Li hoje no site “vermelho” o seguinte texto de Marcos Palhares, originariamente publicado na Revista Fórum:
“O secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Paul Singer, aponta dois fatores cruciais para o Brasil não estar sofrendo o mesmo impacto da crise mundial que enfrentam, hoje, os Estados Unidos e a Europa, por exemplo. Para ele, o fato de cerca de 50% dos bancos brasileiros serem públicos tornou o país menos suscetível às operações financeiras especuladoras de alto risco.
Mas o principal, na opinião do secretário, foi a adoção, pelo governo federal, de políticas anticíclicas antecipadas. “O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi lançado há dois anos. Trata-se de uma política vigorosa de investimentos determinante para que a crise não fosse tão violenta no Brasil quanto em outros países”, afirmou Singer, durante o seminário “Alternativas à Crise — Por uma Economia Social e Ecologicamente Responsável”, realizado nesta sexta-feira, 27 de março, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Confira a entrevista:
COMO E COM QUAL INTENSIDADE A CRISE MUNDIAL PODE AFETAR OS PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO LULA?
Eu diria que, se a gente atingir uma realidade de forte queda da economia, poderia haver cortes de recursos para esses programas. É possível, mas eu, sinceramente, não prevejo essa possibilidade. O Brasil se antecipou á crise. O PAC foi lançado há dois anos. Trata-se de uma política vigorosa de investimentos determinante para que a crise não fosse tão violenta no Brasil quanto em outros países.
O SENHOR CRÊ, PORTANTO, QUE A CRISE NÃO AFETARÁ O BRASIL COMO ESTÁ AFETANDO OS ESTADOS UNIDOS E A EUROPA?
Creio que não. Além do PAC, que o Obama está tentando fazer ao seu modo, agora, o Brasil, graças a Deus tem a sorte de ter cerca de 50% dos seus bancos públicos. São bancos que priorizam o investimento e os empréstimos para fazer crescer a economia real – e não a especulação pura e simples. Por tudo isso, a crise é menos violenta do que em outros países. Porque é incompatível que você tenha, como nos bancos privados, um sistema bancário que só tenha como objetivo lucrar o máximo.
PARA OS SETORES MAIS FRAGILIZADOS DA SOCIEDADE, QUAIS OS EFEITOS MAIS NOCIVOS DA CRISE MUNDIAL – E COMO SUPERÁ-LOS?
Sem dúvida, é o aumento do desemprego e a queda nos investimentos. Atualmente, o país não está em decréscimo, mas acabou o ritmo de crescimento que vinha tendo nos últimos anos. Entre 2003 e 2008, reduzimos 50% do desemprego, mas agora haverá um recuo nisso. Um exemplo de como superar esses problemas é o programa de habitação anunciado pelo governo federal recentemente, que projeta a geração de pelo menos 2 milhões de empregos diretos.
DE QUE FORMA O GOVERNO LULA PODE ESTIMULAR, AINDA MAIS, A ECONOMIA SOLIDÁRIA? O QUE FALTA PARA QUE ELA SEJA EFETIVA E EFICIENTE?
Falta muita coisa. Por exemplo: permitir que cooperativas de gente pobre participem do Super Simples, que corta aproximadamente 90% da carga tributária. Porém, muitas pessoas têm a impressão de que o governo federal não se esforça para isso, o que não é verdade. Há uma parte do governo lutando constantemente por essas mudanças e, junto conosco, órgãos como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
DURANTE PALESTRA NO SEMINÁRIO REALIZADO PELA PUC, PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO, DO PSOL, AFIRMOU QUE NÃO EXISTE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NO PAÍS. O SENHOR CONCORDA?
Não, não concordo. Para mim, está havendo, sim, uma grande transformação social no Brasil. É meio invisível, pois a maior parte das pessoas não sabe. Mas essa transformação está acontecendo e é muito encorajadora. Muitos dizem que ela só será percebida dentro de dez ou 15 anos. Eu acho que não vai demorar tanto assim.”
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