhora anuncia que na próxima vez anunciará, então...
Presidenta: Não, eu anuncio o seguinte: virá um anúncio, sem dúvida. Vai, vai. Nós vamos participar, porque consideramos o projeto do metrô de Porto Alegre extremamente relevante. Sabe por quê? O Brasil tem um defeito. Nos anos 80, nos anos 90, nós dizíamos... a gente dizia que metrô não era para o Brasil. “Metrô é para país rico.” E “o Brasil não era rico, não tinha que ter metrô”, o que foi um absurdo, nas cidades como São Paulo, como o Rio de Janeiro. Porto Alegre, uma grande cidade, mas não é hoje uma cidade que chegou a 11 milhões, como chegou São Paulo, por exemplo; Porto Alegre tem condições de ter metrô, tem condição de fazer esse metrô sem grandes dificuldades. Por isso, o governo federal vai, sim, ajudar o governo da prefeitura a financiar esse metrô e a investir, até a fundo perdido, no metrô.
Jornalista: E a ponte?
Presidenta: Você quer a ponte agora.
Jornalista: É.
Presidenta: Tá bom, então vamos para a ponte. Eu tenho um compromisso de construir a ponte, e eu sei qual é a importância da ponte para o Rio Grande do Sul e para a ligação de Porto Alegre e de toda essa região com o restante do estado. Nós vamos, de fato, licitar em RDC integrado. Qual é a vantagem de RDC integrado? Você tem de ter um estudo de viabilidade, mas você vai fazer o projeto executivo e o básico, o básico e o executivo, juntamente; passa a ser um ônus do investidor fazer esse projeto, o que vai acelerar a obra, porque essa é uma obra de arte complexa e ela vai exigir, obviamente, que haja um excelente projeto de engenharia. Então, nós decidimos fazer pelo RDC integrado, é uma grande obra e isso vai acelerá-la e nós estamos prevendo que nós iniciamos a obra até abril do ano que vem, no mais tardar até junho do ano que vem.
Jornalista: Licita e inicia a obra.
Presidenta: Inicia a obra. E por que é RDC integrado? Normalmente como é que acontece? Você licita o projeto; depois que você licita o projeto, você licita a obra relativa àquele projeto; e aí que você inicia, Se você vai fazer em RDC integrado, você vai fazer as duas coisas juntas; por isso ela é mais célere, é isso que nós estamos esperando.
Jornalista: Mas aí ele não tem uma etapa ambiental, presidente?.
Presidenta: Eu vou precisar da licença ambiental. Isso é considerando todas licenças ambientais no tempo certo.
Jornalista: Para fechar de infraestrutura, a gente já falou de ponte, de metrô. A questão das estradas. A senhora anunciou R$ 2 bilhões e 400 milhões para a BR-116, para a BR-392 e para a BR-448. Esse dinheiro não chegou a essas obras não iniciadas. A questão também do fim dos pedágios. O governo do estado repassou estradas federais para a União. E até agora o DNIT não deu controle dessas estradas. E essas estradas estão iniciando uma deterioração, e são estradas importantes. Como é que faz isso...
Presidenta: Olha, essa questão da transferência das estradas, ela é antiga. E ela foi assim: foi transferida as estradas e o dinheiro na época. Por que ficou complexa a questão das estradas? É porque as estradas [federais] foram recebidas pelos governos dos estados. Isso, se eu não me engano, foi no final de 2002...
Jornalista: Foi no fim do governo Fernando Henrique.
Presidenta: ...fim do governo Fernando Henrique, e o dinheiro também foi passado, o dinheiro para manutenção etc. Acontece que não feito o processo de manutenção, então, na hora da devolução, tem todo um processo de discussão de como é que o governo federal recebe um patrimônio que, como você disse, não foi mantido. Não é algo trivial, porque quem receber é responsável pelo que recebeu. Nós vamos ter de assinar que aquela estrada para a qual foi destinado recurso não tinha manutenção, e eu não estou dizendo que isso é responsabilidade do governo atual.
Jornalista: É da concessionária?
Presidenta: Não, isso é responsabilidade do que aconteceu naquele momento. Jornalista: Tá, e como é que soluciona isso?
Presidenta: Houve problemas, inclusive, durante o governo da Ieda, para solucionar isso. O correto teria sido, quando você faz a transferência, ela permanecer no estado. Como, naquele momento, eu acredito que fizeram essa transferência para fechar as contas...
Jornalista: Sim, as contas do governo Olívio.
Presidenta: As contas todas, do Brasil. Isso aconteceu em Minas Gerais, isso aconteceu em todos os estados da Federação.
Jornalista: Mas as contas eram estaduais, lembra?
Presidenta: Pois é, eu sei, querido. Eu estou te dizendo que era para fechar as contas do governo federal com o governo dos estados, ok? Acontece que agora tem esse passivo e ele vai ter de ser encarado. Sempre que você cria um passivo em qualquer governo, você cria um problema para o governo.
Agora eu vou te responder as outras perguntas. Primeiro, a estrada 448. Vamos lembrar que a 448, essa parte, é a continuação da Rodovia do Parque, que está em perfeito andamento. E o que é que nós fizemos? Nós chegamos aqui e resolvemos, em abril deste ano, que nós iríamos ampliar a 448, de Sapucaia, passando por Portão até Estância Velha. Pois, perfeitamente! Hoje eu leio a “Zero Hora” e, surpreendentemente, descubro que é um absurdo porque está atrasado. Atrasado o quê? Não tinha projeto. Essa decisão de...
Jornalista: Mudança?
Presidenta: ...prolongar é uma decisão a posteriori. Depois que nós estamos fazendo a Rodovia do Parque, que é uma rodovia extremamente complexa. Por que ela é complexa? Porque ela passa por área ambientalmente delicada. Então, é justo que os órgãos ambientais queiram fazer o licenciamento, e fizeram, devidamente, da rodovia, do primeiro trecho, que é o maior, o mais caro, que foi a Rodovia do Parque. Esse segundo trecho vai exigir também licença ambiental. A licença ambiental está prevista – a licença prévia –, está prevista para 30 de maio de 2014. Portanto, nós só podemos licitar a obra no dia 30 de junho ou de julho de 2014. Então, eu preciso dessa licença ambiental, ela tem as suas complexidades, e vamos esperá-la e, nesse interim, também tomamos todas as demais providências.
Então, eu tenho a estrada 392. A 392 também é uma obra que nós prometemos fazer. Os 235 quilômetros entre Santa Maria e Santo Ângelo, um investimento de R$ 1,6 bilhão, nos comprometemos em abril. Essa também tem uma licença prévia prevista para 30 de maio; portanto, a licitação está prevista para 30 de junho. De julho, desculpa, é 30/07.
E a estrada 116. Nós estamos pegando um anteprojeto que existia e adequando o projeto básico, e temos o interesse de, até o final do ano, estarmos licitando esse trecho da 116. Não há, no momento, atraso no cronograma, em nenhum momento há atraso. Não é que não poderá ocorrer, até por que são obras de engenharia e você pode ter surpresas no meio do caminho.
Jornalista: 30 de julho, é de 2014 também?
Presidenta: Todos os dois são de 2014.
Jornalista: 2014 certo.
Presidenta: A licença prévia. Um projeto básico ambiental às vezes leva um ano, às vezes leva oito meses, aí vai depender muito de quando a gente obtiver a licença.
Jornalista: Boa viagem para Osório.
Jornalista: Bom, a senhora vai de carro, né, Presidenta? Não vai de helicóptero.
Presidenta: Olha, gente, eu vou de carro, tá? Vocês podem me desejar uma boa viagem. Eu iria de helicóptero porque a gente chegaria mais rápido.
Jornalista: Nós vamos de carro.
Presidenta: Vocês vão de carro? Então nós vamos juntos de carro.
Jornalista: Presidente, uma coisinha, a senhora sente falta de Porto Alegre, presidenta, da vida aqui na cidade?
Presidenta: Eu vou te falar, eu sinto, sim, e vou te dizer, do clima também. Vocês acham o clima ruim, né, porque fica chovendo, é úmido e a quantidade de umidade no ar é alta.
Jornalista: A baixa umidade em Brasília é pior.
Presidenta: Agora, eu vou dizer para vocês: é muito difícil você aguentar 15% de umidade relativa do ar. Eu sinto muita falta de Porto Alegre.
Jornalista: Tirando o Gabriel, o que é que a senhora sente mais falta na sua rotina aqui da cidade?
Presidenta: Você sabe que, tirante o Gabriel, eu sinto falta da Paula.
Jornalista: Onde que a senhora sente falta de ir como cidadã?
Presidenta: Olha, eu vou te falar, eu andava, sabe, eu sempre andei por aqui pela região, então, eu andava lá na beira do Guaíba...
Jornalista: No calçadão.
Presidenta: Não, aqui mesmo na Assunção...
Jornalista: Aqui na Assunção.
Presidenta: É, eu andava ali. Eu andava ali [aponta], andava também ali, depois que ficou pronto, ali naquela beira mar – tá bonita, né?...
Jornalista: No calçadão...
Presidenta: No calçadão novo. Porque tinha o calçadão lá de Ipanema.
Jornalista: ...a senhora não consegue mais, porque com essa multidão que lhe acompanha...
Presidenta: Não. Você não consegue, viu. Até porque as pessoas ficam meio incomodadas de chegar em um lugar [em que haja visita de presidente]...
Jornalista: Eu lhe encontrei, enquanto ministra-chefe da Casa Civil, no cinema. Quando a senhora ia ao shopping...
Presidenta: Eu era uma pessoa normal.
Jornalista: E a senhora consegue de alguma forma ser uma pessoa normal hoje?
Presidenta: Não. Sabe por que você não consegue ser uma pessoa normal? Porque a segurança presidencial... no início, você até fica querendo ver se é possível ser mais flexível, mas a segurança presidencial não é uma questão pessoal minha, é uma questão do governo, do Estado, que eu sou obrigada, como presidente, a seguir os requisitos para a segurança.
Jornalista: Em várias vezes, em livrarias, eu lhe encontrei... a senhora comprando ficção e muitos livros técnicos de economia. A senhora consegue ler ficção?
Presidenta: Ainda consigo.
Jornalista: O que a senhora está lendo hoje, Presidenta?
Presidenta: Recentemente?
Jornalista: É.
Presidenta: Eu vou te falar, eu leio vários livros, simultaneamente. Eu estou relendo um livro, porque eu vi que está passando um filme em São Paulo sobre a Hannah Arendt...
Jornalista: Está aqui também em Porto Alegre.
Presidenta: Tá aqui também? Eu ainda não vi o filme. Mas eu sempre gostei muito da Hannah Arendt.
Jornalista: Se a senhora não tem programa para hoje...
Presidenta: Tá vendo, se eu fosse normal...
Jornalista: Mas aí como é que a senhora faz?
Presidenta: Origens do totalitarismo.
Jornalista: A senhora lê o livro de novo; o filme a senhora pede no Palácio, como é que funciona?
Presidenta: Você vai ficando velho, você relê.
Jornalista: E o filme, como é que a senhora faz para ver?
Presidenta: Olha, eu vou te falar uma coisa. Eu não assisto tão rápido como vocês, mas acabo assistindo. Eu uso netflix, e uso também aquele da Apple.
Jornalista: A modernidade é que lhe dá o...
Presidenta: A modernidade é que nem livro, que você compra na Saraiva, na Cultura, na Amazon. Hoje, essa é uma grande vantagem. Antes, a gente não podia comprar; agora você pode. Antes de concluir eu posso falar uma coisa para vocês?
Jornalista: Pode.
Presidenta: Olha, eu vou te falar: tem um problema no Brasil, sabe? Você não deve ir em praia do Nordeste... porque, depois que vai a uma praia no Nordeste, você entende, aquele negócio de a gente ir em praia aqui de casacão...
Jornalista: Aqui é vento Nordeste, não é?
Presidenta: O vento Nordeste... E eu te digo o seguinte: eu gosto muito de mar. Então, até marzinho frio, eu até encaro aqui o de Torres ou ali de Capão da Canoa também. Mas eu queria falar uma coisa para vocês...
Jornalista: Por favor.
Presidenta: ...que eu acho, assim, importante. Eu queria falar... aproveitar esta oportunidade e falar a respeito da situação econômica do país. Primeiro, eu queria falar sobre a queda da inflação.
Jornalista: Eu ia lhe perguntar. Tem um supermercado aqui perto; eu ia lhe perguntar se a senhora está vendo a inflação como a dona de casa vê?
Presidenta: Olha, eu não posso ir lá no supermercado. Além de não poder ir em vários outros lugares, eu não posso ir no supermercado, mas eu acompanho, porque o Brasil hoje tem indicadores bastante confiáveis. Um deles é a cesta básica. Eu queria falar aqui para Porto Alegre que o último resultado das 18 cidades, das 18 capitais, a cesta básica de 18 capitais neste país está [mais barata]... não é que ela caiu, mergulhou. Aqui em Porto Alegre houve redução um pouco mais de 7%, mas é menos 7% de queda na cesta básica. O IPC... o último IPCA de julho deu 0,03%. O INPC deu menos 0,3%. A inflação de maio foi menor que a de abril, a de junho foi menor que a de maio, e a de julho é essa situação de queda generalizada dos preços. Portanto, eu queria, primeiro, aproveitar que nós estamos numa rádio, a rádio fala para a dona de casa, fala com as pessoas assim, de uma forma muito coloquial e cotidiana, e é isso que eu queria dizer: a inflação no Brasil está sob controle. Nós tivemos um período de dificuldades e conseguimos superá-lo; foi feito um esforço e essa superação ocorreu.
Jornalista: No primeiro ano foi 6,5%; o segundo ano, 5,8%; este ano fica abaixo de 6%, a inflação?
Presidenta: Olha, eu não vou te dizer em quanto ela fica porque cada vez que você faz esses exercícios, porque a imprensa muito gosta de futurologia, depois ela mesma te cobra, dizendo: “olha, teve ali uma variação de tanto”.
Jornalista: Mas fica na meta?
Presidenta: Eu tenho absoluta certeza que ela estará dentro da meta, absoluta certeza. Quanto a isso, eu não acredito que haja a menor dúvida em ninguém, nem os analistas do país. Além disso, eu queria falar outra coisa. Nós teremos, no segundo semestre deste ano, um conjunto de licitações que torna o Brasil um dos países com um programa de investimento dos maiores, tanto dos 7.500 quilômetros de rodovia, 10 mil km de ferrovias. Para você ter uma ideia, nós aprovamos a medida dos Portos... era medida provisória, virou Lei dos Portos, o marco regulatório, no fim de junho. Pois muito bem, para vocês terem uma ideia, nós hoje conseguimos, já, autorizar mais de 55 terminais de uso privativo, totalizando R$ 16 bilhões. Já foi autorizado o terminal de uso privativo variado, porque, na verdade, a Medida dos Portos abriu os portos ao setor privado, foi isso o que ela fez. Além disso, é importante dizer: nós iremos licitar o maior campo do pré-sal dos últimos tempos em torno de 21 de outubro. Durante os últimos cem anos, nós acumulamos quanto? Nós acumulamos em torno de 15 bilhões de barris equivalentes de petróleo de reserva. Tudo e toda a vida da Petrobrás, toda a vida de todas as empresas deu isso. Sabe qual é a estimativa para o campo de Libra? Entre 8 a 12 bilhões de barris equivalentes de petróleo. O Brasil se transformará, inequivocamente, num país com grande capacidade de exportação de petróleo.
Jornalista: Mas o Brasil já não era autossuficiente e agora está tendo que importar petróleo?
Presidenta: Posso falar? A autossuficiência do Brasil sempre...
Jornalista: Foi...
Presidenta: ...foi justinha.
Jornalista: ...insuficiente.
Presidenta: Não, justinha. Nós, agora, até o final do ano, voltamos a ser autossuficientes, um pouquinho além de autossuficiente, mas o que nós nunca fomos é um país exportador. Sempre exportamos e importamos. Na maioria das vezes, o balanço dava negativo. Em 2008, passou a ser positivo. Agora, tornou a virar negativo e, no final deste ano, volta a ser positivo. Agora, com Libra, o saldo positivo será muito maior, a nossa capacidade de exportação será maior do que nós tivemos nos últimos anos.
Outro fator que eu acho importante é a questão do emprego. Nós criamos 826.200 empregos, tá? O que é que significam esses seis meses, com 826 mil novos empregos? É o equivalente a tudo que foi criado no primeiro governo do Fernando Henrique Cardoso. Aí você vai me dizer: mas era outra situação macroeconômica. Mas esse é o ponto: é outra situação macroeconômica porque nós fomos capazes de criar, em seis meses, 826 mil empregos.
Jornalista: Tá pronta...
Presidenta: Em quatro anos, 4,4 milhões de empregos.
Jornalista: Está pronta para o discurso da campanha?
Presidenta: Não, não estou pronta para o discurso da campanha, não. Estou pronta para defender o meu governo e para dizer o seguinte: com taxa de desemprego de 6%, é escandaloso que alguém diga que o [des]emprego cresceu. Sabe quanto... que o desemprego cresceu?. Sabe quanto que oscilou no último ano... no último mês? 0,1%; e aí eu tenho de aguentar, você entende, falas do seguinte teor: “Ah, o emprego, o emprego está diminuindo”. Como, está diminuindo? 0,1% é margem. Quando cai para 5,8% ou 5,9% é margem. O fato é que o Brasil nunca teve uma taxa tão baixa de desemprego e na contra corrente da história [no mundo].
Outro pontinho que eu queria também precisar. Muita gente fala assim: “Tenho uma baita desconfiança sobre o Brasil”. Agora, me explica, como é que uma baita desconfiança sobre o Brasil permite que, em seis meses, nós tenhamos 30 bilhões de dólares de investimento externo direto? 30 bilhões de dólares. Em seis meses. E tudo indica que vamos repetir o que aconteceu em 2011 e [20]12. Em 2011, se eu não me engano, foi 67 bilhões; em 2012 foi 65 bilhões; e este ano se repetiu. No primeiro semestre, se repetiu. Se ele repetir [no 2º semestre] será 60 bilhões, que é um número excelente, considerando a situação internacional.
Era isso que eu queria dizer porque, como o Felipe disse, eu estou defendendo aqui o meu governo.
Jornalista: Está bem, e preparadíssima para a campanha.
Jornalista: Boa viagem, Presidente.
Presidenta: Eu não faço campanha sabe por quê? Todo o resto tem de fazer campanha porque quer o meu lugar. Eu estou sentada nesse lugar, eu estou exercendo o governo. A troco de quê que eu vou fazer campanha? Eu vou é governar.
Jornalista: Quem quer o seu lugar com mais afinco, hein, Presidenta?
Presidenta: Olha, meu querido, tem muita gente querendo. Agora, isso é normal. Por que é normal? Porque, graças a Deus, nós vivemos numa democracia. Jornalista: E a senhora está preparadíssima para 2014?
Presidenta: Eu estou preparadíssima para 2013, estou preparadíssima para governar até o dia 31/12/2014.
Jornalista: Está bom. Obrigada, aí, Presidenta."
FONTE: Blog do Planalto (http://www2.planalto.gov.br/imprensa/entrevistas/entrevista-concedida-pela-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-as-radios-gaucha-guaiba-e-osorio).
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