quinta-feira, 29 de julho de 2010

O BRASIL NO CHILE



“CHILE PASSA VENEZUELA E JÁ É 2º MAIOR MERCADO PARA O BRASIL NA REGIÃO

O Chile ultrapassou a Venezuela como segundo maior mercado para os produtos brasileiros na América Latina, só atrás da Argentina, e recuperou vigorosamente o interesse pelo Brasil no primeiro semestre, após forte retração do comércio bilateral, no ano passado.

No primeiro semestre, as vendas dos exportadores brasileiros aos chilenos aumentaram 64%. Diferentemente de outros mercados importantes na região, que reduziram as compras de bens manufaturados do Brasil, como celulares, o Chile compra cada vez mais mercadorias de alto valor agregado do Brasil, com aumentos, em valor, superiores a 800% entre alguns dos 50 principais produtos de exportação brasileira àquele país.

O aumento nas compras chilenas de bens manufaturados, como automóveis e aviões, chegou a 68%. Em bens semimanufaturados, como aço laminado, a alta passou de 80% entre janeiro a junho de 2010, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os investimentos entre os dois países se intensificam e as boas relações entre os dois governos não foram abaladas nem com a radical mudança política no começo do ano, com a queda da centro-esquerdista Concertación, após 19 anos no poder, e a eleição do conservador Sebastian Piñera. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu a Piñera que fará ao Chile uma de suas últimas visitas de Estado, até o fim do ano, após as eleições no Brasil.

"O Chile talvez seja o melhor exemplo no continente de transformação de nosso capital político em relação econômica", diz, com satisfação, o embaixador brasileiro no Chile, Mário Vilalva. Neste ano, termina a o período de transição do acordo de livre comércio entre Brasil e Chile, o que elimina as últimas barreiras de comércio entre os dois países, extinguindo, por exemplo, as cotas-limite para venda de vinho chileno ao Brasil sem imposto de importação e as últimas restrições tarifárias, para vendas do Brasil ao Chile, a produtos como o açúcar.

Os investimentos do Brasil no Chile, especialmente da Petrobras, têm contribuído para a demanda por produtos brasileiros. A estatal comprou, por US$ 400 milhões, os ativos da Exxon no país vizinho e, desde agosto do ano passado, passou a operar 230 postos da Esso em território chileno e terminais de distribuição de combustível em 11 aeroportos, além de deter 22% das ações da Sociedade Nacional de Oleodutos e em 33% na Sociedade de Investimentos de aviação. A venda de óleos brutos de petróleo é o principal item da pauta de exportações brasileiras, e aumentou quase 40% no primeiro semestre, comparado ao mesmo período do ano anterior.

O vigor das exportações ao Chile fez com que esse item perdesse participação nas vendas brasileiras ao país, porém, de 17,5% do total em 2009 para menos de 15% neste ano. Perdeu espaço para as vendas de automóveis, que quase quadruplicaram e passaram de 2,4% para 5,6% do total, com aumento, em valor, de US$ 26 milhões para mais de US$ 100 milhões. Tanto a Ford quanto a GM vendem ao Chile carros de menor cilindrada fabricados no Brasil.

A filial brasileira da GM tem sido a principal beneficiária de um acordo assinado recentemente com a estatal petrolífera ENAP, para fornecimento de etanol nas bombas de combustível local. A GM, em acordo com a Petrobras, começou neste ano a vender carros flex para o mercado chileno. É o primeiro país com um acordo desse gênero com o Brasil.

O setor automotivo alegrou-se com o aumento das vendas mas não está exultante. Na prática, como lembra o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, o aumento das exportações se dá sobre uma base deprimida pela crise financeira de 2007 e 2008 . As vendas ao Chile, hoje em torno de 1,2 mil veículos por mês, estão acima dos quase 400 mensais do ano passado, mas ainda bem abaixo dos quase 2 mil por mês de 2008, ou dos mais de 3 mil de 2005.

"É um cliente importante, o Brasil recupera mercado, mas ainda temos muito para crescer", diz Belini, preocupado com a forte competição dos automóveis asiáticos no diversificado mercado chileno. "É um mercado estruturado, com mais de 40 marcas, e os asiáticos têm sido muito agressivos", comenta. Um segmento do setor automotivo não tem queixas do vizinho: como se pode notar pelas ruas de Santiago, são brasileiros os ônibus que circulam pelo sistema de vias rápidas urbano, o Transantiago, para o qual a Mercedes em suas instalações brasileiras tem fabricado os veículos, o que a leva a explorar alternativas no mercado.

No primeiro semestre, a venda de chassis com motor a diesel e cabina, para cargas superiores a 20 toneladas, aumentou 997%; a venda do mesmo tipo de chassis, mas para cargas entre 5 e 20 toneladas, teve aumento de quase 450%. As exportações de chassis com motor para transporte de pessoas cresceram quase 30%, o mesmo aumento de vendas das carrocerias para veículos de transporte coletivo.

O Chile tem acordos de livre comércio com quase 60 países e é o mercado mais aberto na América do Sul. Os dois governos têm registrado um movimento crescente de instalação de empresas brasileiras em território chileno, em grande parte de porte médio, para aproveitar as condições de venda originadas lá a outros mercados. Diferentemente do que aconteceu em países como Equador e Venezuela, as vendas de telefones celulares do Brasil aumentaram para o Chile - 69% no primeiro semestre.

Celulares são o quarto item da pauta de exportações, 2,3% do total. Foram ultrapassados pelos aviões, venda iniciada neste ano com o contrato assinado entre o governo chileno e a Embraer para fornecimento de 12 Supertucanos às Forças Armadas do Chile, com opção de compra de mais 12. O contrato da Embraer envolve associação com uma prestigiada empresa local do setor, a ENAER, que fabrica a cauda para os aviões 145 e 190 da empresa brasileira. A Enaer negocia o fornecimento de peças também para o cargueiro militar brasileiro, o EMB 390, alvo de um contrato recente entre a Embraer e o governo brasileiro.”

FONTE: reportagem de Sergio Leo, publicada no jornal “Valor Econômico”.

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