Li hoje no blog “de um sem mídia” o seguinte texto de Antonio Cícero Sousa:
“Qual a situação da China frente ao declínio da hegemonia dos Estados Unidos e da crise capitalista atual? Em três aspectos a China se distingue no cenário de crise atual. Primeiro, vai continuar crescendo no próximo ano a uma taxa de 8 a 8,5%, declinando em apenas 1 ponto do ano de 2008.
O imperialismo inglês foi responsável pelo fim da velha China, abriu o país para a pilhagem estrangeira, mas ao mesmo tempo provocou uma resistência popular que foi responsável por importantes ações contra os interesses estrangeiros e seus aliados internos. Ao contrário do conflito de 1840-42, a segunda guerra anglo-chinesa (1857-58), conhecida como guerra do ópio, fortaleceu o nacionalismo chinês e a luta tomou aspecto de guerra popular, capaz de infligir derrotas e desmoralizar o inimigo com os envenenamentos, motins, seqüestros e outras formas de luta, distintas dos meios de guerra ordinários dos mercadores ocidentais. Esta redescoberta do orgulho nacional preparou caminho para a revolta dos boxers em 1900 e o advento da república em 1911.
Acrescente-se a isso a luta contra invasão de seu território pelas tropas japonesas, em 1931, e a guerra que se prolonga até a rendição do Japão, em 1945, como outro fator de coesão, nesse segundo caso já sob a direção crescentemente majoritária do Partido Comunista, já que o Kuomitang (Partido Nacionalista do Povo) afirmava-se cada vez mais colaboracionista.
A China mantém-se próxima da União Soviética até o rompimento no início dos anos 60. A seguir, volta-se prioritariamente para assuntos internos até a abertura de meados da década de 70.
A experiência histórica da China com as crises capitalistas recentes também é bastante positiva. Entre 1979 e 1983, o mundo capitalista viveu sob depressão econômica, enquanto os 800 milhões de chineses das áreas rurais aumentavam suas rendas em cerca de 70%. Na produção de cereais, o crescimento foi de 100 toneladas a mais do que na década anterior.
Hoje, a China se encontra, ao lado de Cuba, Coréia do Norte e Vietnã, na primeira linha da resistência ao neoliberalismo. Não capitularam no momento da ofensiva de 1989/91 e mantiveram o principio do planejamento estatal e controle social da propriedade privada, portanto, podem ouvir com tranqüilidade os capitalistas falarem de intervenção do Estado (para salvar os bancos e o sistema financeiro).
Em três aspectos a China se distingue no cenário de crise atual. Primeiro, vai continuar crescendo no próximo ano a uma taxa de 8 a 8,5%, declinando em apenas 1 ponto do ano de 2008.
Em segundo lugar, exportar e fortalecer o mercado interno são faces da mesma moeda. Sabe-se que as exportações representam 35% do Produto Interno Bruto, para quem a China vai vender agora? Essa não é uma pergunta feita pelos chineses depois que a crise se instalou, há algum tempo o governo vem investindo no fortalecimento do mercado interno, na estabilidade do yuan e na promoção de empregos. Dessas três metas, o aumento do consumo doméstico será uma boa resposta às dificuldades criadas pelo declínio das exportações. A universalização dos serviços públicos e dos direitos sociais colocou o país numa situação invejável que só os hipócritas não conseguem ver quando repetem o samba de uma nota só dos baixos salários chineses. O salário numa economia socialista se reveste de outro caráter, pois incorpora o aluguel subsidiado, o acesso à saúde e educação e demais direitos sociais. Enquanto os governos capitalistas socorriam os bancos, o governo chinês aprovou um pacote de 570 bilhões para investimentos em construção popular, saneamento, eletricidade, transporte, recuperação do meio ambiente, apoio às pequenas e médias empresas, racionalização das indústrias e reconstrução de áreas destruídas por desastres naturais.
O terceiro aspecto que distingue a China é o controle que exerce sobre o mercado financeiro. Nas bolsas chinesas, o capital estrangeiro precisa de autorização para transações na conta de capital (compra de ações), também não há mercado de futuros e nem especulação com o dólar, sendo crime qualquer transação interna com moeda estrangeira.
Em 1929, todos os países entraram em crise, menos um – a República dos Sovietes. Hoje não dá para fazer uma comparação simplista, aproximando mecanicamente China e União Soviética, mas dá para dizer que a posição dos chineses é confortável e que o seu papel será cada vez mais relevante no cenário mundial: investem na África sob condições mais favoráveis que as instituições financeiras internacionais e fazem acordos bilaterais com Rússia, Irã e Iraque e Venezuela. A luta contra o imperialismo desde o século XIX, sua não capitulação na ofensiva neoliberal e a construção do socialismo segundo as peculiaridades chinesas explicam porque as atenções se voltam para a República Popular da China.”
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