terça-feira, 31 de maio de 2011

A MANUTENÇÃO DA ESTRATÉGIA BRASILEIRA PARA A ENERGIA NUCLEAR


Da agência britânica de notícias BBC Brasil:

“O governo brasileiro planeja seguir em frente com a construção de novas usinas nucleares no país e incorporar as lições tiradas do recente acidente em Fukushima, no Japão [causado por gigantesco terremoto e tsunami], apesar dos apelos de especialistas que pedem uma revisão da estratégia brasileira para a geração de energia nuclear [essa constante revisão é rotina dos órgãos governamentais de planejamento].

Coordenador de Comunicação e Segurança da Eletronuclear (empresa ligada ao governo e responsável pela operação das usinas nucleares brasileiras), José Manuel Diaz Francisco diz que os planos de ampliar a produção de energia nuclear "vão em frente" e que a decisão do governo é correta.

"Vamos continuar os empreendimentos em andamento e acompanhar o que está acontecendo em Fukushima", diz.

Francisco acrescenta que as usinas que serão construídas estão em fase de escolha de locações e ainda não têm tecnologia definida. "(Interromper os planos) seria atrasar a possibilidade de progresso no Brasil, e por quê? É falta de visão estratégica do crescimento do país", avalia.

NOVOS REATORES

Já para o físico nuclear Luiz Pinguelli Rosa, do Programa de Planejamento Energético da COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a primeira providência que deveria ser tomada após o acidente no Japão seria "suspender a ideia de construir mais quatro reatores no Brasil" [apesar de o acidente no Japão ter sido causado por enormes terremoto e tsunami, sem probabilidade de ocorrência no Brasil].

"É hora de parar para pensar. A tecnologia pode mudar de rumo. Os acidentes de “Three Mile Island” (nos Estados Unidos) e de Chernobyl implicaram certas mudanças na tecnologia, e Fukushima também vai implicar", afirma.

"Não temos a corda no pescoço para ter que fazer vários reatores agora. Podemos esperar e caminhar com mais segurança", avalia Pinguelli.

"Esse acidente abala seriamente a confiança que os engenheiros tinham na segurança completa de reatores nucleares", diz o físico José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), lembrando que o acidente foi o primeiro caso grave desde Chernobyl.

Para Goldemberg, o episódio no Japão vai levar países que não dependem de energia nuclear a se voltarem para outras opções. "É o caso do Brasil, e é a posição que defendo. O país tem amplos recursos hidrelétricos ainda não aproveitados, bioenergia, energia eólica. Não tem necessidade de expandir o programa nuclear, que pode se tornar uma fonte de problemas."

[Contudo, cada dia mais, o Brasil não pode aproveitar seu potencial hidrelétrico, por pressão de ONGs e governos estrangeiros que direcionam as ações impeditivas ou altamente inibitórias dos nossos órgãos ambientais e setores da Justiça contra a construção de represas e novas usinas hidrelétricas. As soluções restantes não atenderiam à demanda e ainda são muito caras (solar, eólica) ou poluentes (óleo, carvão, lenha). O Brasil, com sua população crescente, se condenaria à pobreza extrema]

LIÇÕES

Diretor do departamento de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Laércio Vinhas diz que, a partir de Fukushima, a comissão está analisando suas normas de segurança e a Eletronuclear está verificando seus procedimentos.

"Depois de todo acidente, a indústria nuclear faz uma análise bastante detalhada do que aconteceu e busca as lições que devem ser aprendidas. Essas melhorias são incorporadas nos reatores existentes e nos projetos de futuros reatores", afirma Vinhas.

A usina nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, foi atingida por um tsunami após o terremoto do dia 11 de março, que desativou o gerador a diesel que deveria assegurar o suprimento de eletricidade para a usina.

Após o acidente, a Eletronuclear anunciou medidas para aumentar seu sistema de segurança e aprimorar o planejamento de emergência em suas duas usinas em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro.

A empresa planeja construir píeres próximos às usinas para possibilitar a evacuação de moradores pelo mar; contratar uma empresa para monitorar as encostas da região, onde recentemente houve deslizamentos; e construir uma pequena central hidrelétrica caso o fornecimento de energia elétrica seja interrompido e os geradores a diesel falhem, como ocorreu em Fukushima.

Francisco diz que as medidas já estavam sendo estudadas, mas serão "aceleradas" após o episódio no Japão. Ele afirma que uma comissão da empresa estuda a evolução do acidente em Fukushima e que as lições tiradas serão incorporadas tanto às usinas de Angra dos Reis como às que forem projetadas no futuro.

"Vai haver demanda muito grande para que tomemos ações mais fortes em resposta às conclusões que aparecerem, aumentando as margens de segurança e dando mais oportunidade aos sistemas de segurança das usinas", diz o representante da Eletronuclear.”

FONTE: reportagem da agência britânica de notícias BBC. Transcrita no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-manutencao-da-estrategia-brasileira-para-a-energia-nuclear#more) [imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

2 comentários:

Darkkann disse...

tá facil mesmo que o brasil iria abandonar o negocio só porque a produção de energia por via nuclear se provou perigosa pela 2ª vez...

e quem iria comprar as sucatas dos reatores desmanchados europa adentro, ainda mais agora que a pressão popular pela denuclearização da area energetica do continente está cada vez maior e certamente produzirá muito mais sucata (a alemanha já começou).

estamos importando o perigo. e descobrindo quais interesses norteiam a nossa politica interna...

Unknown disse...

Darkkann,
Por pressões internas e sobrevivência política imediatista, a Alemanha vai abdicar da energia nuclear, sem ter outra alternativa a não ser comprar, se possível, energia da França, que é 80% produzida por usinas nucleares...
No Brasil, prossegue o lobby das termelétricas estrangeiras não nucleares, que ganharam fortunas com "a solução" de Pedro Parente para o apagão de FHC/PSDB. Esse jogo é disfarçado e cruel.
Maria Tereza