Da “Rede Brasil Atual”
“A filósofa e professora aposentada da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Marilena Chauí, avalia que
a eventual revogação do aumento da tarifa de ônibus, embora importante, não
resolverá o problema do transporte público de São Paulo. “Enquanto o prefeito não quebrar o oligopólio dos empresários de ônibus,
vamos andar sempre mal das pernas, não vai funcionar, mesmo que, no curto prazo,
ele atenda às exigências do movimento e revogue o aumento da tarifa. No longo
prazo, o problema não estará resolvido”, disse à “Rádio Brasil Atual”.
Ela lembrou de, quando era secretária municipal de
Cultura, na gestão da prefeita Luíza Erundina (1989-93), quando foi elaborado o
Projeto de Lei da Tarifa Zero, que
pretendia custear o transporte público através de uma reforma tributária
muncipal. “Erundina enfrentou a máfia dos
ônibus, e uma reação em cadeia provocada pelos grandes empresários da
construção civil e dos lojistas. Movimentos contrários dos chamados bairros
nobres, como Cidade Jardim, Higienópolis, Moema, pipocaram. Foi uma coisa
medonha no nível da sociedade civil, e os empresários de ônibus se mancomunaram
com a Câmara Municipal para impedir a aprovação do projeto.”
Terça-feira, o secretário municipal de Transportes,
Jilmar Tatto, admitiu que os empresários são um grupo difícil de enfrentar. “São um setor atrasado, tanto que foram
contra a criação do Bilhete Único. É um setor cartelizado. Hoje, é muito
difícil retirar um operador do sistema”, avalia.
Chauí afirmou que as manifestações pela revogação
do aumento das passagens são legítimas e têm de estar na pauta dos movimentos
sociais. “As manifestações não poderiam
ser mais justas, significa que a luta pela dignidade do cidadão na luta pela
educação, pela saúde, pelo trabalho, na moradia, tem de incluir aquilo que é
condição de mobilidade, que é o transporte.”
A professora, que é uma das conselheiras que esteve
presente na reunião de terça-feira (18) do Conselho
das Cidades, afirmou que a convocação do Movimento Passe Livre como participantes da reunião pelo prefeito
foi democrática, mas ressalta que o prefeito Fernando Haddad (PT) demorou a
agir.
“As reações
do governador Geraldo Alckmin e do prefeito foram diferentes, embora as duas
demoradas. Alckmin reagiu com a polícia e com prisão. E Haddad foi pego de
surpresa, demorou na resposta. Mas a atitude do prefeito foi de grandeza
política porque ele chamou os movimentos, todas as lideranças, o conselho, o
secretariado, para um debate transparente.”
A filósofa ressalta, porém, que o momento atual de
mobilização e protestos é importante para a democracia, mas não configura um
momento histórico. “Não é momento
histórico, é um instante politicamente importantíssimo, no qual a sociedade vem
às ruas e manifesta sua vontade e sua opinião. Mas a ação política é efêmera,
não tem força organizativa do ponto de vista social e política, não tem uma
força de permanência, caráter dos movimentos sociais organizados, de presença
organizada em todos os setores da vida democrática.”
FONTE: da “Rede Brasil Atual”. Transcrito no blog
“Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/geral/marilena-chaui-haddad-tem-que-quebrar-cartel.html#more-20007).
[Imagem do Google adicionada por este
blog ‘democracia&política’].
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