terça-feira, 6 de janeiro de 2009

EMIR SADER: A CRISE, O NEOLIBERALISMO E O CAPITALISMO

Em 27 último, o site “Vermelho” postou o seguinte texto do filósofo e cientista político Emir Sader:

“Pode-se eleger quem se quiser como personagem de 2008 e de 2009. Este ano e o próximo estão e estarão plenamente envolvidos pelo cenário da crise. Não se trata de Obama e a crise, por exemplo, mas a crise e como Obama reage diante dela, de tal forma ela é determinante e condicionante de tudo.

Uma crise que começou como mais uma crise financeira, acumulada pelas formas precárias de reagir às bolhas especulativas das crises anteriores, para se estender à estrutura produtiva, gerando um processo recessivo no conjunto da economia, o que, na era de globalização, universaliza a crise. De crise financeira para recessão gera, de crise norte-americana para crise global.

Dada a crise, o que fazer? O diagnóstico e os remédios refletem a ideologia de cada um.

Uma primeira linha divisória nas reações à crise está entre os que querem soluções epidérmicas, apenas de apoio às empresas em dificuldades, até que passe a crise a se restabeleçam os mecanismos mercantis impostos pelos liberais ao conjunto da economia. E os que pretendem diminuir os efeitos profundos da crise, impondo mecanismos de regulação, de reativação econômica, que apontem para os mecanismos profundos da crise: a anarquia da competição mercantil no capitalismo.

Em um segundo plano está a divisão entre os que pretendem apensas domar certos mecanismos mais selvagens do mercado e os que pretendem salvaguardar os interesses da grande maioria da população, resguardando sobre tudo o nível de emprego e penalizando as empresas que mais diretamente promoveram fraudes especulativas.

No entanto, não bastam medidas defensivas como estas, mesmo quando buscam garantir o nível de emprego como contrapartida para os apoios financeiros governamentais. Porque estas crises se repetirão. Em primeiro lugar, porque elas são a expressão mais clara dos resultados da desregulação econômica, característica típica do neoliberalismo. Ela permitiu que se desse uma gigantesca transferência de capitais do setor produtivo ao especulativo, ao mesmo tempo que garaniu a livre circulação e a liquidez total do capital financeiro, sem regulação e praticamente sem taxação. Voltará a se repetir, como se deu ao longo de toda a década passada e agora ataca no centro do sistema.

É necessário impor um modelo abertamente anti-neoliberal, que regulamente a circulação do capital financeiro, que centralize o câmbio, que penalize com altas taxas os investimentos especulativos, que submeta, de fato e de direito, os Bancos Centrais aos governos, que priorize o social contra a ditadura da economia, que promova centralmente o mercado interno de consumo de massas, entre outras medidas. E que se comprometa estrategicamente com o desenvolvimento econômico e social como meta central dos governos.

Porém a lógica da crise reiterada não é apenas do neoliberalismo, ela remete a um mecanismo muito mais profundo e perene, remete ao processo mesmo de acumulação de capital, que teve algumas das suas características acentuadas no neoliberalismo. O capitalismo se desenvolve – como o próprio Marx reconheceu no Manifesto Comunista – como nenhum outro tipo de sociedade, as forças produtivas, porém, ao mesmo tempo, não gera os mecanismos de consumo para essa produção multiplicada. Suas crises são sempre de desequilíbrio entre produção – a cuja multiplicação está comprometido, para poder recuperar na massa o que perde em cada produto, ao elevar o gasto em capital constante e diminuir relativamente em capital variável, vinculado à mais valia – e consumo, que podem ser chamadas de crises de superprodução ou de subconsumo. Sempre geram excedente de capital que no neoliberalismo se dirigiu exponencialmente para o setor financeiro e a especulação.

As crises, tanto as de ciclos curtos, como as de virada de ciclos longos expansivos a recessivos e vice-versa, são parte inerente do capitalismo. Na era neoliberal, tem um componente financeiro, que as desata, mas se estendem ao processo produtivo, conforme a magnitude que tenham – como é o caso da atual. Sua superação só pode se dar com política anticapitalistas, de socialização da produção, de planejamento democraticamente realizado da economia, de poder para os trabalhadores decidirem os destinos econômicos de que eles mesmos são os sujeitos, mas que sofrem como vítimas no capitalismo, onde o poder está nas mãos dos detentores do capital.”

2 comentários:

Pedro Bueno disse...

Fora da matéria : Feliz tetorno!
Outro meio que fora da materia: adorei, vibrei, me emocionei, mas....Obama vai segurar essa barra com relação ao que está ocorrendo entre Israel e a Palestina?

Unknown disse...

Prezado Pedro Bueno,
Obrigada.
Quanto ao Obama, não creio que ele segurará essa barra. Não sei se os EUA são o Grande Israel ou se Israel é um porta-aviões norte-americano encalhado no Oriente Médio.
Nesse quadro, se Obama fugir do tom ele morrerá.
Os EUA já têm know-how para matar presidentes que saiam da cartilha.
Maria Tereza