segunda-feira, 2 de julho de 2012

QUANTO CUSTARIA À ALEMANHA O FIM DO EURO


Reichstag, o Parlamento alemão

Por Nuno Aguiar, na “Agência Dinheiro Vivo"

O que representa para a Alemanha estar na zona euro? Desde o início da crise, Berlim tem-se posicionado como o país que menos tem a perder com a crise da moeda única, evitando, ao máximo, fazer cedências em acordos com os parceiros comunitários.

No entanto, num cenário de ruptura da zona euro, a economia alemã sofreria choque profundo. Segundo relatório do Ministério das Finanças a que a revista alemã “Der Spiegel” teve acesso, o fim do euro provocaria recessão de 10% no primeiro ano e duplicaria o atual nível de desemprego alemão.

Na “Cimeira da União Europeia”, a corda continuou a ser puxada pelos dois lados: a Alemanha (e outros países do Norte) reclama perdas importantes de soberania e programas de austeridade duros para países que queiram se beneficiar de empréstimos comunitários. Os países em dificuldades pedem a mutualização da dívida (eurobonds), menos austeridade e alterações de estruturas europeias, nomeadamente o papel do Banco Central Europeu (BCE). A corda tem quebrado sempre do mesmo lado – o mais frágil.

A chanceler alemã Angela Merkel tem-se mostrado intransigente em vários temas, recusando cedências. Ainda quinta-feira da semana passada, teria dito aos deputados do FDP [Partido Democrático Liberal (em alemão: Freie Demokratische Partei (FDP)] que, “enquanto for viva”, recusará qualquer iniciativa relacionada com eurobonds.

Portugal e outros países alienados pelos mercados financeiros têm sido encostados à parede pela Alemanha: a dureza da austeridade ou o choque da saída ou fim do euro. 

Mas Berlim tem todos os motivos para se esforçar para encontrar soluções para a crise. A confirmarem-se os dados do relatório a que a “Der Spiegel” publicou – o Ministério das Finanças alemão diz desconhecer o documento – significa que Merkel sabe perfeitamente o que tem a perder com a crise. Perante cenário de recessão de 10% e cinco milhões de desempregados, a emissão de eurobonds, o reforço dos fundos de resgate e a constituição do Banco Central Europeu (BCE) como credor de último recurso, poderão ser “males menores” para Berlim.

Uma dissolução da zona euro teria consequências catastróficas para a economia alemã”, escreve a “Der Spiegel”. “O Ministério das Finanças [alemão] tem mantido essa informação em segredo, temendo um descontrole do custo de salvação do euro.”

Mais: os principais parceiros comerciais alemães são países da moeda única, e a zona euro permitiu o forte desenvolvimento das exportações alemães; os custos de financiamento da Alemanha estão cada vez mais baixos, registrando-se, mesmo, juros negativos.

Os dados divulgados pela “Der Spiegel” surgem numa altura em que o apoio dos alemães à permanência na zona euro é cada vez mais baixo. Influenciados por narrativa de divisão da Europa entre preguiçosos (países do Sul) e trabalhadores (Norte), quatro em cada dez desejam abandonar a moeda única. Uma tendência que traz preocupações para o futuro. É que, em breve, Angela Merkel terá de convencer os alemães a votar nela. Uma retórica antieuro pode ajudar."

FONTE: escrito por Nuno Aguiar, na “Agência Dinheiro Vivo”. Transcrito no blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/geral/quanto-custaria-o-fim-do-euro-a-alemanha.html#more-14212) [Imagem do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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