ANÁLISE PROSPECTIVA
O blog de Luis Nassif apresenta hoje uma reflexão sobre as linhas mestras conceituais das diversas correntes que estão acirrando a competição para assumir a presidência da república em janeiro de 2011. Enfoca especialmente as alternativas e possibilidades da oposição reassumir o poder.
Essa competição feroz está em pleno curso. Crises, escândalos, CPI, tudo é apenas instrumento, arma, da luta pelo poder.
A revista inglesa “The Economist” publicou que essa atual campanha da oposição contra Dilma Rousseff faz parte da campanha pela retomada do poder no Brasil. Os escândalos têm sido alimentados pelas forças ‘conservadoras’ representadas no Brasil pela grande imprensa e pelos partidos por ela dirigidos: PSDB, PFL(DEM) e PPS.
Diz a revista inglesa, na sua última edição, descrevendo a motivação das agressões da imprensa e da oposição contra a ministra da Casa Civil:
Diante de um presidente cada vez mais popular, a melhor estratégia da oposição poderá ser atacar Dilma, que não só é a "ministra mais poderosa" de Lula como representa hoje a sua maior chance de fazer um sucessor.
(...) “Though the charges against Ms Rousseff are far less serious, the opposition will try to exploit them. Attacking Lula, who gets more popular every time pollsters ask about him, has not worked well. Attacking his most powerful minister, and the nearest thing he has to an anointed successor, is much easier”
Hoje, sábado, o blog do Nassif publicou o artigo abaixo, escrito em 30/12/2006, logo após a eleição de Lula para o 2º mandato, mas perfeitamente atual nos seus aspectos conceituais que marcam a luta pela manutenção ou pela retomada do poder em 2010:
“Os senhores da guerra
Os caminhos do ‘3o turno’
(...) O momento atual é de guerra. Se acredito que a principal combustão dessa guerra são as eleições, tenho que fazer um exercício prospectivo para imaginar o que seria o cenário político pós-eleições. Sem esse combustível principal, o incêndio permanece, ou as forças pró-pacificação se imporão?
(...) No caso dos cenários prospectivos, há um conjunto infinito de alternativas, de eventos e situações. É impossível colocá-los a todos em uma planilha e tirar a resultante final. Por isso mesmo, só resta recorrer a uma dose de análise e uma grande margem de intuição, apostar em algumas variáveis que você julga serem as mais relevantes, mas sabendo que há componentes aleatórios sobre os quais não se tem controle.
Em minha opinião, deverão se impor as seguintes tendências:
1. As eleições (de 2006) expuseram de forma clara a ausência de bandeiras novas por parte dos dois candidatos. E há um movimento que cresce a cada dia, em torno da bandeira desenvolvimentista, que até agora não tem dono. Ao mesmo tempo, esgotou-se o movimento do pêndulo que facilitava medidas de arrocho nas aposentadorias e gastos sociais. Esses dois movimentos mudam totalmente o cenário de idéias que garantiu a era FHC. A partir do ‘terceiro turno’ (campanha para 2010), a bandeira do desenvolvimentismo com inclusão social toma lugar do mercadismo, no campo das idéias políticas hegemônicas.
2. O PSDB teria dificuldades em empunhar essa bandeira, devido aos impasses internos, e porque o partido está irremediavelmente marcado pela imagem de FHC e das escolhas que fez. Para os desenvolvimentistas do partido, a única alternativa seria José Serra inaugurar o "serrismo". Aparentemente, o caminho escolhido será a proposta de uma reorganização partidária que permitirá o surgimento de um novo partido com clareza programática, e com a bandeira do desenvolvimentismo. No dia seguinte às eleições (de Lula em 2006), Serra e Aécio assumem definitivamente a liderança da oposição, encerrando-se oficialmente a era FHC.
3. Os governadores serão pontos relevantes em um novo pacto político, ainda mais com um time em que despontam Serra e Aécio, Jacques Wagner e Marcelo Dedá. Não conheço direito Sérgio Cabral, mas ouço dizer que tem visão política.
4. No governo, haverá a tentativa dos grupos mineiro, gaúcho e nordestino de ocupar o lugar das antigas lideranças paulistas -Antonio Palocci e José Dirceu. Mas, sem um pacto mais amplo, não conseguirão esquentar a cadeira no PT.
5. Para Aécio, Serra, Tarso, Dilma interessa a paz. Para FHC, Tasso Jereissatti, e os remanescentes dos "operadores" do partido, interessa a guerra. Os pacificadores têm cargos executivos, os guerreiros, não. Dentro desse quadro, só o fracasso completo dos pacificadores, ou a incrível capacidade do PT em arrumar rolos, dará combustível para uma crise política. Se bem que, depois de cuecão, dossiê e Waldomiro, tudo é possível”.
Comentário atual de Nassif:
“Os fatores que estão se impondo até agora:
1. O maior derrotado nesse jogo é Serra. Faltou-lhe coragem e visão para impor o “serrismo”. Ficou no meio do caminho, escondido, esperando talvez se soltar apenas durante a campanha. Ficou no meio do caminho e está a reboque de FHC, marcado pela aliança com o jornalismo de Veja-Folha, sem conseguir impor sua marca.
2. Mais esperto, Aécio Neves abraçou decididamente a tese da pacificação e das alianças. No plano administrativo, definiu claramente a marca da gestão. Tem menos cacife que Serra, mas aproveita de forme infinitamente mais eficiente os trunfos de que dispõem.
3. Nesse período, a imprensa persistiu na ‘síndrome do terceiro turno’, pagando um preço alto, um desgaste enorme. A cara política da imprensa é Arthur Virgílio e FHC. Seu candidato, Serra – a reboque de FHC.
4. Com os guerreiros se impondo, apenas um fator poderá dar a vitória à oposição: uma crise nas contas externas em 2010”.
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