terça-feira, 31 de março de 2009

O PESO DA TECNOLOGIA NA SEGURANÇA E DEFESA

Li ontem no jornal Gazeta Mercantil o seguinte artigo de Roberto Guimarães de Carvalho, Coronel reformado, diretor da RC Consultoria de Defesa e diretor do Departamento da Indústria de Defesa da Fiesp:

“Quem se dispuser a consultar revistas e jornais brasileiros, interessado única e exclusivamente em encontrar textos sobre o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias nas áreas de segurança e defesa, terá duas grandes surpresas.

A primeira é que, embora o assunto pareça árido e muitos acreditem que a imprensa publique poucas matérias sobre o tema, não há uma semana que passe sem um veículo registrar algo a respeito.

A segunda, pelo menos para os brasileiros, não chega a ser animadora. A razão é que, nas matérias publicadas na grande imprensa, é muito raro encontrar o nome do Brasil como um dos países que desenvolvem novas tecnologias para as áreas de segurança e defesa.

Na Espanha, por exemplo, cientistas do Centro de Tecnologia de Valência desenvolveram materiais com propriedades que podem gerar invisibilidade em dimensões reduzidas e a meta agora é testar a aplicação desses materiais em escala e superfície maiores, para emprego nas áreas de segurança e defesa.

Em outra parte no mundo, no Oriente Médio, o vice-ministro de Defesa iraniano, Ahmad Vahidi, afirmou que Teerã construiu um avião de vigilância não-tripulado com um alcance de mais de mil quilômetros.

No Brasil, contudo, as notícias envolvendo o próprio País como desenvolvedor de tecnologias mais avançadas na área de segurança e defesa são escassas.

O Brasil vem adquirindo equipamentos no exterior, como helicópteros e submarinos e está em curso uma licitação para compra de caças para a Força aérea Brasileira (FAB). Chama a atenção, ainda, o fato de que em todas essas compras o governo brasileiro exija que os países vendedores também transfiram a tecnologia empregada na fabricação desses equipamentos.

Sem dúvida que a decisão e a insistência do governo nesse sentido são louváveis, mas resta saber se surtirão efeito verdadeiramente prático e até onde serão realmente exequíveis. Tomemos como base dois exemplos:

O Brasil está adquirindo da França quatro submarinos Scorpène, juntamente com a tecnologia para fabricação do casco. Como o Brasil já detém a tecnologia para produção local do propulsor com reator nuclear, para que integremos o clube dos países fabricantes de submarinos falta apenas a expertise para fazer o casco.

O segundo exemplo é a licitação da FAB para renovar sua frota de caças, chamada de projeto FX2. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, já declarou em diferentes ocasiões que a compra dos caças está condicionada à transferência total de tecnologia e diversos especialistas também já declararam que consideram essa hipótese pouco provável de ocorrer na medida desejada pelo Brasil.

Pode parecer simplista, mas qual fabricante no mundo tem interesse em entregar todo o conhecimento adquirido durante o desenvolvimento de seu produto, para um comprador que poderá vir a se transformar em um potencial concorrente no futuro?

O Brasil já foi um grande exportador de material de segurança e defesa, chegando a ocupar a posição de nono país exportador de materiais de defesa na década de 1980, mas perdeu esta importância ao longo do tempo e hoje vive de comprar equipamentos. O momento atual mostra a importância de redirecionar os investimentos alocados para esta área, especialmente para desenvolvimento e pesquisa de novas tecnologias.

Em abril, entre os dias 14 e 17, será realizada no Rio de Janeiro a LAAD 2009 – Latin America Aerospace and Defence, maior e mais importante feira de defesa e segurança da América Latina.

O evento reúne a cada dois anos empresas brasileiras e internacionais especializadas no fornecimento de equipamentos e serviços para Forças Armadas, forças especiais e serviços de segurança. Bastará uma visita à feira para checar o que vem sendo feito pelas indústrias do setor, seja em território nacional como em outros países.

Infelizmente o desnível tecnológico existente entre o Brasil e outros países tradicionais fabricantes de materiais de defesa do mundo ainda é muito grande e assim se conservará por algum tempo.

Há necessidade, porém, que sejam tomadas medidas desde já para diminuir esta diferença e possibilitar a autonomia necessária para manutenção da soberania do País e uma maior participação do setor industrial de defesa brasileiro no concorrente mercado internacional.

kicker: O Brasil, que já exportou material de defesa, hoje prefere importar equipamentos”

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