Por Eduardo Guimarães
“Ao que tudo indica, o acobertamento pela grande mídia de escândalos
“amigos” pode ter ultrapassado aquela barreira que, seja quem for que
ultrapasse, obriga as instituições corrompidas deste país a, ao menos, darem
uma satisfação à sociedade.
Como se sabe, escândalos políticos como o que envolve a compra de trens
de metrô da alemã Siemens pelos governadores Mario Covas, Geraldo Alckmin e
José Serra – escândalo cujos indícios
surgiram há anos no caso Alstom, que não foi investigado corretamente no Brasil
– nunca dão em nada se a grande imprensa não se interessa por eles.
O escândalo PSDB-SP/Siemens, por exemplo, é muito mais grave do que o do
mensalão do PT, pois quem se corrompeu ao longo de duas décadas de governos
tucanos em São Paulo não o fez com o fim “institucional” de comprar apoio
político, mas para auferir enriquecimento pessoal.
E a soma envolvida é muito maior – 400 milhões de reais.
Apesar disso, os veículos que lideraram uma das maiores coberturas
jornalísticas da história mundial sobre um escândalo político – cobertura que rivaliza com a do escândalo
norte-americano Watergate -, a do escândalo do mensalão, até o momento se
recusam a noticiar um caso que pode – apenas
pode – sair do controle dos moralistas de Globos, Folhas, Vejas e Estadões.
Até o momento, entre os grandes grupos de mídia supracitados – os únicos que conseguem fazer escândalos
“andar” – não se disse praticamente nada. Nenhum colunista indignado,
nenhum editorial demolidor e insultante aos envolvidos.
O tom dos poucos, ou melhor, dos raríssimos textos nessa mídia – na falta de uma só matéria na ‘Globo’ –
sobre escândalo dessa monta envolvendo o sacrossanto PSDB paulista, chega a ser
compungido.
Um colunista da ‘Veja’ tocou no assunto. O tom do texto contrasta
escandalosamente com os que a mesma figura escrevia sobre o mensalão do PT.
Veja, abaixo, o post do colunista da revista ‘Veja’ Ricardo Setti
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“Do Blog de Ricardo Setti no portal da Veja
GERALDO ALCKMIN
Denúncias sobre supostas roubalheiras no metrô
e trens de SP devem ser investigadas a fundo — tanto para colocar na cadeia os
culpados como para não permitir o linchamento dos inocentes.
A Folha de S. Paulo informou que a
multinacional alemã Siemens admitiu devolver aos cofres do Estado de São Paulo
“parte do valor” que teria sido superfaturado no fornecimento de equipamentos
de trens e metrô paulistas, durante uma reunião de executivos da empresa com
promotores do Ministério Público estadual, na semana passada.
A Siemens, como se sabe, informou ao Conselho
de Defesa Econômica do Ministério da Justiça (CADE) — órgão que tem como missão
propiciar a livre concorrência entre empresas e barrar a formação de trustes –,
sua própria participação num cartel formado para obter vantagens ilícitas em
licitações para compra de equipamento ferroviário e para a construção e a manutenção
de linhas de trens e metrô em São Paulo e também no Distrito Federal.
O esquema de maracutaias que podem haver
inflado preços em até 20% dos níveis de mercado teria acontecido entre 1995 e
2003, período em o Estado foi governado pelos tucanos Mário Covas e Geraldo
Alckmin.
Além da Siemens, a malandragem envolveria
também subsidiárias das multinacionais Bombardier (canadense), Alstom
(francesa), Mitsui (japonesa) e CAF (espanhola), e as empresas nacionais
Serveng-Civilsan, Tejofran, TTrans, MGE, TCBR, Temoinsa e Iesa.
Acho interessante que a Siemens se proponha a
devolver “parte” de um dinheiro que, ela própria admite, embolsou ilegalmente.
O que conheço em matéria de trocar informação sobre crime por benefícios é a
delação premiada — mas ela vale para as pessoas que, ajudando a polícia a
investigar, obtêm do Ministério Público e da Justiça a vantagem de diminuição
de pena.
De todo modo, a Siemens anunciou que “coopera
integralmente com as autoridades”, postura mantida pelas demais empresas.
O governador Geraldo Alckmin, de sua parte,
afirmou que os fatos serão investigados “rigorosamente”.
E é absolutamente necessário que sejam. Se
houve roubalheira, como parece ser o caso, é preciso que a polícia e o
Ministério Público ajam com rigor e rapidez, para descobrir como, quando, e,
sobretudo, quem.
Quem tem culpa no cartório?
Secretários ou ex-secretários de Estado?
Os presidentes ou ex-presidentes do Metrô ou
da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos?
Ex ou atuais diretores de ambas as estatais?
Covas?
Alckmin?
Os dois?
A ação é importante, adicionalmente, porque,
enquanto flutuar no ar a acusação genérica de que houve ladroagem nos governos
de Covas e de Alckmin — que podem perfeitamente estar inocentes de tudo isso –,
somente os nomes de ambos estará na berlinda.
Covas, morto em 2001, foi um político de
integridade indiscutível. Alckmin nunca teve contra si alegações de
desonestidade pessoal. Até prova em contrário, são inocentes, até porque a
Constituição assim prevê e garante.
Quanto mais as investigações sobre os culpados
demorarem, mais serão linchados moralmente.”
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É muita cara-de-pau. Desde quando as trajetórias ilibadas de José Dirceu
ou de Lula impediram “linchamentos” e “ilações” contra eles pelo patrão desse
sujeito aí em cima, quando eclodiu o escândalo do mensalão?
Lula, que até hoje nunca teve uma só mácula contra si, é tratado por
esse Setti e por seus pares como um bandido. Dirceu, que jamais se envolvera em
escândalo nenhum até ser acusado em 2005, desde o primeiro momento foi tratado
pela ‘Veja’ e Cia. como culpado.
Mas o pior é que o textinho de Setti ainda acoberta Serra, que integra o seleto grupo de governadores de São Paulo que,
nos últimos vinte anos, conviveram com a roubalheira desabrida no governo do
Estado e que, tanto quanto José Dirceu, terão que ser cobrados pelo “domínio do
fato”.
Mas Setti esqueceu o “domínio do fato”; contra tucanos, pede provas
enquanto brada “Linchamento! Linchamento!”.
No entanto, ao tocar no assunto o colunista da ‘Veja’ mostra que vai
ficando difícil escondê-lo. A Siemens confessou o suborno aos governos do PSDB
paulista ao longo de duas décadas e não dá mais para deixar de perguntar por
que o “domínio do fato” pode ser usado contra o PT, mas não pode ser usado
contra o PSDB.
Se José Dirceu, mesmo afastado do PT, foi responsabilizado pelo que
ocorreu no âmbito do partido, por certo que Covas, Alckmin e Serra têm que
responder pelo que ocorreu no governo deles mesmos e que ignoraram, apesar de
as acusações à Alstom e à Siemens serem notórias.
Esses governadores de São Paulo, note-se, não determinaram nenhuma
investigação. Varreram tudo para debaixo do tapete. No mínimo, prevaricaram.
O escândalo envolve atividades da Siemens em várias partes do mundo e já
ganhou projeção internacional. A coisa está tomando uma dimensão tal que o
jornal ‘Folha de São Paulo’, que até aqui escondeu o assunto, publicou, na
quinta-feira (1/8), carta de leitor que cobra a mídia pelo ocultamento desse
terremoto político que vai se desenhando.
Leia, abaixo, carta publicada no ‘Painel do Leitor’ da ‘Folha de São
Paulo’ de 1º de agosto de 2013:
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Não defendo os mensaleiros do PT e acho que eles têm
de responder pelo que fizeram, mas é vergonhosa a diferença entre o tratamento
que a mídia deu ao caso petista e as “notas de rodapé” que dedicam aos casos de
corrupção do PSDB.
Por que a Folha e outros veículos não esculacham o
Serra, o Alckmin e o Covas (que Deus o tenha) da mesma forma que esculacharam o
Genoino, o João Paulo Cunha e o Zé Dirceu?
A Siemens falou em irregularidade nas licitações do
metrô de São Paulo, com milhões de reais desviados! O governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, virá a público dizer que a Siemens não tem credibilidade, que
é um “grupelho radical com intenções partidárias”, como sempre faz para
desqualificar os protestos? Se a mídia não fala, nós somos obrigados a ir para
as ruas e obrigá-la a falar.
(LUIZ ENRIQUE VIEIRA DE SOUZA, de Osasco, SP)
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Note, leitor, como esse jornal é vigarista. O leitor escreve sobre
escândalo envolvendo o PSDB e o jornal publica a carta sob a rubrica
“mensalão”. Patético, não é?
Como se não bastasse, a mesma ‘Folha’ publica matéria em grande destaque
na primeira página acusando a presidente Dilma Rousseff de “atacar o metrô”
durante o lançamento, na última quarta-feira, de programa federal de
investimentos na capital paulista.
Confira, abaixo, a matéria:
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FOLHA DE SÃO PAULO, 1º de agosto de 2013
Após anunciar R$ 8 bi, presidente critica rede metroviária a cargo de
Alckmin
Apesar de investimento federal tímido em
trilhos, petista diz que sistema da capital é ‘o menor do mundo’
Na primeira visita a São Paulo após a onda de
protestos para a redução das tarifas de transporte, a presidente Dilma Rousseff
(PT) usou o tema para agraciar o prefeito Fernando Haddad, anunciar
investimentos de R$ 8 bilhões na capital paulista e, em outra frente, atacar o
governo do tucano Geraldo Alckmin.
Dilma anunciou a destinação de R$ 3,1 bilhões
para construir 99 km de corredores de ônibus paulistanos.
Mas seu discurso foi pontuado por críticas à
gestão do metrô, comandado pelo governo estadual, nas mãos do PSDB há quase 20
anos –apesar de investimentos tímidos do próprio governo federal na rede sobre
trilhos paulista.
Nas palavras da presidente, São Paulo é,
“talvez, a maior cidade do mundo com o menor sistema de transporte metroviário
do mundo”.
“Uma das teorias divulgadas no Brasil é que o
país não tinha nível de renda suficiente para comportar metrô. Ora, como é
possível uma cidade do tamanho de São Paulo sem transporte metroviário?”,
questionou Dilma.
O metrô de SP tem 74 km, cerca de um terço da
rede da Cidade do México, que inaugurou a primeira linha na mesma época, nos
anos 70.
Diferentemente de diversos países, onde os
investimentos do governo federal em metrô são comuns, no Brasil eles sempre
foram limitados –tanto na gestão FHC como nas administrações petistas de Lula e
Dilma.
O Metrô diz que, dos R$ 22 bilhões de cinco
linhas projetadas na gestão Alckmin, só há R$ 400 milhões prometidos, a fundo
perdido, por Dilma –menos de 2% do total.
Há ainda R$ 2,7 bilhões de financiamentos do
BNDES e da Caixa –que, porém, são somente empréstimos.
Os recursos da prefeitura também são
reduzidos. Gilberto Kassab (PSD) prometeu R$ 2 bilhões para obras, mas só
entregou a metade.
Na campanha, Haddad disse que não repassaria
verbas sem estudar os projetos. No cargo, cogitou bancar a estação Jardim
Ângela da linha 5, mas não houve acordo.
Convidado ontem para o evento, Alckmin não
compareceu. A declaração de Dilma deixou irritados os aliados do governador.
Até então, a relação do tucano e da petista era pontuada por afagos.
“Em nenhum país de primeiro mundo as
metrópoles fazem metrô sozinhas, sem ajuda do governo federal. Mas aqui é
assim”, disse o presidente estadual do PSDB, deputado Duarte Nogueira.
Dilma tratou a questão do transporte como
central no discurso. “Garantir transporte público rápido, seguro e de qualidade
é um dos eixos de combate à desigualdade.”
A presidente disse ainda que o governo “está
empenhado em investimentos”. Numa gafe, chamou de “Capão Limpo” o bairro do
Campo Limpo, na zona sul.
Além dos corredores de ônibus, serão
destinados pelo governo R$ 1,4 bilhão para drenagem e R$ 2,2 bilhões para
recuperação de mananciais, além de 15 mil moradias do Minha Casa, Minha Vida.
Entre as obras contempladas estão dramas
políticos antigos onde já foi gasto dinheiro público.
A recuperação do córrego do Ipiranga é uma
delas, onde há registros de intervenções desde os anos 1980.
De lá para cá, pouca coisa mudou nos períodos
de chuva, já que a av. Ricardo Jafet alaga. Só na gestão José Serra (PSDB)
foram gastos pelo menos R$ 7 milhões na recuperação do córrego.
Outro drama é a estrada do M’Boi Mirim. A
gestão Marta Suplicy (PT) implantou um corredor de ônibus orçado em R$ 15
milhões, mas hoje os coletivos ficam travados. A ideia agora é fazer uma
duplicação da via.”
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Que história é essa de “Dilma
ataca falta de metrô em São Paulo”?
Isso é jornalismo?
Falta ou não falta metrô na capital paulista?
É ou não é verdade que São Paulo é a cidade de grande porte que tem a
menor linha de metrô do mundo (74 km)?
Houve ou não houve o roubo de recursos do metrô em governos tucanos,
conforme a confissão da Siemens?
Essa roubalheira de recursos do metrô ajuda ou não a explicar a “falta
de metrô” na cidade?
E, por fim, a informação de que há um grande escândalo e uma grande
investigação nacional e internacional por roubo de recursos do metrô paulistano
não deveria figurar nessa matéria se ela pertencesse ao que se convencionou
chamar de jornalismo?
Seja como for, a carta do leitor da ‘Folha’ e o texto do colunista da ‘Veja’
reproduzidos acima mostram que está começando a ficar difícil ignorar esse caso.
Até porque existe a possibilidade de surgir um complicador para tucanos e sua
mídia que pode pôr fim ao silêncio midiático.
Após a farsa das manifestações do ‘Movimento Passe Livre’ pela redução
de vinte centavos na tarifa de ônibus e metrô em São Paulo – diferença que será
paga por uma população que foi enganada e acha que não vai pagar apesar de que
vai, através dos seus impostos – esse mesmo Movimento pode vir a prestar um
grande serviço à sociedade se fizer um protesto com fim real e sério como o que
acaba de anunciar.
O MPL promete ir às ruas no próximo dia 14 de agosto para protestar
contra o “propinoduto tucano”, ou seja, contra o assalto tucano aos cofres
públicos paulistas durante os vinte anos em que está no comando do governo do
Estado.
Não se imagina que o MPL consiga pôr cem mil paulistanos na avenida
paulista por uma causa real e justa, pois suas manifestações foram infladas
pela extrema-direita e, à esquerda, pelo PSOL, que não é de criar problemas
para o PSDB. Mas, com certeza, conseguiria pôr umas dez mil pessoas na rua, no
mínimo.
Aliás, é o que diz a carta que saiu na ‘Folha’: se a mídia esconde os crimes de seu braço político-partidário, há que
fazer um grande barulho para obrigá-la a noticiar o que não quer. E se o povo
de São Paulo souber que sua vida dura no sistema de transportes deriva de
roubalheira dos “angelicais” Covas, Alckmin e Serra, o PSDB estará morto. Tem
muita gente com raiva.
Além disso, o caso ‘Globo’ começa a sair de controle. É inexplicável. O
caso da funcionária da Receita que roubou o processo da emissora e a
investigação do Ministério Público que foi aberta contra a mesma emissora estão
sendo cobertos por cada vez mais veículos de mídia. O silêncio da ‘Globo’ e do
resto da grande mídia sobre o caso ainda vai enfurecer as multidões.
Só o que precisa ser resolvida, porém, é a questão do quebra-quebra ao
fim das manifestações. Note-se que o noticiário sobre o protesto desta semana
contra Alckmin em São Paulo diferiu do de costume. O portal da ‘Globo’ na internet
atribui o vandalismo aos manifestantes e não a “infiltrados”, como de costume.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/08/ocultacao-dos-escandalos-globo-e-psdb-siemens-foi-longe-demais-2/).
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