Por Fernando
Brito
“Espera-se algo, ainda, sobre essa
onda de manifestações que, agora tiveram seu objetivo central – e justíssimo – atingido: baixar o preço
das passagens dos transportes, ao menos no Rio e em São Paulo.
Era esse o liame que a unia à grande
maioria do povo brasileiro, que sofre com a má qualidade dos transportes e com
seu custo absurdo para quem tem salários baixos e depende deles.
Mas é evidente que o movimento não
tem apenas essas razões. Tem outras, boas e más.
Verdade que há gente que, com
sinceridade, tem os difusos desejos de mais e melhores Saúde e Educação.
Mas só um tolo não veria como são
instrumentalizados pelos que sempre trabalharam por um sistema econômico que
negou, por séculos, Saúde e Educação ao povo brasileiro.
O grupo de pessoas que segurava
cartazes recém-saídos de impressoras, quinta-feira, durante a transmissão do
jogo entre Brasil e México, estava numa atitude legítima, mesmo que, pagando
aquele ingresso, provavelmente não dependa de escola ou de hospital públicos.
Que seja generosidade, ótimo.
A atitude da “Globo” de,
insistentemente, fechar a imagem naquelas pessoas e tentar transformá-las em
multidão, porém, não tem nada de generoso.
Assim como a atitude de incitação da
emissora quando – mesmo depois do aumento
das passagens ser revogado – tentou-se parar a Ponte Rio-Niterói e
submeteu-se ao inferno dezenas ou centenas de milhares de pessoas que voltavam
para casa, inclusive e principalmente, nos ônibus sobre cujos preços se
protestava, forçados a caminhar a pé para, quilômetros adiante, tentar
encontrar outro coletivo que as levassem para a distante periferia.
Participei de dezenas de
manifestações, como a geração depois de mim participou nos “cara-pintada” e
jamais nos ocorreu agredir dessa maneira as pessoas que, afinal, eram aquelas
por quem lutávamos. Muito menos nos ocorreu justificar saques, depredações,
agressões. Ninguém mais que nós enfrentava os provocadores e aproveitadores.
Não se vai parar esta onda se não
dissermos claramente que todos devemos respeitar as regras mínimas de
convivência, porque, ao lado do direito de protestar, também o respeito à
coletividade é regra básica da democracia.
Ninguém é tão jovem que não possa
expor seu pensamento de forma articulada e dialogar.
E temos, nós, o dever também de
expor os nossos e deixar claro que uma ordem democrática implica um máximo de
liberdade e um mínimo de ordem. Mas não a desordem gratuita, a agressão ao
direito dos outros, a depredação e a violência.
Assim como o rebaixamento do valor
das tarifas só aconteceu porque houve, por parte de Dilma e Lula, a articulação
e a sensibilização de prefeitos e governadores, o restabelecimento da
normalidade da vida urbana também depende de uma ação centralizada.
É preciso se dirigir ao povo e dizer
as coisas de maneira clara e compreensível.
Se não o fizermos, deixaremos que a
mídia – cujos propósitos são mais do que
sabidos – continue a insuflar ações que, está claro, tem razões políticas e
eleitorais, quando não golpistas.
Democracia é agir às claras, com
transparência e, sobretudo, fazendo que o sentimento popular seja o centro de
nossas ações.
Baixar a passagem era uma necessidade.
Baixar a temperatura chamando pelo julgamento lúcido e sereno da população é o
melhor antídoto. Não contra as ruas, mas contra os que, ocultos, se servem
delas.”
FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com.br/index.php/hora-de-falar-e-com-clareza/).
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