quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O MUNDO AINDA NÃO SE ACABOU

Li na Folha de São Paulo de ontem o seguinte artigo de Abram Szajman. O autor é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), dos Conselhos Regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio) e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial):

Os fatos econômicos são multifacetados, parecendo mais feios ou bonitos de acordo com o ângulo do observador

“O ANO que termina entra para a história como mais um no ciclo de prosperidade iniciado em fins de 2004, cujas características são crescimento sólido, recuperação das contas externas, aumento de renda, geração de empregos e acumulação de reservas internacionais superiores a US$ 200 bilhões. Porém, diante da virulência da crise internacional, a pergunta que não quer calar é: essas conquistas se manterão ou não em 2009?

Muitos dos analistas que há um ano afirmavam ser a crise um episódio isolado de insolvência no mercado de hipotecas dos Estados Unidos que, a exemplo dos furacões caribenhos, passaria a léguas da costa brasileira, hoje se ocupam de anunciar e garantir que o mundo vai se acabar, como diz a letra do samba de Assis Valente imortalizado por Carmen Miranda.

As previsões catastróficas de aborto do crescimento com explosão do desemprego vão insidiosamente tomando conta dos meios de comunicação a partir de uma perigosa mistura de fatos com boatos. E, mesmo quanto aos fatos econômicos, convém não esquecer que eles são multifacetados, parecendo mais feios ou bonitos de acordo com o ângulo do observador.

Vejamos: do ângulo do pessimista, o nível de emprego na indústria caiu 0,2% em outubro com relação a setembro. Porém, para um otimista, o emprego na indústria cresceu 1,8% em relação a outubro de 2007.

Outro exemplo: escuto dizerem com grande convicção que o nível constante do crescimento da renda é o que dificulta o alastramento da crise. A ordem dos fatores, porém, pode ser invertida e fazer toda a diferença, se o observador preferir destacar que, apesar da crise, a renda continua apresentando crescimento contínuo.

Dizem, também, que a economia vai desacelerar no último trimestre deste ano e que estará ainda mais devagar, quase parando, no início de 2009, o que fará despencar a massa de salários. O fato, entretanto, é outro: o PIB do terceiro trimestre foi 6,8% maior que o de igual período de 2007 e acumula no ano mais de 6% de crescimento em relação ao ano passado, impactando uma massa de salários que até o mês de outubro cresceu 7%.

Torna-se evidente, assim, que, por enquanto, a crise está mais na cabeça das pessoas do que na economia real. Mas, como o consumo depende de uma decisão individual de cada um, o pessimismo já causou uma abrupta queda na venda dos automóveis.

Por isso, é fundamental destacar alguns fatores positivos da economia brasileira para exorcizar o pânico: os acordos salariais estão corrigindo os vencimentos em patamares no mínimo iguais aos da inflação, o que deve gerar um incremento de renda imediato; a queda dos preços das commodities tende a reduzir a inflação e, com isso, melhorar a renda dos consumidores; a população de baixa renda está ignorando olimpicamente a crise, mantendo sua elevada propensão -e necessidade- ao consumo.

Para restabelecer a confiança plena do consumidor, o que se espera é uma sinalização segura e inequívoca do governo. Ações pontuais, como a redução de alíquotas, são efêmeras e de eficácia reduzida se não forem atacadas as causas de nossa vulnerabilidade, que residem nos juros mais altos do mundo e num Estado com enormes dificuldades para cortar seus gastos de custeio e direcionar seus recursos para o investimento público.

Embora a crise internacional que enfrentamos seja grave, não há nenhuma força invencível a nos empurrar para o abismo. Ao contrário, o único consenso até agora é o de que os países emergentes com grande mercado interno serão menos afetados do que os países desenvolvidos.

O Brasil faz parte do mundo globalizado, mas hoje podemos dizer que o que vai acontecer no ano que vem e nos seguintes não depende dos outros, depende só de nós.

Se o Banco Central baixar fortemente a Selic e criar mecanismos para a redução dos "spreads", os juros pagos pelo consumidor na ponta serão menores, estimulando o investimento produtivo do setor privado.

E se acontecer o corte nos gastos de custeio que vem sendo prometido pelo presidente Lula, o governo poderá contribuir com seus investimentos para tirar do papel o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e atingir a sonhada meta de um PIB 4% maior em 2009.

Tenho a certeza de que, dessa forma, ao final do ano que vem, poderemos constatar, ao lado da pequena notável, que "o tal do mundo não se acabou".

2 comentários:

Paulo Nei disse...

Excelente artigo, vindo de quem vem e por estar no veículo que está!
Parabéns pela lucidez e acuro, Sr. Abram Szajman!
Que este espírito possa inundar nossas festas de fim de ano e que tenhamos um 2009 digno como merecemos.
Por esse tipo de gente é que me orgulho de ser brasileiro.

Aproveito a oportunidade para enviar a todos que acompanham este Blog, meus mais sinceros desejos de Feliz Natal e um 2009 repleto de Realizações.

Á idealizadora do Blog, Maria Tereza, meus agradecimentos pelo carinho e respeito com o qual sempre me tratou como leitor.

Em tempo, quero dizer que inspirado em você criei o 'Essa é Minha Opinião - http://essaminhaopiniao.blogspot.com/

Quando puder me visite e comente.
Abraços,

Unknown disse...

Prezado Paulo Nei,
Obrigado pelas palavras de reconhecimento e estímulo.
Pelos seus comentários, tenho certeza que o essaminhaopiniao.blogspot.com terá sucesso. Hohe mesmo irei visitá-lo.
O meu blog estará de férias até 06 janeiro. Por isso, hoje postei mais de duas dezenas de artigos, inclusive a íntegra do importante documento "Estratégia Nacional de Defesa".
Felicidades
Ótimo 2009
Maria Tereza