É HORA DE
DEFENDER O MPL
Por
Lincoln Secco e Antonio David, especial para o portal “Viomundo”
“Em célebre imagem do ‘Manifesto Comunista’, Karl Marx mostra
um feiticeiro que perdeu o controle dos poderes subterrâneos que ele mesmo
despertou. As manifestações de segunda-feira (17) foram o ponto de virada do “Movimento Passe Livre” (MPL).
Quando o
movimento se massificou, isto não aconteceu sob a bandeira do MPL, mas
depois de convocação de parte da grande imprensa. Sendo assim, as justas
demandas iniciais se juntaram a manifestações de direita. O que explica a
metamorfose?
Em primeiro lugar, lembremos que esse
movimento atual é seguramente importante e de massas, mas muito
menor do que outros passados. Basta pensar nas “Diretas Já” que
colocavam milhões nas ruas numa era sem redes sociais. [O MPL] Mais fraco e sem
uma direção tradicional, tem que aprender no calor da luta a recuar para
avançar depois.
O segundo aspecto do momento
atual reside no fato de que, antes, as pessoas comuns iam às ruas depois de
ouvirem o chamado que passava pela palavra impressa e esta dependia de
organizações previamente estabelecidas que podiam arcar com custos de edição de
revistas, jornais etc. As redes sociais permitem que indivíduos falem
diretamente entre si sem a mediação de organizações, salvo o mercado virtual.
Pessoas
assim podem partir para a ação e expor ingenuamente os seus preconceitos e sua
“coragem” (sic) escondida no anonimato da rede.
O terceiro aspecto que merece
consideração é que a grande imprensa televisionada continua muito importante e,
ao mesmo tempo, totalmente fora de controle democrático. Na Venezuela, Chavez
enfrentou manifestações e tentativas de golpe, ao reduzir o papel da televisão.
Organizações
na forma de “rede” existem desde que Marx criou seu círculo de correspondência
londrina, ou antes. Decerto, os meios atuais potencializam infinitamente uma
teia assim. O que o MPL pode aprender com seu magnífico movimento inicial é que
organizações horizontais não deixam de ter pessoas provisoriamente na
liderança. Mas os líderes devem obedecer às bases e podem ser trocados. E as
bases não são as pessoas nas ruas simplesmente, mas aquelas que comprovam real
participação nas tarefas decididas. O MPL tem sim o direito de vetar atos que
os seus membros orgânicos não decidiram previamente.
Para os
partidos, está dado o recado: está
havendo um ensaio de algo diferente que poderá suscitar organizações de tipo
novo à direita e à esquerda, assim como existem partidos verticais de direita e
de esquerda. A juventude deve invocar o tumulto. É seu direito. É seu
dever. Depois, estudar, estudar e estudar. Só assim se aprende. Primeiro, nas
ruas; depois, se reorganizando. Não tenham medo. Continuem na luta. Mas saibam
mudar a tática e desarmar o adversário. Ele tem nome: os fascistas que o discurso de direita disfarçado de “combate à
corrupção” despejou nas ruas.
É
possível que passeatas atrás de carros de som e líderes rotativos do próprio
MPL no comando sejam a solução imediata que sindicatos mais à esquerda podem
emprestar ao movimento, pois as atuais manifestações carecem deste elemento
básico: o direcionamento conferido por
quem fala mais alto.
Mas
a saída estratégica passa por São Paulo e pela prefeitura. O MPL não quer
e nem poderia influenciar o quadro eleitoral que ainda está distante. Mas
precisa de uma saída digna para eliminar a gordura indesejada do movimento.
A saída é o prefeito quem deve oferecer: baixar a tarifa [como fez] e abrir um diálogo permanente sobre
mudanças estruturais nos transportes.”
FONTE:
escrito por Lincoln Secco e Antonio David, especial para o portal “Viomundo”. Lincoln
Secco é professor de História Contemporânea na USP; Antonio David é pós
graduando em Filosofia na USP. Publicado no “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/politica/secco-e-david-ao-mpl-saibam-mudar-a-tatica-e-desarmar-o-adversario.html).
[Imagem do Google e trechos entre
colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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