sexta-feira, 20 de maio de 2011

ACORDO HAMAS-FATAH: RESULTADO ESPERANÇOSO DA SUBLEVAÇÃO ÁRABE


“A assinatura, no último dia 4 de maio, no Cairo, de acordo visando dar fim à confrontação entre as duas principais organizações palestinas, Hamas e Al Fatah, abre novas esperanças de que a justa luta do martirizado povo palestino possa avançar nos legítimos objetivos de recuperar o seu território [invadido e ocupado por Israel] e constituir o seu próprio Estado independente.

Por Ernesto Gómez Abascal, no site “odiario.info”, de Portugal

Esse significativo acontecimento poderá ser considerado como um dos resultados concretos da sublevação do povo egípcio que pôs fim ao governo entreguista e corrupto do ex-presidente H. Mubarak, o qual, ao mesmo tempo que se assumia como mediador em negociações anteriores, o que fazia, na realidade, era sabotá-las, subordinado aos interesses de Washington e Tel Aviv.

E já a partir dessas capitais, se vêm ouvindo vozes de preocupação, senão mesmo de ameaça perante as mudanças na política egípcia, cujo primeiro-ministro anunciou estar trabalhando na abertura da fronteira de Gaza e para pôr fim ao criminoso bloqueio conjunto com Israel, que mantém em condições de sobrevivência deploráveis 1,5 milhão de palestinos.

O caminho da unidade palestina, no entanto, irá requerer muito esforço, paciência e boa vontade para se consolidar e produzir resultados. O povo palestino parece estar pronto para exigir dos seus dirigentes, como o estão fazendo outros povos árabes, que correspondam de forma incondicional aos seus interesses patrióticos e nacionais.

O que foi alcançado no Cairo é apenas um primeiro passo, e tanto Israel como os EUA e os seus aliados ocidentais irão fazer todo o possível –tal com fizeram anteriormente– para frustrar esse progresso e para os dividir. A divisão é o seu principal trunfo.

Em 2006, realizaram-se eleições legislativas supervisionadas por numerosas instituições e impulsionadas pelo governo norte-americano segundo a bandeira de “desenvolver a democracia”. Para sua surpresa, venceu o Hamas, e aí cessou a tão proclamada [vontade de desenvolver a] “democracia”. A partir desse momento, dedicaram-se, com sucesso, a ignorar o governo do Hamas e a fomentar a divisão palestina, promovendo, de fato, um golpe de estado que levou ao desencadear de confrontos armados lamentáveis.

O Hamas manteve o controle da faixa de Gaza, bloqueada e hostilizada, submetida ao terrorismo de estado sionista cujos bombardeios provocaram, somente no início de 2009, mais 1.400 mortos, na sua imensa maioria civis.

A Autoridade Nacional Palestina, entretanto, conservou o controle parcial da Cisjordânia e recebendo apoio e generosa ajuda econômica dos EUA e da UE, bem como aconselhamento militar e de segurança, que incluiu a colaboração nesses campos com Israel. Essa política provocou fortes problemas internos à Fatah.

Foi profundamente lamentável observar que esses contatos eram desenvolvidos enquanto o povo palestino sofria bombardeios genocidas em Gaza, perante o silêncio do Ocidente e da própria reação árabe, congregada na intenção de liquidar o Hamas. Poucas vezes se terá tornado tão evidente a hipocrisia dos chamados defensores dos “direitos humanos”.

Os palestinos parecem dispostos a evitar que essa situação se repita. Vão tentar dividí-los por todos os meios possíveis. A unidade de organizações patrióticas como a Al Fatah com outras organizações da esquerda palestina e com organizações islâmicas como o Hamas pode, inclusive, constituir exemplo para forjar união anti-imperialista em outros povos árabes.

Nas rebeliões que abalam o mundo árabe, cada uma com as suas características próprias, a unidade das forças populares desempenha papel decisivo para suster a agressão e o hegemonismo imperialista sionista, para pôr fim a governos corruptos e entreguistas e para constituir Estados verdadeiramente independentes, cujos governos correspondam aos interesses dos seus povos. Para alcançar essa indispensável unidade, será necessário alterar mentalidades e adquirir flexibilidade. Tanto a esquerda como os movimentos islâmicos progressistas são chamados a desempenhar importante papel, e devem rapidamente tomar consciência desse fato.

Os EUA pretendem manter o seu domínio sobre o mundo árabe e islâmico e a sua cruzada é permanente. Nesse mundo, no qual a religião é cultura quase generalizada, essa deverá desempenhar decisivo papel libertador. Uma Teologia da Libertação islâmica é também possível …. e –porque não- necessária.”

FONTE: escrito por Ernesto Gómez Abascal*, em “odiario.info”. O autor é jornalista e escritor português e ex- embaixador de Portugal em vários países do Próximo Oriente. Artigo transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=154472&id_secao=9) [imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

2 comentários:

Darkkann disse...

"justa luta do martirizado povo palestino"

vamos com calma, companheiro. hamas e fatah, não é segredo pra ninguém, coordenam grupos guerrilheiros - vulgo terroristas - desde os anos 60.

são responsaveis por diversos ataques que mataram milhares de civis - incluindo palestinos - ao longo desses 50 anos.

matar civis não é luta justa.

e não me venha com a lenga-lenga de que os eua fazem o mesmo, porque isso não dá legitimidade a reação palestina.

se é com o terror dos eua que os palestinos querem acabar, tem que começar dando o exemplo, extinguindo o terror deles mesmos.

Unknown disse...

Darkkann,
Há dezenas de anos que os civis palestinos que reagem (geralmente com pedras) à contínua e crescente invasão e ocupação de suas terras pelos israelenses são rotulados de "guerrilheiros", de "terroristas".
Ocorreram, sim, atentados na luta desesperada contra o invasor poderosíssimo, equipado com armas de última geração pelos EUA (que repassam US$ 3 bilhões/ano para as Forças Armadas de Israel, mas não permitem aos palestinos terem armas).
Tais atentados ganham intensa e longa repercussão na mídia internacional, colocando Israel como vítima e justificando as novas matanças de milhares de palestinos e as novas invasões e ocupações como atos de Israel "justos" e "em resposta".
Assim tem sido.
Maria Tereza