domingo, 8 de julho de 2012

BRASIL, segundo Delfim Netto


Do portal de Luis Nassif

“Com mais de 80 anos, o ex-Ministro Antonio Delfim Neto continua exibindo vitalidade intelectual surpreendente. No seu escritório, em São Paulo, passam de empresários a autoridades econômicas, atrás de seus conselhos.

O acúmulo de experiências, da Faculdade de Economia e Administração da USP aos mais altos cargos da República, conferiram a Delfim uma formação única no universo econômico brasileiro. Junta conhecimento profundo da teoria e história econômica, dos humores dos empresários, das restrições e possibilidades da política, dos fatores que podem impulsionar ou derrubar o desenvolvimento.

Acredita que o PIB deste ano não deverá ficar longe dos 2%. E debita o esmorecimento principalmente ao desastre da agricultura, impossível de prever antecipadamente.

Mas acredita que, graças ao conjunto de medidas tomadas pelo governo, no último trimestre do ano a economia poderá estar correndo a 4% de crescimento sobre o último trimestre do ano passado. Depois, é manter a mesma velocidade.

Delfim acredita que 4% de crescimento, hoje em dia, correspondem aos 7% de média de crescimento que o país ostentou por três décadas, antes da grande crise dos anos 70. Na época, o crescimento populacional era muito maior. Com a população tendendo a se estabilizar, manter 4%, 4,5% de crescimento ao ano será mais que suficiente, diz ele.

O grande desafio do país é impedir a desindustrialização.
 
Foram três décadas de política cambial desfavorável, carga tributária crescente, custos de energia em alta, em que o primado do desenvolvimento foi colocado de lado.

Agora, é correr atrás do prejuízo, em quadro de profundas mudanças internacionais. Acabou a época das cadeias produtivas verticalizadas - montadora e fornecedores instalados em locais próximos. Cada vez mais, o modelo industrial terá que se adaptar ao novo quadro, em que empresas dependerão das importações para poderem exportar.

Ocorre que a perda de dinamismo das exportações brasileiras tornou-se obstáculo enorme. No seu tempo de czar da economia, procedeu-se a uma desvalorização cambial e, em seguida, a uma regra cambial absolutamente previsível - minirreajustes semanais equivalentes à diferença entre a inflação brasileira e a norte-americana.

Foi esse binômio - câmbio depreciado e estável - que permitiu, em poucos anos, o planejamento e a explosão das exportações brasileiras, que saltaram de US$ 1 bilhão para US$ 6 bilhões/ano [na época de Delfim no MF], deixando de depender definitivamente das vendas de café.

Delfim julga que, depois do longo período sem foco no desenvolvimento, o país acordou definitivamente para o tema. O desafio consistirá em persistir no caminho.

O desenvolvimento passa por taxa de câmbio favorável e taxa de juros que não pode ser muito superior a 2% ao ano, diz ele.

O médio prazo está garantido pelo pré-sal, que elimina as duas restrições históricas ao desenvolvimento brasileiro: energia (petróleo importado) e contas externas.

Mas há que se cuidar para não transformar o país em economia cartelizada. Para isso, é fundamental revisão do papel do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).”

FONTE: portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-brasil-segundo-delfim) [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

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