A QUEM INTERESSA A RADICALIZAÇÃO?
Do “Jornal do Brasil”
“Os povos do mundo inteiro estão
insatisfeitos com a falta de sentido de uma sociedade conduzida pela ganância e
pelo hedonismo. Nesse clima de angústia de muitos e da ansiedade geral, todos os
pretextos servem para a explosão das ruas: uma
árvore na Turquia e o aumento de vinte centavos nos transportes públicos no
Brasil. Convocados pela internet, os manifestantes se reúnem, aos milhares.
Cada um deles tem a sua árvore, a sua passagem de ônibus, as suas frustrações
pessoais.
Que muitos jovens, ricos ou pobres,
se deixem levar pelo entusiasmo e não controlem seus próprios impulsos, podemos
entender. Mas não se pode aceitar que a isso fossem levados pelos noticiários
de televisão, como qualquer pessoa com o mínimo de neurônios ativos podia
claramente perceber. Ou incitados por um programa de televisão, cuja
apresentadora ensinava a redigir cartazes “contra
a corrupção”. Com tais estímulos, foi impossível que os mais sensatos deles
impedissem o início de depredação do Itamaraty e o apedrejamento da Catedral de
Brasília. Fatos como esses também ocorreram em outras cidades brasileiras,
entre elas São Paulo e Rio. Só diante da força policial, parcelas enfurecidas
de manifestantes se renderam.
A quem interessa a radicalização?
Não interessa ao povo trabalhador deste país, que está conseguindo, pouco a
pouco, cobrar da sociedade o que é de seu direito: educação, respeito social e empregos. E, como é a esperança, e não
o desespero, que faz as revoluções, seria natural que o povo exigisse mais, em
busca de sua plena emancipação histórica.
Infelizmente, não é ao povo
brasileiro - a não ser pela reflexão que
elas sugerem - que esses excessos favorecem. Eles servem, na realidade, aos
seus inimigos. Aos que consideram descartáveis da sociedade nacional os que
tiveram negado o acesso à educação, e à posse daquele mínimo de bens “indispensáveis ao exercício da virtude”,
conforme Santo Tomás de Aquino. E aos que qualificam como incentivo à preguiça
a ajuda que os mais necessitados recebem do Estado, por meio do “Bolsa Família”
e do PROUNI, entre outros programas.
A radicalização serve a alguns
banqueiros insaciáveis, atingidos pela redução das taxas de juros; aos que
especulam com o preço dos cereais e promovem a sua falta no varejo; às empresas
multinacionais que se financiam no BNDES, e remetem bilhões de dólares de
lucros ao exterior, sem reinvestir o necessário para o desenvolvimento
nacional.
Ao avançar contra o Itamaraty, os
extremistas se disseram contrários ao sentimento de soberania do país; em São
Paulo, ao incendiar a bandeira nacional, e ao gritar que “o nacionalismo é imbecil”, robusteceram a suspeita de que
provocadores estrangeiros infiltraram-se no movimento.
Repetiram-se cenas conhecidas, desde
a derrubada de Mossadegh, no Irã, em 1953, e ocorridas entre nós dez anos
depois. E foram além, ao apedrejar a Catedral de Brasília. Queriam atingir
Deus, ou o arquiteto que concebeu o templo?
É notório que o governo – que nisso tem sua parcela de culpa –
está sendo acossado pelas maiores empreiteiras do país, como é o caso da “Delta”,
uma aventura insuflada pelo governo do Rio de Janeiro. E como é o de Eike
Batista, que, em pleno desmonte de seus negócios, ainda conseguiu associar-se a
outra empresa, a fim de obter a concessão do Maracanã.
Ora, daqui a um ano e meses o povo
brasileiro irá às urnas e elegerá seu novo presidente. Por que não respeitar o
sistema democrático? Os insatisfeitos com o governo poderão escolher outro.
A radicalização tem beneficiado,
como mostra a História, a direita golpista. Foi assim que, em 1963 e em 1964,
as senhoras ricas de São Paulo, bem postas em sua elegância, saíram às ruas,
insufladas por agentes estrangeiros, como o famoso padre Peyton, um sacerdote
de espetáculo, pároco de Hollywood, e a serviço da C.I.A. Elas estavam
preocupadas em preservar a família, contra os “os comunistas ateus”. O
resultado nós o conhecemos.”
Movimento de rua das senhoras da elite que plantou a ditadura, versão original do posterior demotucano "Cansei"
FONTE:
publicado no “Jornal do Brasil”
e transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/jornal-do-brasil-radicalizacao-nao-interessa-ao-trabalhador).
[Imagens do Google adicionadas por este
blog ‘democracia&política’].
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