[O tamanho da isenção
partidária do Procurador-Geral]
Por Luis
Nassif
“É difícil penetrar na lógica
corporativa do Ministério Público Federal a partir de qualquer observatório
fora de Brasília. Um dia em Brasilia, no entanto, permite formar alguns juízos
sobre sua atuação.
Da Procuradoria Geral da República [exclusive]
para baixo, trata-se de uma organização profissionalizada, sem favorecimentos
políticos ou de grupos. Ou seja, a carreira de um procurador depende de um
conjunto de circunstâncias impessoais, independentemente da maior ou menor
simpatia que lhe devote o Procurador-Geral da República (PGR).
Recentemente, por exemplo, foi
indicado para o CNMP (Conselho Nacional
do Ministério Público) o procurador da República Vladimir Aras. Foi o mais votado
da categoria e, embora não pertença ao grupo de Roberto Gurgel, o PGR, a
indicação foi confirmada por este.
Em represália a Gurgel, o presidente
do Senado, Renan Calheiros, por absoluta desinformação, comandou a rejeição ao
nome de Aras. Deverá fazer o mesmo com a próxima indicação - essa sim, de procurador próximo a Gurgel.
Esse respeito à carreira, a não-politização
das promoções e à liberdade de atuação dada à base dos procuradores, pacificou
a corporação e manteve a coesão corporativa em torno do PGR. E aí diversos PGR
tiveram todo o espaço do mundo para manobrar politicamente sua cota de poder
excepcional - já que é de sua atribuição
pessoal propor abertura [ou fechamento] de inquéritos contra autoridades com foro privilegiado, assim como intervir nos
inquéritos mais delicados.[Esse poder continua, com a derrubada da PEC 37, fim estranhamente defendido pela direita e nas manifestações de rua em junho].
Tome-se a famosa CPI do Banestado.
Curiosamente, coube ao PGR Geraldo Brindeiro (denominado de "o engavetador-geral da República")
estimular a abertura do inquérito e ao seu sucessor Antonio Fernando de Souza
engavetá-la. Assim como coube a Antonio Fernando tirar o banqueiro Daniel
Dantas da AP 470 e, logo depois, aposentado, entrar em um escritório que conseguiu
um belo contrato da Brasil Telecom [da qual Daniel Dantas era grande
participante do grupo controlador].
Esses episódios são comentados à
boca pequena no MPF, mas jamais suscitaram reação pública ou individual dos
procuradores, porque trata-se de uma organização profissional, competente, mas
burocrática e corporativa e, em sua maioria, sem informações mais apuradas
sobre o jogo de poder interno.
O CASO GURGEL
O poder absurdo de Roberto Gurgel - e de seus antecessores - reside no
domínio completo sobre as denúncias contra autoridades com foro privilegiado. O
PGR pode sentar em cima de processos, engavetá-los, pedir abertura de inquérito
ou arquivamento, sem que sua decisão seja questionada por ninguém - nem pelo
colegiado nem por uma segunda opinião independente de algum subprocurador [Esse
absurdo poder continua, com a derrubada da PEC 37]. No caso de Gurgel, a
maioria dos processos mais delicados ficou sob sua responsabilidade e de sua
esposa.
Dentre os procuradores mais críticos,
considera-se que ele não se comportou como um marido legal, ao sujeitar a
própria esposa a decisões que poderão ter desdobramentos negativos no futuro.
Mas, em público, os procuradores
tratam dessa situação escandalosa - de
marido e mulher controlarem, sozinhos, o destino político de alguns dos
personagens mais influentes da República - como vício de "centralização administrativa".
Ninguém passa incólume por períodos tão prolongados de poder absoluto. É
consenso entre as cabeças mais influentes do MPF sobre a necessidade de o
sucessor de Gurgel reconstruir laços com diversos setores que, por culpa
exclusiva de Gurgel, passaram a tratar o MPF como um todo como inimigo.
Curiosamente, um dos méritos de
Gurgel foi ter aprimorado o modelo de gestão interna do MPF.
Em relação à sua gaveta, no entanto, tanto a situação incomoda os procuradores que, nas últimas eleições diretas para Procurador-Geral, os três candidatos incluíram em sua plataforma a descentralização dessas decisões, assim como a plena transparência - isto é, o mínimo: informar quais processos estão parados e há quanto tempo.
Mesmo com essas críticas a Gurgel,
procuradores ouvidos não consideram que houve erro em não solicitar autorização
do STF (Supremo Tribunal Federal) para as escutas telefônicas no ex-Senador
Demóstenes Torres. Consideram que o pedido dificilmente seria aceito e abriria
brecha para a tentativa de anulação do inquérito em andamento contra ele.
Consideram correta também a decisão de trazer o inquérito italiano da Telecom
Italia (sobre escutas telefônicas) para analisar o caso Daniel Dantas.
Consideram grave não ter pedido
abertura de inquérito contra Antonio Palocci e admitem o temor reverencial em
relação aos poderes da mídia - no caso [do
criminoso] Carlinhos Cachoeira e da “Veja”.
Há inúmeras queixas em relação à
forma como Gurgel comanda a PGR e o colégio de subprocuradores. Sibilino,
falsamente gentil nas declarações públicas, internamente é truculento,
impositivo, grosseiro.”
FONTE:
escrito pelo jornalista Luis Nassif em seu portal (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/para-entender-o-mpf-e-o-procurador-geral).
[Imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog
‘democracia&política’].
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