Análise COMDEFESA sobre o Orçamento Nacional e o investimento em Defesa
“Por ser um mercado altamente restrito devido às suas especificidades, a maioria dos países
desenvolve políticas de fomento industrial e tecnológico voltadas
exclusivamente à indústria de defesa, uma vez que o interesse em estruturar e
manter a indústria forte envolve desde questões técnicas, econômicas até
geopolíticas. A questão orçamentária caminha de forma a viabilizar tais ações.
Por essa razão, é importante analisar como o Brasil se insere nesse contexto e
quais são as principais ações definidas para a condução desse setor no País.
Quando analisada no contexto de paz, a Indústria Nacional de Defesa tende a ser deficitária. Mas, como o Estado precisa manter-se permanentemente atento às situações que modificam essa normalidade, a indústria de defesa deve funcionar com capacidade plena a atender tal chamado, se necessário. Ao mesmo tempo, a indústria contribui fortemente com o processo de desenvolvimento do País. O seu principal desafio na atualidade é tornar-se economicamente competitiva, sem desvincular-se das demandas do Estado, seu único cliente.
A baixa intensidade tecnológica nas exportações brasileiras traz preocupações quanto ao desempenho futuro da economia nacional. Especialistas avaliam a situação como causa de um possível período de desindustrialização nacional.
Em 2012, a indústria de baixa tecnologia foi responsável por 38,7% das exportações brasileiras. No mesmo período, a indústria de alta tecnologia representou apenas 6,7%. A história já demonstrou que o setor de defesa é alternativa valiosa para reverter essa tendência, pois além de ser estratégico, possui a capacidade de gerar tecnologias de ponta cujos processos e conhecimentos induzem ao desenvolvimento de outros segmentos de produção. Alguns entraves, entretanto, ainda impedem a indústria brasileira de defesa a se consolidar plenamente.
O Brasil é o 5º maior país do mundo em dimensão territorial. Possui riquezas naturais valiosas, como a camada do pré-sal, água doce em abundância, biodiversidade privilegiada, além de outros elementos que colocam o País no olho do mundo. Mas, sabe-se que o Brasil não está preparado adequadamente para se proteger de ameaças e agressões externas. Portanto, é preciso reavaliar a classificação pacífica que lhe é atribuída.
Por si só, tal interpretação remete à uma Nação desprotegida, quando qualquer país deve ter indústria de defesa preparada de forma a atender às necessidades mais estratégicas de soberania nacional.
Quanto aos entraves que impedem o estabelecimento da indústria de defesa nacional, a figura do orçamento público tem posição de destaque. O setor produtivo precisa estar preparado, ser autossustentável e trabalhar em conformidade com a capacidade econômica do País e seus objetivos políticos. Mas isso só é possível se, paralelamente, caminhar com paridade orçamentária e de investimentos.
Na remoção dos entraves, duas questões são emblemáticas do setor de defesa nacional:
I. DIFICULDADE EM OBTER INVESTIMENTOS:
A dificuldade de obter apoio e respaldo necessários ao desenvolvimento de pesquisas e projetos, sendo uma das maiores dificuldades a garantia ao financiamento, visto que não há contrapartida em garantia de compras, o que coloca em risco a conclusão dos projetos e traz prejuízos irreversíveis à indústria.
II. DESCOMPASSO ORÇAMENTÁRIO:
De forma geral, impede o planejamento estratégico adequado, tanto do próprio Governo, quanto das indústrias, causando a dependência internacional e a impossibilidade de autonomia tecnológica do País.
As duas questões se fundem no momento em que não há o devido orçamento definido, tampouco são definidos de antemão os períodos e a constância das compras por parte do Governo.
Consequentemente, a indústria não pode ser acionada como deveria, uma vez que não está preparada para suprir a necessidade imediata. Passa, então, a ser extremamente improvável a conquista do padrão de excelência que dela se espera, visto que não há mobilização de forma adequada nesse sentido, situação que se tornou um círculo vicioso no Brasil.
A falta de orçamento adequado para o setor de defesa, além de prejudicar o desenvolvimento e conclusão dos projetos, atrasa-o na corrida pela geração de conhecimento.
Recentemente, foi anunciada a Execução Orçamentária da União para 2013 e, novamente, o setor sofreu contingenciamento expressivo.
No momento em que o Brasil precisa de proteção e preparo – em razão do início da exploração do pré-sal, dentre outros fatores relevantes – o orçamento destinado ao setor de defesa permanece sofrendo cortes em custeio e investimentos, justamente na fatia onde são alocados os projetos de tecnologias críticas.
Com os cortes anuais, a tentativa de maior investimento no setor é constantemente descontinuada, aumentando a situação de sucateamento das Forças Armadas e tornando cada vez mais distante o objetivo de capacitar a defesa nacional para que ela tenha mínima representatividade militar internacional.
Além disso, o orçamento de defesa possui um grave e histórico problema que já é de conhecimento geral e trata-se de uma questão de difícil resolução. Atualmente, mais de 70% do orçamento é destinado ao
pagamento de pessoal.
ORÇAMENTO DO MINISTÉRIO DA
DEFESA
|
|||
Distribuição por Grupo de
Despesa
(R$ milhões) |
|||
GRUPO
|
PLOA 2013
|
%
|
|
Pessoal
|
46.331,40
|
70,3
|
|
Custeio
|
9.113,30
|
13,8
|
|
Investimento
|
8.072,10
|
12,3
|
|
Dívida
|
2.345,20
|
3,5
|
|
Subtotal
|
65.862,00
|
100
|
|
PAC
|
0,00
|
||
Reserva
|
506,70
|
||
TOTAL
|
66.368,70
|
||
Fonte SEORI / MD
Em 2010, as despesas com pessoal representaram 73% do orçamento total. Desse montante, cerca de 27% correspondiam ao pessoal da ativa. O restante (45%) foram despesas com aposentadorias e pensões.
Em 2010, as despesas com pessoal representaram 73% do orçamento total. Desse montante, cerca de 27% correspondiam ao pessoal da ativa. O restante (45%) foram despesas com aposentadorias e pensões.
Analisando a evolução do orçamento de defesa no período 2001–2011, apenas nos grupos de despesas “Pessoal” e “Custeio e Investimento” é possível observar que os dispêndios com pessoal tiveram crescimento significativo médio anual acima de R$ 2,5 bilhões, enquanto custeio e investimento representaram a média de crescimento anual de R$ 966 milhões.
MINISTÉRIO DA DEFESA
|
|||||
Execução Orçamentária de
2001 a 2011
(R$ milhões) |
|||||
Ano
|
Grupo de Despesa
|
||||
Pessoal
|
Custeio
|
Investimento
|
|||
2001
|
18.725.111
|
3.054.395
|
1.958.238
|
||
2002
|
21.333.991
|
2.705.811
|
1.694.117
|
||
2003
|
21.111.537
|
2.851.624
|
884.364
|
||
2004
|
22.612.418
|
3.597.307
|
1.568.560
|
||
2005
|
24.856.832
|
4.612.919
|
1.579.830
|
||
2006
|
28.531.150
|
4.328.010
|
1.773.718
|
||
2007
|
30.773.378
|
5.414.778
|
2.679.718
|
||
2008
|
35.433.360
|
5.722.474
|
3.414.057
|
||
2009
|
39.559.359
|
6.415.764
|
4.805.766
|
||
2010
|
43.861.315
|
7.454.517
|
8.249.478
|
||
2011
|
46.522.015
|
8.142.696
|
6.530.781
|
||
É certo que, anualmente, o orçamento destinado ao setor de defesa tem aumentado. Mas, com relação à arrecadação do País e ao PIB – que representa média de 1 a 2% menor que países como Rússia, Índia e China – tem diminuído, sobretudo se analisado o montante destinado ao investimento no setor.
INVESTIMENTO EM DEFESA
POR PORCENTAGEM DO PIB |
|||||||
País
|
%
|
||||||
2009
|
2010
|
2011
|
2012
|
||||
Rússia
|
4,6
|
4,3
|
4,1
|
4,4
|
|||
Índia
|
2,9
|
2,7
|
2,6
|
2,5
|
|||
China
|
2,2
|
2,1
|
2
|
2
|
|||
Brasil
|
1,6
|
1,6
|
1,5
|
1,5
|
|||
Comparando a evolução do orçamento no mesmo período (2001 – 2011) com relação ao crescimento do PIB nacional, nota-se que, ao longo dos últimos 10 anos, o setor não obteve aumento significativo no orçamento, que representou, em 2001, 2,0% do PIB, caindo para 1,9% em 2002 e mantendo-se na média de 1,5% nos últimos anos.
Por esse motivo, o setor de defesa no Brasil pleiteia hoje a reavaliação desse cenário, de forma a garantir os dispêndios necessários aos projetos tecnológicos, eliminando assim a primeira grande barreira que contribui para o deficitário orçamento de defesa nacional.
A aprovação da Estratégia Nacional de Defesa (END, 2008), acompanhada de seus eixos estruturantes: reorganização das Forças Armadas, reestruturação da indústria brasileira de material de defesa, e política de composição dos efetivos das Forças Armadas, fez com que a leitura do cenário para o setor a médio e longo prazo fosse otimista por parte da indústria. Esse mesmo documento enfatiza que cabe ao Estado algumas responsabilidades para que seja possível realizar as tarefas acima, tais como:
I. Dar prioridade ao desenvolvimento de capacitações tecnológicas independentes;
II. Apoiar a conquista de clientela estrangeira;
III. Buscar parcerias com outros países com o objetivo de desenvolver a capacitação tecnológica nacional;
IV. Desenvolver os setores espacial, cibernético e nuclear;
V. Estabelecer regime legal, regulatório e tributário especial.
Algumas dessas medidas saíram do papel, como a aprovação da Lei nº 12.598 que estabelece um marco regulatório para a defesa, ao criar uma política de compras que permite ao Governo escolher, trabalhar e desenvolver seus projetos junto à indústria nacional. O documento define também os produtos e as empresas estratégicas. A aprovação da Lei é um avanço no tocante à defesa no Brasil.
A indústria aguarda ainda a regulamentação do “Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa” (RETID) que traz a repercussão econômica da Lei 12.598, pois estabelece incentivos ficais para a cadeia produtiva.
Com as recentes conquistas alcançadas pelo setor, o momento é favorável para que se repense o sistema e sejam aprimorados os processos avaliados como inadequados, como é o caso da porcentagem do PIB destinada à defesa.
Essas mudanças já estão sendo trabalhadas pelo Ministério da Defesa e precisam do apoio da base industrial, pois o atual orçamento, além de não atender aos projetos contemplados na “Estratégia Nacional de Defesa”, não faz jus à posição que o Brasil ocupa atualmente no cenário mundial.
NOTAS
1 - O valor constante no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA 2013) destinado ao Ministério da Defesa é de R$ 66,4 bilhões.
2 – Ver The Military Balance, 2012 (pág. 368) e http://www.defesa.gov.br/projetosweb/estrategia/arquivos/estrategia_defesa_nacional_portugues.pdf
3 - A Lei nº 12.598 estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa; dispõe sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa; altera a Lei no 12.249, de 11 de junho de 2010; e dá outras providências.
4 - O Decreto 7.970 de 28 de março de 2013 regulamenta a Lei 12.598.
FONTE: site “DefesaNet” (http://www.defesanet.com.br/bid/noticia/11296/COMDEFESA----O-Investimento-na-DEFESA-NACIONAL/). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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