sábado, 7 de julho de 2012

É A POLÍTICA, ESTÚPIDO!


Dilma Rousseff e José Mujica
Por Mair Pena Neto

“De todas as manifestações sobre o ingresso da Venezuela no MERCOSUL, a mais lúcida e transparente me pareceu a do presidente uruguaio José Mujica, que a classificou como resposta ao Congresso paraguaio que destituiu o presidente Fernando Lugo, e ao surgimento de novos elementos políticos.

Política é a palavra chave. O MERCOSUL e a UNASUL não são apenas blocos de interesses comerciais. O mundo não se guia apenas pelo comércio ou pela economia. As tentativas nesse sentido estão aí, palpáveis, com a crise de gigantescas proporções que assombra o mundo. Parafraseando o assessor de campanha de Clinton, James Carville, que cunhou a famosa expressão “É a economia, estúpido!”, para destacar o impacto da saúde econômica nos resultados eleitorais, diria que “É a política, estúpido!” quem precisa orientar decisões de governos que desejam se manter soberanos.

O que Mujica buscou dizer é que o MERCOSUL corria risco com a ascensão do governo ilegítimo do Paraguai, que ameaçava contaminar o bloco ao ignorar suas gestões em prol da legitimidade democrática naquele país. A decisão do ingresso da Venezuela no MERCOSUL foi tomada em 2006, mas o Senado paraguaio, cujo caráter o mundo todo conheceu no processo sumário de deposição de Lugo, vinha impedindo sua consolidação.

Pelo aspecto puramente comercial, não havia como rejeitar o ingresso venezuelano, já que o tamanho de sua economia e sua riqueza petrolífera só contribuiriam para fortalecer o bloco e seus projetos de integração. A barreira imposta pelo Senado paraguaio era política. A mesma que se viu por aqui entre forças minoritárias no Congresso nacional. No avanço de setores progressistas na América do Sul, o Congresso paraguaio ficou como bastião “conservador”, uma espécie de UDN ou DEM ao sul do continente.

O golpe “constitucional” contra Lugo, que ficou isolado em meio às forças retrógradas do país, foi também um golpe contra o MERCOSUL e a UNASUL, que precisavam reagir politicamente à ameaça. E o fizeram de forma clara, dentro dos princípios de respeito à democracia que regem os grupos. O Paraguai foi suspenso  -  no âmbito do MERCOSUL sua expulsão jamais foi cogitada  -  e a Venezuela admitida, como desejavam Brasil, Argentina e Uruguai, que foram unânimes em aprovar seu ingresso.

Mujica conta que, na reunião entre os presidentes dos três países, surgiram os “novos elementos políticos”, que evidenciaram que “o político superava largamente o jurídico”. O presidente uruguaio se referia a marcos iniciais do MERCOSUL, que remetem à hegemonia neoliberal dos anos 90 e que ficaram para trás. O MERCOSUL e a UNASUL precisam refletir os novos tempos no continente. E eles vão muito além das relações comerciais, preocupando-se, também, com infraestrutura, industrialização, defesa, finanças e saúde, entre outros.

Essa nova concepção se fundamenta na visão de governos progressistas, que se tornaram majoritários no continente, e precisam estar unidos e atentos para evitar retrocessos, como o que se viu em Honduras, como o que acaba de acontecer no Paraguai e que foi tentado, sem sucesso, na Bolívia e no Equador.”

FONTE: escrito por Mair Pena Neto, jornalista carioca. Trabalhou em “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “Agência Estado” e “Agência Reuters”. No JB, foi editor de política e repórter especial de economia. Publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/e-a-politica-estupido).

2 comentários:

Probus disse...

MERCOSUL e UNASUL tem a tendência de entrarem em fusão, tal qual já aborda e sugere o Pepe Mujica. Com isso, veremos em um futuro próximo, bem próximo, os países do CELAC incorporados. Será o mais duro golpe da América Latina contra os PIRATAS, uma resposta dura e crua, será a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.

Unknown disse...

Probus,
Tomara que você esteja certo.
Maria Tereza