Por Letícia Ortiz, 20 anos, universitária, no
“Escrivinhador”
“Os R$ 0,20 foram a gota d’água. O copo e a nossa
paciência transbordaram. As reivindicações se nacionalizaram, se
internacionalizaram, tomaram conta das ruas, das redes sociais, dos jornais (mesmo a contragosto de alguns), do
congresso, das conversas…
A maioria são jovens, estudantes, pacíficos. Isso
já foi constatado. No entanto, a nós se juntam muitos outros. Isso também já
foi constatado.
[OBS deste blog 'democracia&política': em quase todos os protestos, vimos que esses "outros", inicialmente, se dissimulam de também jovens "idealistas", "puros", ingênuos", "democratas", "pacíficos". Mas, quando a passeata chega nos pontos "estratégicos", tiram essas fantasias, quebram o compromisso com o espírito justo do MPL, e se transformam em centenas de enfurecidos vândalos, agressores, depredadores de patrimônio público e privado, saqueadores e ladrões de lojas e agências bancárias. A mídia e a oposição se locupletam, se inebriam com ambas as situações (a pacífica e a de destruição). Até as incentivam e ajudam, avisando a população dos pontos de concentração para as passeatas. Por interesse, inventam objetivos falsos nas manifestações: "contra a PEC 37", "contra a regulação da mídia", "contra a corrupção" (somente a do PT, óbvio). Dolosa e espertamente, vislumbram que, com esses movimentos de massa, se abre um caminho (que não teriam pelo voto) para a volta ao poder da direita internacional, que aqui tanto usufruiu nos tempos de seus instrumentos nacionais FHC/PSDB/DEM/PPS, trágicos para o povo brasileiro].
As dúvidas agora são sobre as nossas causas, nossas
bandeiras, nosso rumo. Talvez não tenhamos essas respostas agora, mas estamos
nos mobilizando.
Nossas causas são diversas porque tem muito a ser
construído. Queremos fazer política, mas não temos partido porque desde muito
ninguém nos representa, ninguém conseguiu compreender e atender às demandas de
uma sociedade em transformação. Não há um partido com a nossa cara. Os que um
dia foram, sentimos que perderam sua essência; os que podem ser, não são ainda.
O Brasil nunca foi melhor do que é hoje, mas está
longe, muito longe do que queremos que ele seja, do que sabemos que ele pode
ser.
E estamos nos mobilizando. Não de agora. O
movimento pelas causas homossexuais está aí na luta já há algum tempo batendo
de frente com ‘Marcos Felicianos’ e uma ala conversadora que parece não admitir
que a sociedade se transforma e a lei tem que a acompanhar (ao invés de tentar encaixar a sociedade à
força em uma lei sem conformidade com a vida social). O movimento pelos
direitos das mulheres também está na luta, exasperado com absurdos como o “Estatuto do Nascituro”. As
reivindicações por qualidade e acessibilidade aos transportes públicos são
históricas. A população sempre clama por segurança, educação e saúde e a
evidência disso é que as campanhas eleitorais sempre se focam nesses temas. Os
movimentos por sustentabilidade e proteção ao meio ambiente também já estavam
aí, assim como aqueles que querem proteger os animais. O movimento negro nunca
saiu de pauta. Corrupção? Eu ainda lembro do “Dia do Basta”, protestos contra a
corrupção que aconteceram ano passado em 42 cidades brasileiras e muitos
outros.
O que acontece agora é que nos unimos. A gota
d’água serviu de pretexto, de ponto de partida. A época (paralelamente aos eventos internacionais) serviu como fator de
pressão.
Muitos de nós já tínhamos acordado. Agora só
conseguimos mais força, mais visibilidade, mais apoio, mais coragem, mais
união.
Temos causas. Temos objetivos. Nosso objetivo é
representatividade. É a defesa das minorias. É sermos escutados. É vermos as
melhorias REAIS (não promessas) na educação e na saúde. É podermos sair nas
ruas sem medo. É poder confiar que as autoridades, que os nossos eleitos,
cumpriram seu papel. Que não morreremos em boates por negligência e falta de
fiscalização. É garantir que as pessoas tenham condições de ir e vir para o
trabalho, para a escola, para a faculdade. Que a polícia cumpra seu papel
social e não nos oprima. Enfim, como eu disse, temos causas, sim muitas, mas
isso é porque tem muita coisa errada.
A maioria de nós não é contra o sistema. Só queremos
que o sistema seja um reflexo da realidade do país e pare de tentar barrar a
evolução social (vide Feliciano, bancada
conservadora, Estatuto do Nascituro, PEC 37, …)e aja no sentido de
melhorá-la.
Prefiro acreditar que, dessa vez, haverá mudança,
para melhor, e não retrocesso. Prefiro acreditar que temos esse poder de mudar
as coisas.
Para onde vamos? Em frente.”
FONTE: escrito por Letícia Ortiz, 20 anos, universitária,
no blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/a-gota-dagua.html#more-19954). [Imagem do google e trecho entre colchetes em azul adicionados por este blog 'democracia&política'].
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