Do jornal “Brasil 247”
PIVÔ DO CASO SIEMENS PODE EXPLICAR REELEIÇÃO DE FHC
“O surgimento de José Luiz Portella no ‘caso Siemens’ afasta de vez a possibilidade de que a corrupção nos trilhos do metrô de São Paulo tenha sido fruto apenas da ação isolada de funcionários públicos corruptos. "Portelinha" teve papel essencial na reeleição de FHC, manchada pela suspeita de compra de votos, como no caso [confesso] do ex-deputado Ronivon Santiago. "Portelinha" é também homem de confiança de José Serra. Com ele no escândalo, fortalece-se a tese levantada pela revista “IstoÉ”, sobre a existência de um "propinoduto" e esvaem-se as esperanças de Merval Pereira, que temia justamente a corrupção [tucana] sistêmica.
Dezesseis de maio de 1997. O escândalo que chacoalha o Brasil diz respeito à compra de votos para a reeleição do ex-presidente FHC. O pivô é o ex-deputado Ronivon Santiago, que, numa conversa gravada, revela que parlamentares estariam recebendo R$ 200 mil para votar pela reeleição. Naquele dia, a “Folha de S. Paulo”, que havia revelado o caso, publicou nova matéria [a acima é a anterior, de 13 de maio], assinada por Fernando Rodrigues, Lúcio Vaz e Lucas Figueiredo, todos repórteres premiados. Assim ela começa:
“O deputado Ronivon Santiago, expulso anteontem do PFL, diz em conversas gravadas que seus acertos com o governo na emenda da reeleição e em outras votações está baseado na liberação de dinheiro federal para empreiteiras realizarem obras rodoviárias.
Segundo o deputado, essas liberações são acertadas de forma satisfatória por causa da intervenção do governador Orleir Cameli (AC) e pela intimidade que ele, Ronivon, teria com o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, José Luiz Portella – pessoa de confiança do presidente Fernando Henrique Cardoso.”
Mais adiante, os repórteres revelam bastidores da ação de Portella, conhecido no ninho tucano como “Portelinha”:
“Em uma parte da conversa, o interlocutor de Ronivon -aqui identificado apenas como "Senhor X"- menciona o fato de Orleir Cameli ter sido recebido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 27 de janeiro passado, véspera da votação da reeleição.
Eis o que responde Ronivon: "Foi. Esteve. Tem ordem lá para liberar a verba agora em abril".
A verba não foi liberada. Mas Ronivon continuou confiante no governo. "Eu estive com o Portella, do Ministério dos Transportes, que é o cara que coordena as liberações, ele me falou que tem ordem superior já, recebeu ligação superior já pra dar a liberação do Acre", diz o deputado.”++++++++
Corte para oito de agosto de 2013. O escândalo da vez diz respeito às propinas do metrô de São Paulo. Assim começa a reportagem da “Folha de S. Paulo”, assinada por Flavio Ferreira, Catia Seabra e Julianna Sofia:
“O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) sugeriu à multinacional alemã Siemens um acordo em 2008 para evitar que uma disputa empresarial travasse uma licitação da CPTM, de acordo com um e-mail enviado por um executivo da Siemens a seus superiores na época.
A mensagem relata uma conversa que um diretor da Siemens, Nelson Branco Marchetti, diz ter mantido com Serra e seu secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, durante congresso do setor ferroviário em Amsterdã, na Holanda.”
Ou seja: quinze anos depois da suspeita de compra de votos da reeleição, operada por José Luiz Portella, o “Portelinha”, o Brasil descobre que o mesmo personagem está no centro do escândalo Siemens. Da articulação de emendas para parlamentares, ele passou a operar a compra de trens e vagões, em encontros em Amsterdã.
A existência desse elo de ligação (leia mais aqui) torna remota a possibilidade de que a corrupção nos trilhos do metrô paulista seja fruto da ação isolada de funcionários corruptos – como parece ser a torcida de colunistas alinhados ao tucanato, como Merval Pereira e Reinaldo Azevedo. Ao contrário, os indícios apontam para um jogo da cúpula partidária, operado por uma pessoa da mais estrita confiança de homens como FHC e José Serra.
Assim, ganha força a tese levantada pela revista “IstoÉ” sobre a existência de um "propinoduto tucano", ou seja, de uma máquina de arrecadação destinada à conquista e à perpetuação do poder. Exatamente aquilo que Merval Pereira parecia temer, como escreveu em sua coluna de quinta-feira:
“A ação individual de um político desonesto é menos danosa para a democracia do que a de um grupo político organizado, que se utiliza dos esquemas de poder a que chegou pelo voto para se eternizar nele. Foi o que aconteceu justamente no mensalão do PT. Se as investigações do caso Siemens em São Paulo levarem à conclusão de que o PSDB montou um projeto de poder em São Paulo desde o governo Covas, passando por Geraldo Alckmin e José Serra, financiado pelo desvio de verbas públicas, estaremos diante de uma manipulação política com o mesmo significado, embora com alcance regional, enquanto o mensalão tentou manipular nada menos que o Congresso Nacional.” [Merval ainda tenta defender que a corrupção tucana seria sem importância, apenas "regional"...]
Parafraseando Merval, com José Luiz Portella, "fica clara a ação de um grupo político organizado, que se utiliza dos esquemas de poder a que chegou pelo voto para se eternizar nele".
FONTE: jornal “Brasil 247” (http://www.brasil247.com/pt/247/poder/111101/Piv%C3%B4-do-caso-Siemens-pode-explicar-reelei%C3%A7%C3%A3o-de-FHC.htm). [Título, imagem da ‘Folha’ e trechos entre colchetes acrescentados por este blog ‘democracia&política’].
PIVÔ DO CASO SIEMENS PODE EXPLICAR REELEIÇÃO DE FHC
“O surgimento de José Luiz Portella no ‘caso Siemens’ afasta de vez a possibilidade de que a corrupção nos trilhos do metrô de São Paulo tenha sido fruto apenas da ação isolada de funcionários públicos corruptos. "Portelinha" teve papel essencial na reeleição de FHC, manchada pela suspeita de compra de votos, como no caso [confesso] do ex-deputado Ronivon Santiago. "Portelinha" é também homem de confiança de José Serra. Com ele no escândalo, fortalece-se a tese levantada pela revista “IstoÉ”, sobre a existência de um "propinoduto" e esvaem-se as esperanças de Merval Pereira, que temia justamente a corrupção [tucana] sistêmica.
Dezesseis de maio de 1997. O escândalo que chacoalha o Brasil diz respeito à compra de votos para a reeleição do ex-presidente FHC. O pivô é o ex-deputado Ronivon Santiago, que, numa conversa gravada, revela que parlamentares estariam recebendo R$ 200 mil para votar pela reeleição. Naquele dia, a “Folha de S. Paulo”, que havia revelado o caso, publicou nova matéria [a acima é a anterior, de 13 de maio], assinada por Fernando Rodrigues, Lúcio Vaz e Lucas Figueiredo, todos repórteres premiados. Assim ela começa:
“O deputado Ronivon Santiago, expulso anteontem do PFL, diz em conversas gravadas que seus acertos com o governo na emenda da reeleição e em outras votações está baseado na liberação de dinheiro federal para empreiteiras realizarem obras rodoviárias.
Segundo o deputado, essas liberações são acertadas de forma satisfatória por causa da intervenção do governador Orleir Cameli (AC) e pela intimidade que ele, Ronivon, teria com o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, José Luiz Portella – pessoa de confiança do presidente Fernando Henrique Cardoso.”
Mais adiante, os repórteres revelam bastidores da ação de Portella, conhecido no ninho tucano como “Portelinha”:
“Em uma parte da conversa, o interlocutor de Ronivon -aqui identificado apenas como "Senhor X"- menciona o fato de Orleir Cameli ter sido recebido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 27 de janeiro passado, véspera da votação da reeleição.
Eis o que responde Ronivon: "Foi. Esteve. Tem ordem lá para liberar a verba agora em abril".
A verba não foi liberada. Mas Ronivon continuou confiante no governo. "Eu estive com o Portella, do Ministério dos Transportes, que é o cara que coordena as liberações, ele me falou que tem ordem superior já, recebeu ligação superior já pra dar a liberação do Acre", diz o deputado.”++++++++
Corte para oito de agosto de 2013. O escândalo da vez diz respeito às propinas do metrô de São Paulo. Assim começa a reportagem da “Folha de S. Paulo”, assinada por Flavio Ferreira, Catia Seabra e Julianna Sofia:
“O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) sugeriu à multinacional alemã Siemens um acordo em 2008 para evitar que uma disputa empresarial travasse uma licitação da CPTM, de acordo com um e-mail enviado por um executivo da Siemens a seus superiores na época.
A mensagem relata uma conversa que um diretor da Siemens, Nelson Branco Marchetti, diz ter mantido com Serra e seu secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, durante congresso do setor ferroviário em Amsterdã, na Holanda.”
Ou seja: quinze anos depois da suspeita de compra de votos da reeleição, operada por José Luiz Portella, o “Portelinha”, o Brasil descobre que o mesmo personagem está no centro do escândalo Siemens. Da articulação de emendas para parlamentares, ele passou a operar a compra de trens e vagões, em encontros em Amsterdã.
A existência desse elo de ligação (leia mais aqui) torna remota a possibilidade de que a corrupção nos trilhos do metrô paulista seja fruto da ação isolada de funcionários corruptos – como parece ser a torcida de colunistas alinhados ao tucanato, como Merval Pereira e Reinaldo Azevedo. Ao contrário, os indícios apontam para um jogo da cúpula partidária, operado por uma pessoa da mais estrita confiança de homens como FHC e José Serra.
Assim, ganha força a tese levantada pela revista “IstoÉ” sobre a existência de um "propinoduto tucano", ou seja, de uma máquina de arrecadação destinada à conquista e à perpetuação do poder. Exatamente aquilo que Merval Pereira parecia temer, como escreveu em sua coluna de quinta-feira:
“A ação individual de um político desonesto é menos danosa para a democracia do que a de um grupo político organizado, que se utiliza dos esquemas de poder a que chegou pelo voto para se eternizar nele. Foi o que aconteceu justamente no mensalão do PT. Se as investigações do caso Siemens em São Paulo levarem à conclusão de que o PSDB montou um projeto de poder em São Paulo desde o governo Covas, passando por Geraldo Alckmin e José Serra, financiado pelo desvio de verbas públicas, estaremos diante de uma manipulação política com o mesmo significado, embora com alcance regional, enquanto o mensalão tentou manipular nada menos que o Congresso Nacional.” [Merval ainda tenta defender que a corrupção tucana seria sem importância, apenas "regional"...]
Parafraseando Merval, com José Luiz Portella, "fica clara a ação de um grupo político organizado, que se utiliza dos esquemas de poder a que chegou pelo voto para se eternizar nele".
FONTE: jornal “Brasil 247” (http://www.brasil247.com/pt/247/poder/111101/Piv%C3%B4-do-caso-Siemens-pode-explicar-reelei%C3%A7%C3%A3o-de-FHC.htm). [Título, imagem da ‘Folha’ e trechos entre colchetes acrescentados por este blog ‘democracia&política’].
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