Por Motta Araújo
“[Hoje], 3 de Novembro, a República do Panamá, a mais nova da América Espanhola, faz 110 anos. O crucial istmo que liga a América Central à América do Sul era colônia da Espanha, parte do Vice-Reinado de Nova Granada. Depois das guerras de independência das colônias espanholas, virou parte da província da Colômbia, como "Departamento do Istmo", mas tentativas de independência da Colômbia sempre existiram.
O Istmo tinha (e tem) uma "elite branca de primeira qualidade" [sic!], os "rabiblancos", que nunca se consideraram colombianos, herdeiros da vocação comercial dos primeiros colonizadores espanhóis que ocuparam o Istmo.
O ponto de inflexão foi a descoberta do ouro na Califórnia em 1849, tornando fundamental a necessidade de interconexão da Costa Leste dos EUA com o Oeste então valioso pela corrida do ouro. Havia duas rotas: pelo Estreito de Magalhães, um longuíssimo caminho de Nova York a São Francisco, ou pelo Istmo por terra e tomando outro navio no lado do Pacífico, um transbordo difícil e caro. Os EUA viram a solução na construção de uma ferrovia que ligaria a costa caribenha ao lado do Pacifico. Fizeram acordo com a Colômbia, conseguiram a concessão e a ferrovia ficou pronta em 1855, mas com ela já nascia a ideia de um canal marítimo, obra gigantesca. Coube a uma companhia francesa tentar executar o projeto com o mesmo engenheiro que concebeu o Canal de Suez. Graves problemas de construção na selva, com cobras e malárias, impediram a conclusão por Ferdinand de Lesseps. A companhia francesa faliu; os EUA precisavam desesperadamente desse canal e compraram os direitos.
Mas uma obra de tal magnitude só poderia ser realizada em terra sob controle dos EUA. Era obra de uma geração, que exigiria recursos extraordinários, financeiros, técnicos e humanos.
Para essa realização, era indispensável ter controle político do Canal e a solução foi "apoiar" o Departamento do Istmo em seus anseios de independência que vinham de longa data. Declarada a independência, foi criada a República do Panamá em 3 de Novembro de 1903, sob protetorado dos EUA, que imediatamente ocuparam o território com infantaria naval antes da chegada de forças colombianas. As relações da nova República com a Colômbia só se normalizaram 21 anos depois. Os EUA garantiram para si uma Zona do Canal, de 16 km de largura, sob soberania americana, dividindo a República em duas partes [ver mapa acima].
Na realidade, a República só existiu pelo "apoio" americano. Os independentistas que já existiam desde a segunda década do Seculo XIX não teriam, sozinhos, conseguido "a independência" [sic], pois a Colômbia era um pais muito maior [e mais forte].
A construção do canal pelos americanos, através de uma companhia controlada pelo Governo, a "Panama Canal Company", levou uma geração. Foi realizada em grande parte com a importação de operários jamaicanos que acabaram ficando no Panamá, especialmente no lado caribenho, onde é hoje a Zona de Livre Comércio de Colón.
O controle político ficou até a década de 80 com as famílias "rabiblancas", como os Arias e os Alwyn, quando surgiram "caudilhos" [sic] de origem popular, primeiro Omar Torrijos e depois Manuel Noriega.
O controle americano do Canal cessou por Tratado em 31 de dezembro de 1999, tendo sido desmilitarizada a Zona do Canal, agora integrada à "soberania panamenha" [sic]. Os 300 edifícios de quarteis, hospitais e armazéns viraram lojas e shoppings. O Canal está sendo ampliado para navios maiores e a prosperidade do Panamá é a maior das Américas um "megaboom" de construção de altos edifícios e um PIB crescendo a 11% ao ano.
A moeda continua sendo o dólar e o país está recendo milhares de aposentados americanos que compraram apartamentos e vieram residir no Panamá [impostos menores]. A emergência da China como compradora de 'commodities' aumentou o tráfego do canal e o movimento da Zona Livre de Colón onde, em 500 armazéns, se redistribuem os produtos chineses que se vendem na América do Sul.
O Panamá, assim como Cuba, tem uma curiosa história, bem diferente das demais repúblicas da America hispânica criadas a partir do enfraquecimento da Coroa espanhola nas guerras napoleônicas."
FONTE: escrito por Motta Araújo e publicado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/a-complicada-historia-do-panama). [Imagens do google, trechos entre colchetes e aspas adicionados por este blog 'democracia&política'].
COMPLEMENTAÇÃO
Complemento a postagem acima com texto deste blog ‘democracia&política' escrito e postado em 02/03/2008:
O TERROR NORTE-AMERICANO NO PANAMÁ POR “JUSTA CAUSA”
Aviões “invisíveis” F-117, estreados em dezembro de 1989 pelos EUA contra o indefeso Panamá
A “Operação Justa Causa” foi executada poucos dias antes do início da década de noventa.
Os EUA atacaram o Panamá à noite, repentinamente, em dezembro de 1989, um mês após a queda do muro de Berlim e cinco dias antes do Natal.
O pretexto oficial norte-americano para aquela sangrenta violação de todos os princípios de convivência das nações foi, surpreendente e simplesmente, "prender o Presidente Noriega", então por eles acusado de ser corrupto e de ter ligações com narcotraficantes (foi levado para os EUA e lá “julgado” e condenado a quarenta anos de prisão).
Para aquele fim declarado, seria suficiente meia dúzia de agentes da CIA.
Ficou evidente que os objetivos reais dos EUA foram testar em ambiente noturno (e mostrar ao mundo, para também amedrontar) suas novas armas e seu mais moderno sistema de comando, coordenação e controle eletronicamente integrados; deixar claro que a América Latina era quintal dos EUA; e especialmente, visavam, com aquela operação, a apagar, na prática, os Tratados Carter-Torrijos sobre a devolução do Canal do Panamá aos panamenhos, que deveria ocorrer em 31 de dezembro de 1999. Os acordos foram assinados em 1977.
Os EUA empregaram de surpresa, no bombardeio da capital panamenha enfeitada para o Natal, sem declarar guerra, contra um país indefeso e praticamente sem Forças Armadas, 24.000 soldados superequipados e centenas de aviões de combate moderníssimos, inclusive os caríssimos F-117 “stealth” invisíveis aos radares que nem existiam no Panamá. Aquele ataque ao Panamá custou aos EUA o equivalente a mais de um bilhão de dólares.
Morreram no ataque mais de quinhentos civis panamenhos (algumas fontes informaram 4.000).
O mundo e o Brasil, "convenientemente informado" pela mídia internacional e nacional sempre bem manipulada, aceitou docilmente e sem alardes aquela benemérita “Operação Justa Causa”, como a batizaram os norte-americanos (com humor negro?). Não houve significativa repercussão negativa. Ninguém se comoveu com as centenas de civis mortos no ataque aos panamenhos.
"Em prol da democracia", um novo presidente panamenho, Guilhermo Endara, foi logo posto no poder pelos EUA, em solenidade dentro de uma barraca militar dos invasores, no dia seguinte à invasão. Pouco tempo depois, em 1993, Endara tinha menos de 10% de aprovação popular. Continuava, todavia, muito bem considerado e amparado pela “Casa Branca”.
Com o fim à força dos entendimentos antes firmados nos referidos Tratados, os EUA voltaram a garantir, com menor custo e sem maiores concessões aos interesses daquele país da América Central, as ligações entre as costas leste e oeste norte-americanas via canal, e a permanência das tropas e bases norte-americanas no Panamá. Tudo com o fingimento de que o Panamá passou a administrar o canal com soberania..."
FONTE da complementação: texto elaborado e postado por este blog 'democracia&política' (http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2008/03/2-parte-o-brasil-e-as-guerras-mais.html).
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