Por Eduardo Guimarães
“Após o processo desgastante das
últimas semanas, a vontade era de escrever um texto pregando o apaziguamento
dos ânimos, sobretudo após a onda de quase linchamentos contra o Partido dos
Trabalhadores que eclodiu no seio das manifestações por todo o país, com
agressão de militantes do partido e queima de seus símbolos em praça pública.
Infelizmente, não é possível.
Durante esse processo nefasto que se abateu sobre o país, este blogueiro se
impôs uma missão: dizer o que precisava
ser dito e que ninguém que tem um pouco menos de invisibilidade estava disposto
a dizer. E não abandonar o contingente de pessoas que discorda dessa farsa
que embriagou a nação e que, agora, a deixou de ressaca.
Quando vi os líderes do Movimento
Passe Livre no Jornal Nacional dizendo que a causa da tragédia que
desencadearam no país sempre foi a redução das tarifas, que a PEC 37 e mais um
monte de “causas” que anunciaram nunca foram seu objetivo e que, uma vez
alcançado esse objetivo, não havia mais por que convocar manifestações, tive
certeza da falta de seriedade deles.
Durante as duas semanas sombrias em
que, ao menos por omissão, esse grupo espalhou medo, sofrimento, ódio,
destruição, violência e mortes, ele repetiu à exaustão que “Não é por R$ 0,20”. Os mesmos líderes
que agora dizem que tudo foi, sim, por vinte centavos, apresentaram antes uma
extensa pauta de reivindicações que os manteria na rua por muito tempo.
Tanto é que o tal movimento indicava
continuidade das manifestações mesmo após a redução das tarifas em São Paulo e
no Rio de Janeiro que aquela mocinha que tem aparecido mais na mídia falando em
seu nome afirmou, em entrevistas televisionadas, que a mobilização de rua
continuaria por várias razões, entre as quais impedir que os militantes que
foram presos fossem processados criminalmente.
O terror que eclodiu pelo país entre
o fim da noite de quinta-feira (20) e a madrugada de sexta (21), porém, parece
ter assustado as lideranças, que recuaram do mote “Não é por R$ 0,20” e que,
agora, anunciavam que não convocariam mais novas manifestações.
Porém, a falta de rumo e de
seriedade dessa meninada se faz notar de novo. Confira logo abaixo, leitor,
trecho de matéria de capa da “Folha de São Paulo” de sábado, 22 de junho, em
que o tal MPL recua do recuo:
“O
MPL (Movimento Passe Livre) anunciou na manhã de ontem a suspensão, por tempo
indeterminado, de novos atos na cidade de São Paulo depois da proliferação de
protestos violentos pelo país. No final da noite, entretanto, o movimento
recuou e divulgou nota afirmando que os atos vão continuar na cidade”
Essa molecagem (no sentido estrito
da palavra) já causou uma [verdadeira] tragédia no país. Uma tragédia ampla.
O saldo parcial de tudo isso são 137
feridos, 3 deles em estado grave, duas mortes, prejuízos –só ao comércio, pois ao patrimônio público ainda não foi mensurado
– que já somam meio bilhão de reais (segundo a “Globo News”), disparada do
dólar, queda das bolsas e um clima de incerteza no país que por certo afetará
os investimentos, que estavam em alta.
Isso sem falar na imagem
internacional do Brasil, que, antes positiva, transformou-se em péssima.
O pior mesmo, porém, parece ser o
nível de insensibilidade que domina hoje a sociedade brasileira. É assustador.
Os telejornais se estenderam muito
além da duração normal nesses últimos dias, gastando tempo sem fim para afirmar
que foi um “grupo pequeno” que causou tudo isso que vai expresso no parágrafo
anterior. Obviamente, que satisfeitíssimos pela possibilidade de desgastarem o
governo ao qual se opõem, esses noticiários exaltaram a tragédia até perderem o
fôlego.
Nenhum veículo, porém, gastou mais
do que alguns segundos com as duas vítimas fatais desse processo.
Marcos Delefrate, manifestante do
Movimento Passe Livre, de 18 anos, morreu por atropelamento durante protesto em
Ribeirão Preto (SP). Contudo, morreu por ter se arriscado a participar de
protestos que todos sabiam que poderiam descambar para a violência. Fez uma
escolha e pagou por ela.
Pior, porém, foi Cleonice Vieira de
Moraes, gari, de 54 anos, que morreu em Belém (PA) após ter inalado gás
lacrimogêneo lançado pela Polícia Militar. Cleonice trabalhava na limpeza
noturna da prefeitura da cidade, que foi atacada por manifestantes. A polícia
explodiu bombas de gás para dispersá-los, ela inalou, passou mal e teve uma
parada cardíaca.
Essas baixas trágicas se tornaram
apenas “efeitos colaterais” de um processo insano, sem rumo, sem causa
específica. Mortes, ferimentos graves que resultaram até em mutilações
horrorosas não interessam a ninguém. Cleonice e Marcos viraram números frios.
Em que esta sociedade se converteu?
Enfim, viramos robôs. Máquinas desprovidas de sentimentos, de civilidade, de
qualquer traço de humanidade.
Nesse aspecto, a foto que encima
este texto comprova isso. O caos em que se converteram as urbes brasileiras
virou uma imensa “balada” para a qual hordas de jovens de classe média
combinavam de ir através de troca de torpedos entre seus Iphones de última
geração.
O casal que se deixa fotografar em
meio à barbárie parece estar se divertindo muito, enquanto a maioria silenciosa
e trabalhadora amargava nos pontos de ônibus, sabendo que chegaria em casa
quase na hora de retornar ao trabalho.
Porém, a oportuna pesquisa que o
instituto Datafolha realizou entre os manifestantes sobre intenção de voto para
presidente da República e que deixou Dilma Rousseff em terceiro lugar e o
presidente do STF, Joaquim Barbosa, disparado na frente, em primeiro, mostra
que esse movimento que convulsionou e pisoteou o país não representa a grande
maioria da sociedade.
Segundo a pesquisa, o perfil dos
manifestantes mostra que a maioria é composta por homens (61%) e tem nível
superior (78%). Precisa dizer mais alguma coisa?
Na opinião deste Blog, militantes da
oposição à direita e à esquerda do governo Dilma Rousseff estão comemorando
cedo demais. Pode ter havido algum prejuízo à imagem da presidente? Talvez,
mas, possivelmente, muito pequeno. E, se bobear, em vez de prejuízo pode até ter
havido ganho após o excelente pronunciamento dela na sexta-feira.
Pouca gente tem coragem de dizer,
mas minha percepção – igual à que tinha
quando escrevi que esse movimento iria levar à tragédia a que levou – é a
de que a maioria silenciosa, que amargou duas semanas de sofrimento passando as
noites se escondendo dos manifestantes em vez de ir pra casa descansar após a
jornada de trabalho, está farta desse circo.”
FONTE:
escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/06/o-saldo-tragico-dos-protestos/).
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