Presidenta Dilma na posse do ministro do Trabalho, Brizola Neto
Por Saul Leblon
“Em seu discurso de despedida do Senado, em dezembro de 1994, o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso anunciou o fim da Era Vargas. Foi generosamente elogiado pelas corporações midiáticas, saudado pelos bancos, aplaudido pelo capital estrangeiro, incensado, enfim, pelo dinheiro grosso e seus áulicos de escrita fina.
Era preciso sedimentar o estigma maniqueísta para legitimar o projeto conservador. Foi o que se fez e ainda se faz. Não escapa ao observador atento a entrevista 'oportuna' de FHC à “Folha” esta semana para advertir a Presidenta em corajosa ofensiva contra os bancos para a redução dos juros. "Vá devagar, não se brinca (sic) com o mercado financeiro", protestou o tucano. É coerente. Pelos quase dez anos seguintes seu governo negociaria barato o patrimônio público construído, na verdade, por décadas de lutas de toda a sociedade brasileira. A nova referência autossuficiente da economia, da sociedade e da história seriam os “livres mercados” --sobretudo o “capital especulativo” que não presta contas a ninguém.
Inclua-se nesse arremate a Vale do Rio Doce, mas também algo de incomensurável importância simbólica: a autoestima da população, seu discernimento sobre quem tem o direito e a competência para comandar o destino de uma sociedade e do desenvolvimento. Entorpecida a golpes do tacape midiático, essa consciência seria desqualificada para a entronização dos “mercados desregulados” como o portador autossuficiente do futuro e da eficiência. Em suma, era a vez do “Brasil não caipira”.
Três vitórias seguidas do PT resumem o escrutínio da população sobre os resultados desse ciclo de desmonte da esfera pública, endividamento da Nação e depreciação da cidadania em dimensões profundas, talvez ainda não suficientemente avaliadas; por certo, não superadas em suas usinas realimentadoras.
Seria preciso, porém, uma crise capitalista igual ou pior que a de 1929 para sacudir de vez a inércia ideológica e o interdito histórico que recusavam admitir, nas conquistas sociais e econômicas do ciclo iniciado em 2003, um fio de continuidade com tudo aquilo antes execrado e sepultado como anacrônico e populista.
Lula cutucou-os não poucas vezes; no fígado da intolerância histórica em certas ocasiões, como quando anunciou a autossuficiência do petróleo em 2006, e disse: "a seta do tempo não se quebrou". E o demonstraria na prática pouco depois, com a regulação soberana do pré-sal, fazendo das encomendas da Petrobrás uma alavanca industrializante capaz de fixar um novo divisor produtivo.
Conquistas acumuladas em décadas de luta pelo desenvolvimento seriam assim resgatadas de um reducionismo a-histórico, desmentido nos seus próprios termos pelo colapso planetário das premissas esfareladas na crise de 2008.
Coube, na 5ª feira passada, à Presidenta Dilma Roussef acrescentar a essa espiral dialética um discurso pedagógico. Na cerimônia de posse do novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, nomes e agendas que a soberba conservadora se propôs um dia a banir da história brasileira, retornaram com orgulho e reconhecimento à narrativa de um governo soberano que, desde 2003, com tropeços e hesitações, aos poucos se liberta daqueles que ainda evocam o direito de cercear o passo seguinte da história brasileira. Esse tempo acabou e Dilma,ontem, fez do seu réquiem um desagravo à história da luta pelo desenvolvimento.Palavras da Presidenta Dilma Rousseff:
"O desemprego no Brasil está hoje nos mais baixos patamares de nossa história - 6,5% em março. Trata-se de um contraste gritante(...) o mundo perdeu 50 milhões de vagas formais de emprego, pulverizadas pela crise econômica, por políticas de austeridade exagerada, pela redução de direitos e precarização da legislação trabalhista. Nós navegamos na contramão dessa tendência (...)
A partir do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma mudança (...) Nós mudamos a nossa forma de conceber o desenvolvimento e definimos um processo de desenvolvimento com inclusão social (...) Somente nesses últimos 15 meses do meu governo, nós geramos 2 milhões e 440 mil empregos formais (...)
É assim, muito significativa, a circunstância que traz ao cargo de ministro um jovem que representa, inclusive, no sobrenome Brizola, uma história de mais de meio século de lutas sociais, de defesa do interesse nacional e de conquistas de direitos por parte dos trabalhadores brasileiros. Não bastasse levar o sobrenome Brizola, o novo ministro do Trabalho carrega consigo a história do seu tio-avô João Goulart, ex-presidente da República. Em 1953 - vejam os senhores que coincidência -, também aos 34 anos, também jovem e determinado, Jango foi empossado ministro do Trabalho do governo democrático de Vargas. Foi Jango quem deu à pasta do Trabalho grande peso político e grande dimensão.
Assim, nomear como ministro do Trabalho e Emprego Carlos Daudt Brizola Neto reforça, em meu governo, o reconhecimento da importância histórica do Trabalhismo na formação do nosso país" (Palavras da Presidenta Dilma na posse do ministro do Trabalho, Brizola Neto)
FONTE: escrito por Saul Leblon no cabeçalho do site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=972
4 comentários:
Para quem NÃO assistiu, NÃO deixe de assistir!!
Dilma participa de cerimônia que concedeu título Honoris Causa ao ex-presidente Lula
http://www.youtube.com/watch?v=iLYVOjH2a0k
Lula recebe título Honoris Causa e diz que educação é capaz de mudar vida de qualquer pessoa
http://www.youtube.com/watch?v=mwshqzNSdIU
Probus,
Obrigada. Ótimos. Não havia assistido. É até comovente.
Maria Tereza
Exato!!! Comovente!!!
Mas... o difícil é engolir essa fraude chamada Aloizio Mercadante, por mim, colocaria ele como chanceler no Sudão do Sul ou em Trípoli.
E eu gostei mesmo foi do "puxão de orelha" dado em Dilma por Roberto Salles, reitor da UFF, quando falou da questão salarial e de 10% do PIB para a Educação.
Probus,
Concordo. Não sei se é 9%, 12%, 15%, porém se o Brasil não focar realmente, mas REALMENTE, em educação, em todos os níveis, jamais sairemos do papel de periferia.
Maria Tereza
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