Li hoje no site “vermelho” o seguinte artigo de Rodrigo Vianna, postado no blog Escrevinhador:
“De férias, no Rio de Janeiro, hospedo-me na casa de um casal de bons amigos. Um deles, por dever de oficio, assina O Globo. Dia desses, numa tarde preguiçosa, resolvi passar os olhos pelo jornal da família Marinho. Na capa, a foto de FHC — o herói da elite brasileira. Fernando Henrique Cardoso veio ao Rio pra receber — em nome da mulher, dona Ruth (morta ano passado) — homenagem prestada pelo jornal.
Trata-se de prêmio para gente que, segundo O Globo, “faz a diferença”. Não entendi bem os critérios para escolha. Mas, sei que dona Ruth foi escolhida como personalidade do ano de 2008. Na foto da premiação, FHC aparecia sorridente, cercado por um diretor do jornal e por um dos filhos de Roberto Marinho.
FHC em O Globo. FHC no Roda-Viva. FHC na Globo News. O ex-presidente voltou com tudo nas últimas semanas. Ele está em campanha aberta. E há, evidentemente, um esforço concentrado da “mídia amiga” para melhorar a imagem do ex-presidente.
No início de 2003, o sociólogo deixou o poder desmoralizado. As privatizações “estranhas”, a teimosia em manter a paridade do real com o dólar (o que levou o país à bancarrota em 1998), o fracasso do segundo mandato, o crescimento pífio, o “apagão” no setor elétrico: tudo isso transformou FHC numa espécie de morto-vivo político. Menos no circuito Higienópolis-Leblon.
Ali, depois da posse de Lula, ele continuou a ser tratado como líder inconteste. Por isso, FHC e seus amigos levaram um susto quando, na campanha de 2006, Alckmin recusou-se a defender o legado do fernandismo.
Vocês se lembram da cena ridícula?
Entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial, Alckmin vestiu boné do Banco do Brasil e jaqueta da Petrobrás, para sinalizar que não retomaria a agenda de privatizações. Recusou-se a defender os oito anos de tucanato.
Tenho um amigo (defensor das privatizações) que, naquela eleição, cravou Alckmin no primeiro turno. Mas, diante da foto de Alckmin de bonezinho, esse eleitor mudou o voto para Lula no segundo turno.
Cá entre nós, é fácil entender por que Alckmin fez o que fez. Era difícil defender FHC em 2006. E os tucanos já perceberam que será difícil defender essa herança maldita também em 2010.
Ninguém, no campo demo-tucano, vai conseguir fazer campanha sem mostrar (um pouquinho que seja) o sorriso pretensioso de FHC. Por isso, o jeito é melhorar a imagem dele. A imprensa está aí pra ajudar.
Até o ano que vem, FHC não precisa virar um líder popular. Não. Basta que não seja visto mais como elitista e privatista. Não sei se vai colar. Sei que Serra é profissional nessas coisas. É evidente que se trata de uma tentativa antecipada de reduzir “danos colaterais”. Será inevitável a associação de Serra com os OITO anos de FHC? Então, que se transforme FHC num ex-presidente mais palatável.
Podem reparar: nos próximos meses, o viúvo de Dona Ruth vai aparecer em dezenas de eventos que ressaltem sua ligação com causas nobres e simpáticas...
O ex-presidente que não soube se comportar como um ex-presidente precisa se transformar num sujeito mais aceitável pelo povão, precisa se transformar num personagem que — pelo menos — não atrapalhe muito a campanha do candidato tucano.
Pra isso, além do glorioso Partido da Imprensa, há a imagem de Dona Ruth, que FHC seguirá usando. Como se sabe, foi um casamento inabalável. As Organizações Globo ajudaram, mandando pra longe quem poderia abalar essa duradoura relação... Mas, essa é outra história.”
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