sexta-feira, 11 de abril de 2014

Da "Folha": OPOSIÇÃO FAZ MAIS POLÍTICA QUE INVESTIGAÇÃO




JANIO ("Folha"): OPOSIÇÃO FAZ MAIS POLÍTICA QUE INVESTIGAÇÃO


"Colunista da 'Folha' diz que recomendação de FHC de que "a oposição deve verificar os fatos" serve para seu próprio partido. Janio de Freitas escreve ainda que "os senadores e deputados do PSDB estão fazendo mais política do que servindo a esclarecimentos para evitar que a corrupção no metrô e nos trens paulistas seja também investigada"

Do "Brasil 247"

As CPIs são movidas por interesses políticos. É o que avalia o colunista Janio de Freitas, em sua coluna de quinta-feira na "Folha de S. Paulo". Segundo ele, a recomendação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que "a oposição deve verificar os fatos" serve para seu próprio partido, o PSDB.

Além disso, diz ele, a ponderação do tucano "é de uma inutilidade perfeita", uma vez que "Câmaras, Senados e Assembleias são iguais em toda parte, quando suscitadas investigações". Ou seja: "a política precede o dever do esclarecimento". Os senadores e deputados do PSDB, acrescenta ele, fazem o mesmo com o caso Alstom – postura que acusam o PT de praticar no caso da Petrobras.

Por isso "adquire sentido" a proposta do relator da CCJ Romero Jucá (PMDB-RR), que defende a criação de uma CPI com ampla investigação, incluindo a Petrobras, o cartel do metrô envolvendo tucanos e o porto de Suape, envolvendo o PSB de Eduardo Campos. O caso do deputado André Vargas, segundo Janio, é também movido por interesses políticos – uma estratégia para atingir a candidatura da senadora Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná.

Leia a íntegra do artigo da "Folha":


"Desvios de rota 



Em resposta ao que Lula não disse, Fernando Henrique ponderou, a propósito de uma CPI da Petrobras, que, em vez de política, "a oposição deve verificar os fatos (...), é uma coisa de interesse nacional". Perfeito. Mas para ser dirigida ao seu próprio partido.

Nem Lula propôs que o PT impeça a CPI, nem disse que os petistas devem "partir para cima" da oposição. Não só Fernando Henrique leu tais recomendações não feitas. É que no jornalismo, cada vez mais, e ainda pior em fase eleitoral, nada garante que o não dito vire o dito. E vice-versa.

Quanto à ponderação, além do desvio de rota, é de uma inutilidade perfeita. Câmaras, Senados e Assembleias são iguais em toda parte, quando suscitadas investigações: a política precede o dever do esclarecimento. Mas não só por isso a ponderação, mesmo que dirigida ao PSDB, é inócua. Os senadores e deputados do PSDB estão fazendo mais política do que servindo a esclarecimentos para evitar que a corrupção no metrô e nos trens paulistas seja também investigada. Um serviço ao PSDB de Fernando Henrique.

Na mesma questão, mas em sentido contrário, a proposta do relator Romero Jucá adquire sentido ao admitir a abertura da CPI para os casos da Petrobras, do metrô e dos trens, sob o rótulo geral da malversação de fundos públicos. Assim os dois problemas paulistas chegariam a um foro ao mesmo tempo político e institucional, que a Assembleia de São Paulo lhe devia, e não deu, e os governos paulistas do PSDB lhe negaram, por motivos óbvios. Para nem falar nos Ministérios Públicos, o federal e o paulista, cuja longa omissão não se explica nem por interesse partidário (o que bem poderia justificar uma CPI).

É também por interesse político que o PSDB e seus aliados, inclusive jornalísticos, tentam espichar o caso do aventureiro André Vargas, deputado cujo destino é a rua. A pretexto de que ele imaginaria ser vice na chapa petista ao governo do Paraná, querem atingir a candidatura da senadora Gleisi Hoffmann. Já a hipótese de que o doleiro associado a André Vargas seja o verdadeiro dono de um laboratório farmacêutico, com uma história de contrato feito ou não feito no Ministério da Saúde, é para atingir a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo paulista.

CPIs prestam-se, ocasionalmente, a investigações valiosas, mas são instrumentos políticos sempre. O mais comum é que, até se instalar, uma CPI crie em torno do seu tema uma confusão, de informações e de interesses, que vai limitar ou desvirtuar muitas de suas conclusões. Estamos em tal fase. "

FONTE: escrito por Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da "Folha", é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos, terças e quintas-feiras. Artigo publicado na "Folha de São Paulo e transcrito e comentado no jornal "Brasil 247" (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2014/04/1438370-desvios-de-rota.shtml) e (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/136320/Janio-oposi%C3%A7%C3%A3o-faz-mais-pol%C3%ADtica-que-investiga%C3%A7%C3%A3o.htm).

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