sexta-feira, 6 de março de 2009

COMO A GLOBO PROTEGE SERRA

Li hoje no site “Vi o mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha:

Não é preciso ir muito longe: basta comparar o conteúdo de duas reportagens sobre o escândalo na polícia de São Paulo. A análise foi feita por um profissional de televisão com extensa experiência. Reproduzo:

O Jornal da Record deu na chamada -- o trecho em que falam os apresentadores -- a suspeita: 100 mil reais para livrar policiais de punição e cargos à venda. Cobriu quase toda a reportagem com o vídeo que acrescenta provas a uma antiga suspeita.

Usando um Diário Oficial, mostrou a linha de investigação: três investigadores acusados de corrupção e demitidos reconquistaram os cargos por despacho da Secretaria de Segurança Pública cinco meses depois.

JORNAL DA RECORD, QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2009:

REPÓRTER:

Este vídeo, gravado com câmera escondida por um policial, é mais uma prova daquele que pode ser o maior escândalo da segurança pública em São Paulo. O homem de terno e óculos escuros é o advogado Celso Valente. Ele é primo e sócio do ex-secretário-adjunto de segurança Lauro Malheiros Neto. O polícial quer saber quanto custa para anular um processo administrativo que resultou na expulsão de um investigador da polícia. Diz que ele pode pagar até 100 mil reais. Valente se propõe a intermediar o negócio, que depende apenas de uma canetada do secretário.

A RECORD COLOCOU SUAS PRÓPRIAS LEGENDAS NO VÍDEO E COLOCOU A VOZ DO REPÓRTER NARRANDO O QUE FOI DITO PELO POLICIAL, GARANTINDO A CLAREZA PARA OS TELESPECTADORES:

O advogado diz: "Se tudo for... no dia que chegar na mesa, tá na mão. aí ele vai falar: - pode ligar para pegar o dinheiro."

O vídeo foi gravado em 2007 numa doceria nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. O Ministério Público investiga que em janeiro daquele ano, o Diário Oficial do estado publicou pena disciplinar de demissão aos investigadores Ariovaldo Soares, Evaldo Shirasaka e Adeilton Mendes. Os três, acusados de corrupção.

Eles recorreram e cinco meses depois, um despacho da Secretaria de Segurança Pública aceita o recurso, absolve os acusados e determina a reintegração dos três aos quadros da Polícia Civil. Na conversa gravada, Celso Valente explica que é o homem de confiança do secretário e aconselha o agente a trazer outros casos de policiais condenados que ele dá um jeito. O homem que faz a gravação pergunta se é possível comprar cargos no alto escalão da polícia. Diz que tem um amigo interessado na diretoria do Detran - o Departamento de Trânsito. Valente dá o preço.

"Eu acho que o que você tem que fazer, é o seguinte: você tem que pegar um cara com uns 200, 300 paus na mão, entendeu?"

O vídeo já está nas mãos do Ministério Público e pode confirmar um esquema de corrupção e venda de cargos na Polícia Civil de São Paulo. O vídeo reforça as acusações feitas pelo investigador de polícia Augusto Pena, que está preso e fez um acordo de delação premiada com a justiça. As ligações suspeitas de Augusto Pena com Lauro Malheiros motivaram o afastamento do então secretario-adjunto, no ano passado. Num depoimento aos promotores, Augusto Pena diz ter sido procurado por Celso Valente dentro do presídio. A intençao do advogado era desencorajá-lo a prestar depoimento. Em troca, ele e Lauro Malheiros poderiam ajudar o policial preso. No fim da tarde, o secretário de segurança pública falou sobre o caso.

RONALDO MARZAGÃO - SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA-SP:

"A Secretaria de Segurança tem o maior interesse em que tudo isso seja esclarecido e que eventuais culpados sejam punidos".

LUIZ HENRIQUE DAL POZ - PROMOTOR DE JUSTIÇA:

"É precipitado ainda qualquer conclusão. São fatos extremamente graves e serão investigados, apurados, de forma rígida pelo Ministério Público".

O Jornal Nacional não deu na cabeça -- o trecho lido pela apresentadora -- a notícia mais importante: o vídeo é evidência de que os policiais civis de São Paulo vendiam cargos, bem como pagavam propina para se livrar de punições. Não há acusação de "pagamento de propina para não serem investigados", como diz a apresentadora. A acusação é de pagamento para reverter decisões do alto escalão da Secretaria de Segurança. A reportagem não abre com a acusação, nem com o vídeo. Abre com uma promessa de apuração. Mas adiante o repórter vai dizer que as legendes "são originais do vídeo", sugerindo que elas foram gravadas junto com o vídeo. Não, as legendas foram colocadas depois. Quem colocou? Não ficou claro. O trecho escolhido do vídeo não é bem contextualizado, não dá para ler as legendas, nem entender direito o que diz o policial.

Mais tarde a reportagem enfatiza que o investigador Augusto Pena, autor das denúncias, fez isso "com a intenção de conseguir o benefício da delação premiada". E termina a reportagem com três declarações negando tudo: de dois advogados e do secretário de Segurança.

JORNAL NACIONAL, QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2009

FÁTIMA BERNARDES:

O Ministério Público de São Paulo está investigando a denúncia de que policiais civis teriam feito pagamento de propina para não serem investigados.

REPÓRTER:

As denúncias que chegaram à promotoria são de venda de cargos de direção da Polícia Civil e de pagamentos para evitar a demissão de policiais acusados de crimes.

LUIZ HENRIQUE DAL POZ, PROMOTOR DE JUSTIÇA:

“São fatos extremamente graves, que serão apurados de uma maneira serena e firme pelo Ministério Público e, ao final, a responsabilização daqueles envolvidos nesses episódios”.

Da investigação faz parte esse vídeo, em que aparece o advogado Celso Valente. Ele foi sócio e é primo do ex-secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, Lauro Malheiros. A saída de Malheiros do cargo, no ano passado, foi anunciada dias depois de vir a público a suposta ligação dele com um investigador chamado Augusto Pena, preso por extorsão.

No vídeo, Celso Valente fala sobre processos de expulsão de policiais. Na época, a palavra final cabia ao primo dele, o então secretário-adjunto Malheiros.

A GLOBO NÃO LEGENDOU O VÍDEO. AS LEGENDAS BRANCAS SÃO DIFÍCEIS DE LER. A VOZ É PRATICAMENTE INAUDÍVEL:

"Ele vai falar esse cara... tá na lista dele... esse negócio de PA, parecer administrativo... é tudo baboseira. Ele resolve, vai contra, vai a favor, quer que se...é um carimbo, um risco e já era. Saiu no diário oficial, se não der, não paga nada. Se não der certo, não deu. Não, não, dinheiro na mão".

As legendas são originais do vídeo (sic). A gravação tem vários trechos incompreensíveis. A investigação também leva em conta o depoimento do investigador Augusto Pena. Com a intenção de conseguir o beneficio da delação premiada, ele declarou que o ex-secretário vendia a reintegração de policiais demitidos por R$ 100 mil. O intermediário seria o primo dele, Celso Valente, o que aparece no vídeo. Que ele próprio entregou pessoalmente R$ 300 mil para Celso Valente para reintegração de três policiais e que três delegados pagaram para assumir cargos na polícia.

ALBERTO ANGERAMI, DIRETOR-GERAL DA CORREGEDORIA DA POLÍCIA CIVIL:

“Como pagar uma exorbitância para ocupar um cargo? Qual o objetivo? Os objetivos são inconfessáveis. Para aferir vantagens indevidas em razão do cargo que vão ocupar”,

As denúncias vão virar cinco inquéritos na corregedoria da polícia.

REPÓRTER:

O Ministério Público começou a analisar todos os processos de policiais expulsos e depois reintegrados por determinação do ex-secretário Malheiros. Os promotores também vão ouvir as pessoas que aparecem no vídeo e quem é citado na gravação.

O advogado de Celso Valente afirmou que o cliente dele é inocente. Disse também que os trechos divulgados estão fora de contexto e que o vídeo não prova nada.

JOSÉ LUIZ OLIVEIRA LIMA, ADVOGADO DE CELSO VALENTE:

“Não há na conversa dele oferecimento de qualquer vantagem ilícita ou indevida às pessoas com quem ele estava tendo diálogo”.

Quem falou pelo governo de São Paulo foi o secretário de Segurança Pública.

RONALDO MARZAGÃO, SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA:

“A Secretaria da Segurança tem o maior interesse em que tudo isso seja esclarecido e que eventuais culpados sejam punidos”.

Agora à noite falou o advogado do ex-secretário-adjunto, Lauro Malheiros.

ALBERTO TORON, ADVOGADO DE LAURO MALHEIROS:

“A nossa resposta para esse tipo de acusação é uma só: são falsas, queremos esclarecer e nos colocamos à disposição do Ministério Público do estado de São Paulo”.

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