Lançamento de coquetel Molotov
Por Fernando Brito
“Jânio de Freitas sempre foi um
oásis na grande mídia, desde quando lutávamos contra o regime militar.
Sempre foi uma voz independente
quando muitos dos hoje “indignados” bajulavam os donos do poder [da ditadura].
É, portanto, um homem a quem não
existe quem possa pretender dar lições de democracia, à direita ou à esquerda.
E, aliás, nem de ética ou de
respeito às liberdades.
Vale a pena ler seu artigo na “Folha” de domingo:
“ENTRE
BADERNA E POLÍTICA
O tipo é bem conhecido. É aquele que
anda em bandos para criar brigas ferozes, não raro mortais, a caminho dos
estádios e depois nas arquibancadas. E arma brigas nas casas noturnas da
pesada. E agride gays e, sempre em bando, destrói partes de ônibus e de metrô,
arrebenta nas ruas o que puder. A indumentária de todos é igual, o aspecto de
suor e sujeira é igual em todos, a linguagem comum a todos é um dialeto da
pobreza mental. São os exemplares mais completos da falta de civilidade.
Esses são aos autores dos ataques, a
prédios oficiais e outros alvos, que se diz decorrerem da “insatisfação
generalizada” da população. E exprimirem o repúdio geral aos políticos, aos
partidos e aos governos.
Uma semana antes de a sociedade
aproveitar a rejeição das novas passagens para mostrar sua “insatisfação
generalizada”, o “Datafolha” mostrava Dilma Rousseff capaz de vencer no
primeiro turno qualquer combinação de adversários, apesar da perda de oito
pontos em sua aprovação. Na véspera daquela manifestação, o IBOPE constatava o
mesmo, com igual perda, mas com maior aprovação.
Que uma das pesquisas errasse, seria
admissível. Não as duas, com indicações tão equivalentes e diferenças cabíveis
nas margens de erro. Nelas, não aparece a “insatisfação generalizada”, mas
cabem ainda os efeitos do “Bolsa Família”, dos ganhos do salário mínimo, do
desemprego em um dos níveis mais baixos do mundo (os Estados Unidos comemoram
seus 7,6%, aqui é de 5,8% e estabilizado), ganho real na massa de salários, e
outros fatores que fazem uma reviravolta de melhorias em dezenas de milhões de
famílias.
A ideia de “insatisfação
generalizada” facilitou aos que, perplexos com a grandiosidade das
manifestações, ainda assim precisavam dar pretensas explicações dos fatos.
“Análises”, dizem. Mas quais são as indicações convincentes de tamanha e tão
disseminada insatisfação, isso não foi sequer sugerido.
A ser sugestiva de alguma coisa, a
variedade temática dos cartazes (relativamente pouco numerosos) talvez confirme
a regra de que não há, em lugar algum do mundo, classe social que não tenha do
que se queixar ou reivindicar. E aqui temos de sobra, não é o caso de desprezar
a oportunidade oferecida por uma iniciativa simpática e sem atrelamento
partidário.
Generalizante, entre nós, com toda a
certeza, é a repulsa aos congressistas. Mas nem isso faz o ataque ao Congresso
ter mais do que as características, todas, de mera arruaça. Se a baderna dos
delinquentes tivesse sentido político, haveria razões políticas, por exemplo,
para o seu ataque ao Ministério de Relações Exteriores. E não consta que alguém
fizesse o prodígio de encontrar alguma, uma que fosse.
O mesmo se pode dizer da depredação,
no Rio, do sambódromo e do Terreirão do Samba, de quase cem luminosos de
trânsito, carros particulares. Atos semelhantes em tantas cidades, e, em São
Paulo, os saques a que os meios de comunicação preferiram não dar a devida
atenção, exceto a TV Bandeirantes e, em parte, a TV Record. Saquear toda uma
joalheria de bom tamanho, a ponto de não deixar nem uma só peça, nem é mais
baderna desatinada.
A propósito, deve-se às PMs do Rio,
de São Paulo e de Brasília que não ocorresse o inimaginável na noite bárbara de
quinta-feira. As três, apesar de bastante agredidas, foram capazes de manter o
autocontrole, com erros apenas individuais e que não diminuem o mérito.
Em outro plano, mas na mesma linha
de maturidade e bom senso, foi a aliança decisória do governador Geraldo
Alckmin e do prefeito Fernando Haddad. Estão sendo capazes da rara grandeza de
situar-se acima do interesse político e partidário. O oposto do oportunismo
barato de Rui Falcão, presidente do PT, ao conclamar à provocadora
partidarização petista da passeata apartidária.
A atribuição desmedida de caráter
político às passeatas, feita nos meios de comunicação e oriundos de
universidades, deu forte contribuição às tensões propagadas e às dificuldades
de decisão, antes e agora, dos poderes públicos. Venha o que vier por aí, nas
ruas, seria muito proveitoso não confundir baderneiros com radicais e falta de
civilidade com protesto político.”
FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com.br/index.php/janio-nao-ha-insatisfacao-generalizada/).
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