O jornal Correio Braziliense ontem publicou a seguinte reportagem de Rodrigo Craveiro:
“Pequim reage à divulgação de relatório sobre sua capacidade armamentista e aconselha o Pentágono a abandonar mentalidade da Guerra Fria. Documento denuncia tentativa de impedir autonomia de Taiwan
“Nós sugerimos aos Estados Unidos que respeitem os fatos fundamentais, desprendam-se da mentalidade da Guerra Fria e de seus prejuízos, parem de divulgar relatórios militares como esse e interrompam as acusações sem fundamento contra a China.” O alerta de Qing Gang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, evidenciou o mal-estar de Pequim pelo fato de o Pentágono ter divulgado o relatório Poder Militar da República Popular da China — 2009. O texto é elaborado anualmente a pedido do Congresso norte-americano.
Ao longo de 78 páginas recheadas de números e mapas, o documento revela: “A curto prazo, as Forças Armadas da China estão rapidamente desenvolvendo capacidades coercitivas com o propósito de impedir Taiwan de perseguir a independência de direito”.
De acordo com o texto, a receita do Exército de Libertação Popular mais que dobrou desde 2000 — de US$ 27,9 bilhões para US$ 60,1 bilhões. Algumas autoridades do Departamento de Defesa dos EUA suspeitam que esses números sejam subestimados. Gang considerou os dados falaciosos e aconselhou Washington a não produzir documentos desse tipo, se quiser evitar “danos adicionais às relações militares entre os dois lados”.
O relatório do Pentágono esclarece que a China tem “melhorado de forma modesta” a transparência de seus temas militares e de segurança. “Mas até (Pequim) começar a ver a transparência menos como uma transação negociável e mais como uma responsabilidade que acompanha o acúmulo de poder nacional, as ideias refletidas nesse texto permanecerão incompletas”, adverte.
Consultado pelo Correio, o historiador chinês Yong Chen, professor da Universidade da Califórnia-Irvine (UCI, pela sigla em inglês), minimizou o impacto do teor do documento e demonstrou preocupação com um incidente envolvendo o navio de vigilância USNS Impaccable e cinco barcos no Mar do Sul da China, no último dia 9. “A embarcação norte-americana foi molestada e os EUA enviaram uma escolta armada. Eu suponho que isso tenha refletido na ideologia de oficiais do Pentágono”, comentou.
No entanto, Chen não crê que o episódio sinalize uma política de confrontação. Foi o pior incidente envolvendo os dois países desde 2001, quando um avião espião dos EUA fez um pouso de emergência em Hainan (sul), depois de colidir com um caça chinês. Pequim chegou a deter os 24 tripulantes por 11 dias.
DIÁLOGO
Talvez prevendo uma reação indignada de Pequim, o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell, tentou suavizar o conteúdo do documento. “Nós temos defendido um maior diálogo e transparência em nossas questões com o governo e os militares chineses, tudo em um esforço para reduzir as suspeitas de ambos os lados”, afirmou. Para Yong Chen, a crise financeira que assola os EUA e a economia de exportação da China funcionam como um fator de contenção, impedindo que as rusgas saiam do campo diplomático e ganhem a via militar.
Ele lembrou que, além de Pequim depender do mercado norte-americano, a Casa Branca está com as mãos atadas ao Oriente Médio e ao Afeganistão. “É preciso cooperação e assistência da China para os EUA lidarem com a Coreia do Norte e o Irã”, observou.
Em meio à mais grave recessão desde a Grande Depressão de 1929, os Estados Unidos não podem se envolver em outra guerra. “Nem o presidente Barack Obama, nem o premiê Wen Jiabao estão interessados em escalar as diferenças”, concluiu Chen.
O documento do Departamento de Defesa dos EUA revela o incômodo da Casa Branca em relação ao programa de mísseis balísticos e de cruzeiro da China, o qual considera o mais ativo do mundo. “Pequim desenvolve e testa mísseis ofensivos, formando unidades de mísseis adicionais, modernizando sistemas de mísseis e desenvolvendo métodos para enganar sistemas de defesa.”
O NÚMERO
US$ 59 bi foi a estimativa do orçamento de defesa chinês para 2008.”
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