Os
protestos pegaram o mundo político de calças curtas. Comecemos pela oposição.
Por Paulo Moreira Leite*, em seu blog
Por Paulo Moreira Leite*, em seu blog
Depois de passar a última década procurando convencer a população a sair às ruas com base num moralismo falso e seletivo, a oposição reagiu de acordo com o reflexo condicionado do conservadorismo brasileiro.
Sua primeira atitude foi clássica: dar porrada nos protestos e na mobilização popular. Tratou todo mundo como baderneiro e aplaudiu balas de borracha. No momento mais difícil, vangloriou-se do que fazia.
Ao perceber que os “vândalos” e “baderneiros” poderiam ter uma função útil caso fossem instrumentalizados para combater o governo Dilma, a oposição procura promover uma transmutação política.
Quer entrar no vácuo da luta contra os 0,20 centavos e encontrar novos aliados em sua guerra eleitoral para 2014.
É por isso que muitos observadores e comentaristas insistem em dizer que a luta envolve “bandeiras maiores e mais amplas”. Receosos de entrar num terreno perigoso, o das reivindicações populares, a tática é criar um guarda-chuva ideológico.
Tenta-se diluir um compromisso que interessa à maioria da população, para criar um atalho para 2014.
Vamos combinar.
Para quem perdeu três eleições presidenciais desde 2002 e arranca os cabelos diante das pesquisas eleitorais disponíveis para 2014, até uma insólita aproximação com o anarquismo e práticas autonomistas se tornou uma esperança.
E se, pelo menos, uma fatia dessa juventude resolver engrossar o bloco de oposição no ano que vem?
É esse o exercício que o conservadorismo brasileiro decidiu experimentar.
Resta saber se será bem-sucedido nesse canto de sereia – ou não.
Em vez de seguir o tratamento de “vândalos” pré-criminosos, eles foram repaginados, tomaram um banho de butique ideológica e agora são apresentados com bons moços, herdeiros das melhores lutas políticas de um país onde, mais uma vez, se diz que “tudo” precisa mudar.
(Na real, esse “tudo” [para a direita] consiste em revogar as principais conquistas sociais instituídas de 2003 para cá e dar um jeito de tirar essa discussão sobre tarifa de ônibus da frente...)
Mas a mobilização também pegou o PT e seus aliados no contrapé.
Os protestos revelaram a distância entre um partido que tem um histórico na melhoria do transporte público, a começar pela criação do Bilhete Único, e os militantes independentes que há anos se dedicam a esse combate, preferindo seguir uma direção própria, com métodos próprios de organização e reivindicação.
Há anos que o MPL denuncia o preço das passagens nas principais capitais do país. A história lhe deu razão.
Centro das manifestações em função de um aumento de 0,20 centavos, a prefeitura de São Paulo perdeu uma ótima oportunidade para negociar.
Durante três dias, Fernando Haddad fez companhia a Geraldo Alckmin, o governador que tem imposto um ambiente de Estado Policial a São Paulo toda vez que é colocado diante de mobilizações de caráter político.
Não vamos esquecer. Nesse período foram feitas dezenas de prisões arbitrárias e vários militantes foram enquadrados em crimes absurdos e inaceitáveis para quem exerce o direito legítimo de defender seus direitos – como formação de quadrilha.
Nesse jogo delicado, incerto, pode-se resolver um trunfo importante da campanha de 2014.
Todos estarão atentos e cada movimento pode ser decisivo.
Ninguém é bobo embora muita gente goste de se fazer de ingênuo.”
FONTE: escrito por *Paulo Moreira Leite, diretor da ISTOÉ em Brasília. É autor dos livros “A Mulher que era o General da Casa” e “O Outro Lado do Mensalão.”. Artigo publicado no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=216534&id_secao=1) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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