segunda-feira, 25 de novembro de 2013

EMBRAER INOVA COM AVIÃO-CARGUEIRO GIGANTE


US$ 50 bilhões é o valor do mercado, até 2028, de 700 cargueiros militares de múltiplo emprego em 80 países, excluídos EUA, China e Rússia

“O gigante está trancado em uma sala grande como ele mesmo, um prédio inteiro para acomodar com folga o corpo de 35 metros. O modelo em escala real do novo jato da Embraer, o cargueiro militar KC-390, criado para cumprir várias missões, fica isolado na reservada unidade de Eugênio de Melo, a 20 quilômetros da sede da empresa em São José dos Campos. O jato em modelagem ainda está sem as asas - seriam necessários outros 35 metros.

Do mesmo local, há pouco menos de 40 anos, o Brasil influenciou guerras travadas no Oriente Médio e no norte da África, armou Exércitos latinos e equipou ex-colônias portuguesas, Em certa época, o complexo de Eugênio de Melo abrigou a extinta ENGESA - de onde saíram os blindados batizados com nomes de serpentes brasileiras, Urutu e Cascavel.

O tempo é outro e a influência está regida pelo mercado. O KC-390 é uma iniciativa focada na ampla demanda internacional detectada pela Embraer - cerca de 700 aeronaves desse tipo serão negociadas em dez anos por US$ 50 bilhões. "Acreditamos que poderemos entrar na disputa por alguma coisa como 15% desse total, na faixa de 105 unidades", diz o presidente da Embraer Defesa e Segurança [EDS], Luiz Carlos Aguiar.

Incluído no “Programa de Aceleração do Crescimento” - o PAC da presidente Dilma Rousseff , o cargueiro e reabastecedor vai custar R$ 4,9 bilhões até a fase de construção dos 2 protótipos de desenvolvimento. A propriedade intelectual é da FAB. A etapa de encomendas pode chegar a mais R$ 3 bilhões ao longo de 12 anos, estima o Ministério da Defesa.

O programa já acumula 60 cartas de intenção de compra emitidas por seis diferentes governos: Brasil (28 jatos), Colômbia (12), Chile (6), Argentina (6), Portugal (6) e República Checa (2). "Penso que, mais uma vez, chegamos na hora certa em um segmento restrito, não atendido pelas ações tradicionais", diz Aguiar.

De fato, o nicho está virtualmente vago. O principal concorrente é nobre: o poderoso Hércules C-130J, o mais recente arranjo da Lockheed-Martin, para o seu quadrimotor turboélice. A primeira versão voou faz 60 anos. Até 2010, haviam sido entregues 2.500 deles para 70 clientes.

O KC-390 leva vantagem em quase tudo, a começar pelo fato de estar saindo agora das telas dos engenheiros de projeto. Mais que isso, transporta 23 toneladas contra os 20 mil quilos do C-130. Voa [mais rápido] a 860 km/hora, mais alto, a 10,5 mil metros, e a um custo significativamente menor.

A concorrência de outras fontes é rarefeita e não se encaixa exatamente no mesmo viés, como é o caso do japonês Kawasaki C-2, em teste desde 2010, ou do europeu A-400M. Os dois são maiores e têm valor de aquisição elevado, de US$ 120 milhões a US$ 180 milhões. O modelo da Embraer fica na faixa pouco superior a US$ 80 milhões. E carrega tecnologia embarcada de última geração.

Os motores, por exemplo, permitem a operação nas pistas não pavimentadas e sem acabamento. As turbinas V-2500 da americana “International Aero Engines” não estão sujeitas à sucção de detritos. Todo o projeto utiliza conceitos avançados.

O PESSOAL

Na Embraer, o grupo de profissionais que trabalha no desenvolvimento do cargueiro e avião-tanque para reabastecimento em voo é conhecido como "o pessoal do KC".

Jovens quase todos, como o engenheiro Rodrigo Salgado, de 34 anos. Formado na escola de Itajubá, sul de Minas, trabalha na empresa há 11 anos. No programa, cuida dos aviônicos e da integração dos sistemas. Considera a possibilidade de conviver com o produto ainda por muito tempo, decorrência "do desenvolvimento contínuo e da atualização das funções".

De olho na impressionante cabine, repleta de telas digitais, terminais móveis e painéis de instrumentos que dão ao módulo ares de ônibus espacial, um piloto de ensaios da Força Aérea torcia para estar na equipe dos testes, previstos para o primeiro semestre de 2015. Combatente, com mais de 2 mil horas de voo em supersônicos, e contemplado com um curso de especialização de custo estimado em US$ 1,2 milhão, o oficial avalia o advento do KC-390 na Aeronáutica "pelo valor estratégico, a aviação militar do País será capaz de se manter no ar, em quaisquer condições, com aeronaves de abastecimento, de ataque, transporte e inteligência, todas de projeto e fabricação próprios".

O gigante da Embraer é parte de um acordo de cooperação entre a Embraer Defesa e Segurança e a Boeing. A composição abrange o compartilhamento de conhecimento tecnológico e avaliação conjunta de mercados. É um bom modelo. A Boeing produz transportadores de carga e reabastecedores em voo há não menos de 45 anos. A Embraer é inovadora e imbatível em redução de custos. Conforme Luiz Aguiar, a análise dos mercados potenciais incluirá clientes que não haviam sido considerados nas projeções iniciais para o KC-390. É uma forma cuidadosa de dizer que os alvos passam a incluir países como a Itália e, talvez, mesmo os Estados Unidos.”

FONTE: jornal “O Estado de São Paulo”. Transcrito no portal da FAB   (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=notimp).

COMPLEMENTAÇÃO

ENTREVISTA: PAULO GASTÃO SILVA, DIRETOR DO PROGRAMA KC-390

"HÁ MERCADO EM TODA PARTE"



"O diretor do Programa KC-390 trabalha na Embraer há 13 anos e desde 2005, depois de um longo período na área de inteligência de mercado, atua na definição dos conceitos que levaram ao maior avião produzido pela empresa. Paulo Gastão é coronel-engenheiro da FAB [hoje na reserva] formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA, da FAB), turma de 1976.

• Como nasceu o programa KC-390?

No começo, aí por 2005, a ideia era outra, era a de usar partes do modelo [regional] civil 190, integradas a uma nova fuselagem com rampa traseira, e um ou outro ajuste. Era muito menor e mais leve. Ele foi revelado como C-390, apenas cargueiro, em 2007. Ao longo de 2008, a FAB, que já tinha entrado nessa história, revelou parâmetros do que seria o avião que serviria à Força. Redefinimos do zero. Trabalhamos em um avião completamente novo. O contrato foi assinado em abril de 2009. Assim foi a gênese.

• Houve dificuldades, claro.

Ah, sim. Cada fase tem algo difícil. A primeira foi convencer as pessoas, que vinham da outra ideia, a migrar para o novo avião. Depois, tem o momento em que se diz "Será que vai dar certo? Nunca fizemos nada desse tamanho”. Foi a etapa do ganho de credibilidade. Hoje, temos 1.500 pessoas trabalhando no KC-390.

• Em relação ao mercado mundial, em que regiões o KC pode prosperar?

É um mercado muito espalhado, tem potencial em toda parte, não depende de poucos e grandes clientes. Nosso estudo de mercado endereçado indica demanda por 700 aeronaves em 80 países (menos Estados Unidos, Rússia e China) em 10 a 15 anos. A gente quer disputar, pelo menos, 15% disso.

• Quais são os concorrentes do KC-390?

Há um projeto conjunto da índia e da Rússia, mas em fase preliminar. Os chineses falam do Y-9, um turboélice. Ainda indefinido. O japonês Kawasaki está focado na necessidade interna. Tem quem pergunte sobre o A-400M, da Airbus. É uma outra classe de carga, alcance maior, preço bem maior. Sobra o C-130J. Não é pouco. A Embraer encara todo concorrente com muito respeito.

• Haverá uma versão de ataque ao solo como o “Hércules Spectre/Stinger II”, armados com canhões, mísseis, foguetes e bombas?

Não está no portfolio e depende de haver um cliente que, eventualmente, queira essa versão. Acho difícil.

• O avião sairá da fábrica de Gavião Peixoto, a 300 km de São Paulo. Que tamanho terá o hangar de produção?

O pavilhão maior, da montagem final, é imenso, tem 13 mil metros quadrados com pé direito de 22 metros, cerca de sete andares de altura. O vão livre para movimentar o avião tem de ter 18 metros. Fica pronto nas próximas semanas. O módulo por onde passará o KC-390 é um hangar de 40 por 60 metros.”

FONTE da complementação: jornal “O Estado de São Paulo”. Transcrito no portal da FAB  (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=notimp).

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