IRÃ versus O “EIXO DA ANSIEDADE” (SAUDITAS-ISRAEL-FRANÇA)
Do Blog “China Matters”, sob o título “The Saudi-Israeli-French Axis of Anxiety Over US-Iran Rapprochement”. Traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado no blog “Redecastorphoto”
“Com a reaproximação EUA-Irã andando a passo de cágado, mas mesmo assim andando, em direção a uma, pelo menos, consumação parcial, em Genebra, quero fazer aqui algumas ralas observações:
1) A “ameaça” das armas nucleares iranianas sempre foi conversa fiada, pretexto para que várias potências pudessem promover uma agenda antiIrã.
2) O principal, dentre os suspeitos de sempre é, claro, Israel governado pelo primeiro-ministro Netanyahu. Se o governo israelense consegue inventar e divulgar o Irã como potência nuclear e ameaça “existencial” a Israel, então os israelenses passam a poder merecer a simpatia dos EUA, além de apoio e proteção. Mas se o Irã volta a ter melhores relações com os EUA, Israel passa a temer que os EUA mostrem-se menos dispostos a continuar a arcar com o considerável custo político, diplomático e econômico que resulta do “aval” que sempre deram à recusa obstinada dos israelenses, que teimam em não confessar que abrigam gigantesco arsenal atômico em seu território; e passa a ser possível que os EUA forcem Israel a integrar-se ao regime internacional de controle de armas.
3) Outra potência regional interessada em bater o tambor da “ameaça iraniana” é a Arábia Saudita. Mas entendo que a posição muito destacada do Reino Saudita contra o Irã (provavelmente simbolizada, mas não necessariamente criada pelo notório príncipe Bandar) pouco tem a ver com a “ameaça” de alguma “hegemonia iraniana” (história frequentemente repetida na imprensa-grande-empresa). Para mim, a coisa tem muito a ver, isso sim, com a decisão dos sauditas de adotarem posição proativa contra a agitação popular democrática que se viu nos levantes da Primavera Árabe. Para tanto, os sauditas optaram por apoiar a teologia e a governança sunitas, não só em países de maioria xiita, como Bahrain, Iraque, Líbano e Síria, mas também na Líbia (onde a Arábia Saudita e sua criatura, o “Conselho de Cooperação do Golfo”, foram as primeiras forças a exigir intervenção contra Gaddafi) e no Egito. É fácil para a Arábia Saudita pendurar-se de carona na campanha antiIrã promovida por EUA e Israel, e citar alguma subversão iraniana como pretexto para a campanha contra os sunitas. Se se retira o Irã da liga dos inimigos existenciais a subverter a “pátria sunita”, a Arábia Saudita fica exposta e vê-se claramente que se empenha em proteger o wahhabismo mais obscurantista, contra a democracia liberal. É péssima posição.
4) Observadores ocidentais mostraram surpresa ante a sabotagem explícita obrada pela França, a serviço de Israel, contra as negociações nucleares iranianas em Genebra, sabotagem da qual a França não pediu desculpas.
Houve lamentações no campo do centro-esquerda, de que a França estaria agindo por ganância, no intuito de melhorar as condições de negociação entre os sunitas e os fabricantes franceses de armas. Pode ser. Mas acho que mais importante que isso é o caráter estratégico do envolvimento dos franceses.
Não esqueçamos que a tradicional esfera de influência sobre a qual os franceses sempre atuaram no Oriente Médio sempre foi o “Levante” – aquele pedaço do litoral que inclui o sul da Turquia, Síria e Líbano. A França declara-se paternalmente interessada nos católicos sanguinários, fascistas e pró-israelenses que há entre os maronitas libaneses, grupo cujas origens remontam às Cruzadas e é, talvez, o mais vergonhoso legado do entusiasmo francês, sempre que se intromete no Oriente Médio.
Antes de a Síria ser incendiada, a França comandava um movimento para implantar Bashar al-Assad no centro dos afetos ocidentais.
Vale também lembrar que a aventura líbia foi criada pelo entusiasmo francês; que a França foi também, fácil, o mais empenhado propagandista de um ataque militar, pelos EUA, contra a Síria, imediatamente depois que alguém lá ultrapassou a linha vermelha do presidente Obama & gases.
Com os EUA já manifestando desejo de pender na direção do Irã, nem que seja só um pouquinho, todo o quebra-cabeça do Oriente Médio foi virado de cabeça para baixo. E a França é, de todo o ocidente, o país com mais potencial para modelar e lucrar com o novo alinhamento.
Podemos, com muita razão, nos indignar por a França ajudar Israel, mas, se os EUA se pivotearem na direção da Ásia, como prometeram, não é improvável que se cogite de redefinir o Oriente Médio árabe como um constructo mediterrâneo, com a França no papel de base e pedra fundamental do arranjo (e detonador-em-chefe do Irã).
IMPORTANTE: O Irã quer um aliado europeu? Ora... a Alemanha aí está, só esperando o convite.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDb8R4NapLRg7RiQL58GgX3mIr1eWxRkBLgMEIXL56OPaOQMBVxkHPo4_qnD6u2-BzEDAkDIknOb_BZpua9S72tSxr2eBuGyEpFjga0h2A9U-W1-3Q0Qa-kuulLAMI19Yp41ZZ5lLHO5g/s200/Angela+Merkel+careta.jpg)
Angela Merkel, Chanceller da Alemanha
Para ilustração e edificação do espírito dos leitores desse blog “China Matters”, ofereço aí dois artigos e argumentos para seus arquivos e reflexão:
Primeiro, uma reflexão sobre o já longevo empenho dos sauditas para semear a discórdia no ninho das seitas e dos sectarismos, não só no Bahrain, mas em toda a região do Golfo Pérsico. Espero que essa leitura sirva como corretivo às cômicas elaborações sobre a subversão que estaria sendo ativada pelos iranianos, a mais típica das quais é que o regime de Assad, xiita alawita, estaria, ele mesmo, promovendo um sectarismo suicidário na Síria. De fato, a adesão religiosa aos sunitas na maioria síria é considerada um dragão a ser cutucado e despertado – a serviço da avalanche conservadora saudita, ativa contra qualquer democracia não sectária, seja no reino, seja na região.
[4/4/2011, “Bahrain and Saudi Arabia’s Rulers Goose-Step to the Brink of the Abyss” [Governantes do Bahrain e da Arábia Saudita marcham em passo de ganso, à beira do abismo] (em inglês)].
____________________
Segundo, uma discussão sobre a perene questão de se Israel seria ameaça unilateral crível contra o programa nuclear do Irã. Em outras palavras: Israel tem ou não tem potência militar para atacar militarmente o Irã? Quando escrevi esse artigo, em fevereiro de 2012, entendia-se em geral pouco provável que a Arábia Saudita aceitasse a missão de reabastecer os bombardeiros israelenses; e entendia-se plausível que as forças ocupantes dos EUA no Iraque prestariam esse serviço.
Hoje, tudo mudou. Sob as atuais circunstâncias, eu diria que o entusiasmo da Arábia Saudita para lutar até o último homem a favor dos EUA, aplica-se hoje em Israel. E parece-me que nem Israel nem a Arábia Saudita têm estômago para atacar o Irã e, talvez, iniciar uma guerra regional, sem contar com forte apoio dos EUA, do tipo que o governo Obama já não parece interessado em oferecer; tomara que eu esteja certo.
Seja como for, o verdadeiro jogo está sendo jogado na Síria e no oeste do Iraque, regiões que, e não só pela exasperante questão da al-Qaeda, tiro que nos saiu pela culatra, estão sendo vistas com imaculada alegria como campos férteis para o avanço dos sunitas e morticínio ininterrupto, e aconteça o que acontecer com o Irã.
[3/2/2012, “Israel Attack on Iran: Same BS Different Day” [Ataque de Israel ao Irã: nova data, mesmo besteirol (orig. “Bullshit”, ab. “BS”)] (em inglês)].
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7fYATaD2CasRMapfmzAKAmpo2Nhgunt5rVWNMOZcTfMk-DC3g8L74i1IeXo25Yh2G6YXhnTS2-c-cVA_BYxQScvMQPAdDYMdj5-97mMk-ifKwPu2BDZutFyBeUNH6dnDr95pCcu7xeKg/s400/F-15+Eagles+e+F-16+Fighting+Falcons.jpg)
F-15 Eagles e F-16 Fighting Falcons
Desse segundo artigo, recorto aqui uns parágrafos:
“Nos últimos dias de maio e primeira semana de junho de 2008, Israel encenou um impressionante exercício militar, fartamente noticiado, sobre Creta, do qual participou a Força Aérea da Grécia.
Mais de 100 jatos F-16 e F-15 israelenses de combate, além de helicópteros de resgate israelenses e aviões de reabastecimento em voo, lá estavam, ativos num número impressionante de ataques fingidos.
O que se dizia é que os aviões israelenses jamais pousaram e foram continuadamente reabastecidos em voo, a partir de plataformas embarcadas de reabastecimento.
O plano de Israel era demonstrar que uma distância de 1.400 km poderia ser superada, com a força aérea israelense em perfeito estado, sem pousos para reabastecimento, e efetiva. 1.400 km é precisamente a distância que separa Israel e a usina de enriquecimento de urânio Natanz”.
No início de 2011, o “Jerusalem Post” noticiou que Israel recebeu um 707 para ser convertido em avião-tanque para reabastecer seus bombardeiros F15-I de volta do Irã. Quantos outros aviões tanques Israel possui é “informação classificada”, mas há quem fale de 7 ou 8 Boeings 707 convertidos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmxQO2mIvd5aXIvk56S9hyoUzQUYVD_3lZ1xn0V4SM-f42lHTJYko_fJpcad8uPWe7HGWYLrLJZkPZT3aRm2E7ef0HfiYP1Uzn5zNcyEAouVU-jo240nhTg57mpzt6omwbGzYM79SyPVw/s400/Boeing+707+will+be+converted+into+a+midair+refueling+tanke.jpg)
Boeing-707 convertido em avião-tanque para reabastecimento aéreo
O artigo do “Jerusalem Post” prossegue:
“A Força Aérea de Israel ampliou sua frota de aviões tanques nos anos recentes e agora planeja esperar que a Força Aérea dos EUA decida sobre o próximo modelo de avião tanque, antes de comprar outras aeronaves”.
Se se lê nas entrelinhas, parece que os EUA não estão especialmente interessados em entregar aviões tanques e aumentar a capacidade israelense para ataques aéreos unilaterais contra o Irã.
Segundo Karl Vick, da revista “Time”, Israel não tem capacidade para reabastecer aviões em voo e, no que interessa, tampouco tem capacidade de artilharia, para manter ataque sustentado contra o Irã por semanas:
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib_MBGOBqcPa39maza_hznfZUO-tcfJh0ty4PHooJ2Re2FmPppYen4HTCM-YCTA7AfPxJrmlqgsXXfAXHQadCSLCwoQ2UAObqH-R2p5YkbZjHHMLCrHl9LaTSnjAmHPalr76MagKVrHfM/s1600/karl.vick.jpg)
Karl Vick, da "Time"
“Ponto no qual todos concordam, porém é que, por mais formidável que seja a Força Aérea de Israel, ela simplesmente não tem a capacidade mínima necessária para manter o tipo de bombardeio sustentado, por várias semanas, necessário para derrubar o programa nuclear iraniano, consideradas as pausas para avaliação de danos, antes de novas ondas de bombardeio. Sem plataformas avançadas, como porta-aviões, a armada aérea israelense tem de depender do reabastecimento em voo para alcançar alvos que estão a mais de 1.200 km de distância. E quem leia as ordens-de-batalha de Israel vê que não contam com mais de meia dúzia de aviões desse tipo.
Outra dificuldade observada pelos analistas é o inventário das bombas penetra-bunkers, do tipo capaz de penetrar nas paredes de concreto ou de rocha que protegem as centrífugas instaladas em Natanz e agora também em Fordow, perto de Qom. Israel tem várias bombas GBU-28, que talvez penetrem as paredes de Natanz. Mas só a Força Aérea dos EUA tem o detonador-penetrador “Massive Ordnance Penetrator” de 13,607 toneladas que poderia levar as bombas até Fordow, a instalação nuclear escavada na rocha, onde, dizem alguns críticos, o Irã estaria enriquecendo urânio a níveis de utilização militar”.
Assim sendo, por que tantos insistem em repetir e discutir as ameaças israelenses de ataques ao Irã?
Tenho frequentemente comentado que o principal objetivo das ameaças de atacar o Irã é agitar as correntes do fantasma, tentando dificultar o mais possível qualquer possível aproximação entre os EUA e o Irã. (...)
Quanto à insistência dos israelenses de que atacarão o Irã se não sossegarmos nossos fachos, ofereço aqui uma análise que me pareceu interessante e persuasiva.
Ali se argumenta que a Força Aérea de Israel simplesmente não tem os cavalos necessários para transportar o armamento necessário para um ataque terminal contra as reforçadas, resistentes e dispersas instalações iranianas, em missão de milhares de quilômetros – e, lembrem-se: quanto mais combustível é carregado, menos armas – a menos que os EUA ou ajudem no reabastecimento dos aviões israelenses, ou permitam que os aviões de ataque decolem de bases dos EUA no Iraque. E, provavelmente, sequer nesse caso.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeO58kKLwY112KMAYBdXLNJ_QdvFS_Huo5xLXYr2K5oDQDmNb1gbX1W9-xIb1C5pTnHdbebjcmRsLzYMgzsVkmXt2n3ZXo9CfYHBbKKho1qhl5AgypsHeUevMZ2YOBajgSC5ehz1hcRrw/s400/natanz-29aug02_1.jpg)
Vista em planta do Complexo Nuclear de Natanz, Irã (foto de 2002)
Em resumo, temos que:
“Teoricamente, os israelenses poderiam dar conta da missão, mas sob altíssimo risco de fracassarem. Se decidirem atacar Natanz, terão de provocar vastos danos no primeiro ataque – e provavelmente não conseguirão montar ataques subsequentes contra as outras instalações.
Feitas todas as análises, só há um exército capaz de empreender e manter operações aéreas em amplas áreas e sustentadas, indispensáveis para eliminar o programa de armas nucleares do Irã: os EUA”.
Os israelenses poderiam começar alguma coisa – mas caberia ao Tio Sam terminar o serviço.
Colho esse argumento, para apoiar minha tese, segundo a qual um ponto chave, para Israel, no raid contra a Síria, foi o tipo de apoio norte-americano que gerou – ou não gerou – e o que tal apoio significaria para Israel, se movesse ataque igualmente dramático, mas menos conclusivo contra Natanz, na esperança de que os EUA se sentissem obrigados a entrar na campanha.
Tudo isso para dizer que “atacar o Irã”, só se for nossa guerra dos EUA. Não sei se essa conclusão mais me tranquiliza ou mais me perturba”.
FONTE: do Blog “China Matters”, sob o título “The Saudi-Israeli-French Axis of Anxiety Over US-Iran Rapprochement”. Traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/11/ira-versus-o-eixo-da-ansiedade-sauditas.html). [Título adicionado por este blog ‘democracia&política’].
Do Blog “China Matters”, sob o título “The Saudi-Israeli-French Axis of Anxiety Over US-Iran Rapprochement”. Traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado no blog “Redecastorphoto”
“Com a reaproximação EUA-Irã andando a passo de cágado, mas mesmo assim andando, em direção a uma, pelo menos, consumação parcial, em Genebra, quero fazer aqui algumas ralas observações:
1) A “ameaça” das armas nucleares iranianas sempre foi conversa fiada, pretexto para que várias potências pudessem promover uma agenda antiIrã.
2) O principal, dentre os suspeitos de sempre é, claro, Israel governado pelo primeiro-ministro Netanyahu. Se o governo israelense consegue inventar e divulgar o Irã como potência nuclear e ameaça “existencial” a Israel, então os israelenses passam a poder merecer a simpatia dos EUA, além de apoio e proteção. Mas se o Irã volta a ter melhores relações com os EUA, Israel passa a temer que os EUA mostrem-se menos dispostos a continuar a arcar com o considerável custo político, diplomático e econômico que resulta do “aval” que sempre deram à recusa obstinada dos israelenses, que teimam em não confessar que abrigam gigantesco arsenal atômico em seu território; e passa a ser possível que os EUA forcem Israel a integrar-se ao regime internacional de controle de armas.
3) Outra potência regional interessada em bater o tambor da “ameaça iraniana” é a Arábia Saudita. Mas entendo que a posição muito destacada do Reino Saudita contra o Irã (provavelmente simbolizada, mas não necessariamente criada pelo notório príncipe Bandar) pouco tem a ver com a “ameaça” de alguma “hegemonia iraniana” (história frequentemente repetida na imprensa-grande-empresa). Para mim, a coisa tem muito a ver, isso sim, com a decisão dos sauditas de adotarem posição proativa contra a agitação popular democrática que se viu nos levantes da Primavera Árabe. Para tanto, os sauditas optaram por apoiar a teologia e a governança sunitas, não só em países de maioria xiita, como Bahrain, Iraque, Líbano e Síria, mas também na Líbia (onde a Arábia Saudita e sua criatura, o “Conselho de Cooperação do Golfo”, foram as primeiras forças a exigir intervenção contra Gaddafi) e no Egito. É fácil para a Arábia Saudita pendurar-se de carona na campanha antiIrã promovida por EUA e Israel, e citar alguma subversão iraniana como pretexto para a campanha contra os sunitas. Se se retira o Irã da liga dos inimigos existenciais a subverter a “pátria sunita”, a Arábia Saudita fica exposta e vê-se claramente que se empenha em proteger o wahhabismo mais obscurantista, contra a democracia liberal. É péssima posição.
4) Observadores ocidentais mostraram surpresa ante a sabotagem explícita obrada pela França, a serviço de Israel, contra as negociações nucleares iranianas em Genebra, sabotagem da qual a França não pediu desculpas.
Houve lamentações no campo do centro-esquerda, de que a França estaria agindo por ganância, no intuito de melhorar as condições de negociação entre os sunitas e os fabricantes franceses de armas. Pode ser. Mas acho que mais importante que isso é o caráter estratégico do envolvimento dos franceses.
Não esqueçamos que a tradicional esfera de influência sobre a qual os franceses sempre atuaram no Oriente Médio sempre foi o “Levante” – aquele pedaço do litoral que inclui o sul da Turquia, Síria e Líbano. A França declara-se paternalmente interessada nos católicos sanguinários, fascistas e pró-israelenses que há entre os maronitas libaneses, grupo cujas origens remontam às Cruzadas e é, talvez, o mais vergonhoso legado do entusiasmo francês, sempre que se intromete no Oriente Médio.
Antes de a Síria ser incendiada, a França comandava um movimento para implantar Bashar al-Assad no centro dos afetos ocidentais.
Vale também lembrar que a aventura líbia foi criada pelo entusiasmo francês; que a França foi também, fácil, o mais empenhado propagandista de um ataque militar, pelos EUA, contra a Síria, imediatamente depois que alguém lá ultrapassou a linha vermelha do presidente Obama & gases.
Com os EUA já manifestando desejo de pender na direção do Irã, nem que seja só um pouquinho, todo o quebra-cabeça do Oriente Médio foi virado de cabeça para baixo. E a França é, de todo o ocidente, o país com mais potencial para modelar e lucrar com o novo alinhamento.
Podemos, com muita razão, nos indignar por a França ajudar Israel, mas, se os EUA se pivotearem na direção da Ásia, como prometeram, não é improvável que se cogite de redefinir o Oriente Médio árabe como um constructo mediterrâneo, com a França no papel de base e pedra fundamental do arranjo (e detonador-em-chefe do Irã).
IMPORTANTE: O Irã quer um aliado europeu? Ora... a Alemanha aí está, só esperando o convite.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDb8R4NapLRg7RiQL58GgX3mIr1eWxRkBLgMEIXL56OPaOQMBVxkHPo4_qnD6u2-BzEDAkDIknOb_BZpua9S72tSxr2eBuGyEpFjga0h2A9U-W1-3Q0Qa-kuulLAMI19Yp41ZZ5lLHO5g/s200/Angela+Merkel+careta.jpg)
Angela Merkel, Chanceller da Alemanha
Para ilustração e edificação do espírito dos leitores desse blog “China Matters”, ofereço aí dois artigos e argumentos para seus arquivos e reflexão:
Primeiro, uma reflexão sobre o já longevo empenho dos sauditas para semear a discórdia no ninho das seitas e dos sectarismos, não só no Bahrain, mas em toda a região do Golfo Pérsico. Espero que essa leitura sirva como corretivo às cômicas elaborações sobre a subversão que estaria sendo ativada pelos iranianos, a mais típica das quais é que o regime de Assad, xiita alawita, estaria, ele mesmo, promovendo um sectarismo suicidário na Síria. De fato, a adesão religiosa aos sunitas na maioria síria é considerada um dragão a ser cutucado e despertado – a serviço da avalanche conservadora saudita, ativa contra qualquer democracia não sectária, seja no reino, seja na região.
[4/4/2011, “Bahrain and Saudi Arabia’s Rulers Goose-Step to the Brink of the Abyss” [Governantes do Bahrain e da Arábia Saudita marcham em passo de ganso, à beira do abismo] (em inglês)].
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Segundo, uma discussão sobre a perene questão de se Israel seria ameaça unilateral crível contra o programa nuclear do Irã. Em outras palavras: Israel tem ou não tem potência militar para atacar militarmente o Irã? Quando escrevi esse artigo, em fevereiro de 2012, entendia-se em geral pouco provável que a Arábia Saudita aceitasse a missão de reabastecer os bombardeiros israelenses; e entendia-se plausível que as forças ocupantes dos EUA no Iraque prestariam esse serviço.
Hoje, tudo mudou. Sob as atuais circunstâncias, eu diria que o entusiasmo da Arábia Saudita para lutar até o último homem a favor dos EUA, aplica-se hoje em Israel. E parece-me que nem Israel nem a Arábia Saudita têm estômago para atacar o Irã e, talvez, iniciar uma guerra regional, sem contar com forte apoio dos EUA, do tipo que o governo Obama já não parece interessado em oferecer; tomara que eu esteja certo.
Seja como for, o verdadeiro jogo está sendo jogado na Síria e no oeste do Iraque, regiões que, e não só pela exasperante questão da al-Qaeda, tiro que nos saiu pela culatra, estão sendo vistas com imaculada alegria como campos férteis para o avanço dos sunitas e morticínio ininterrupto, e aconteça o que acontecer com o Irã.
[3/2/2012, “Israel Attack on Iran: Same BS Different Day” [Ataque de Israel ao Irã: nova data, mesmo besteirol (orig. “Bullshit”, ab. “BS”)] (em inglês)].
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7fYATaD2CasRMapfmzAKAmpo2Nhgunt5rVWNMOZcTfMk-DC3g8L74i1IeXo25Yh2G6YXhnTS2-c-cVA_BYxQScvMQPAdDYMdj5-97mMk-ifKwPu2BDZutFyBeUNH6dnDr95pCcu7xeKg/s400/F-15+Eagles+e+F-16+Fighting+Falcons.jpg)
F-15 Eagles e F-16 Fighting Falcons
Desse segundo artigo, recorto aqui uns parágrafos:
“Nos últimos dias de maio e primeira semana de junho de 2008, Israel encenou um impressionante exercício militar, fartamente noticiado, sobre Creta, do qual participou a Força Aérea da Grécia.
Mais de 100 jatos F-16 e F-15 israelenses de combate, além de helicópteros de resgate israelenses e aviões de reabastecimento em voo, lá estavam, ativos num número impressionante de ataques fingidos.
O que se dizia é que os aviões israelenses jamais pousaram e foram continuadamente reabastecidos em voo, a partir de plataformas embarcadas de reabastecimento.
O plano de Israel era demonstrar que uma distância de 1.400 km poderia ser superada, com a força aérea israelense em perfeito estado, sem pousos para reabastecimento, e efetiva. 1.400 km é precisamente a distância que separa Israel e a usina de enriquecimento de urânio Natanz”.
No início de 2011, o “Jerusalem Post” noticiou que Israel recebeu um 707 para ser convertido em avião-tanque para reabastecer seus bombardeiros F15-I de volta do Irã. Quantos outros aviões tanques Israel possui é “informação classificada”, mas há quem fale de 7 ou 8 Boeings 707 convertidos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmxQO2mIvd5aXIvk56S9hyoUzQUYVD_3lZ1xn0V4SM-f42lHTJYko_fJpcad8uPWe7HGWYLrLJZkPZT3aRm2E7ef0HfiYP1Uzn5zNcyEAouVU-jo240nhTg57mpzt6omwbGzYM79SyPVw/s400/Boeing+707+will+be+converted+into+a+midair+refueling+tanke.jpg)
Boeing-707 convertido em avião-tanque para reabastecimento aéreo
O artigo do “Jerusalem Post” prossegue:
“A Força Aérea de Israel ampliou sua frota de aviões tanques nos anos recentes e agora planeja esperar que a Força Aérea dos EUA decida sobre o próximo modelo de avião tanque, antes de comprar outras aeronaves”.
Se se lê nas entrelinhas, parece que os EUA não estão especialmente interessados em entregar aviões tanques e aumentar a capacidade israelense para ataques aéreos unilaterais contra o Irã.
Segundo Karl Vick, da revista “Time”, Israel não tem capacidade para reabastecer aviões em voo e, no que interessa, tampouco tem capacidade de artilharia, para manter ataque sustentado contra o Irã por semanas:
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib_MBGOBqcPa39maza_hznfZUO-tcfJh0ty4PHooJ2Re2FmPppYen4HTCM-YCTA7AfPxJrmlqgsXXfAXHQadCSLCwoQ2UAObqH-R2p5YkbZjHHMLCrHl9LaTSnjAmHPalr76MagKVrHfM/s1600/karl.vick.jpg)
Karl Vick, da "Time"
“Ponto no qual todos concordam, porém é que, por mais formidável que seja a Força Aérea de Israel, ela simplesmente não tem a capacidade mínima necessária para manter o tipo de bombardeio sustentado, por várias semanas, necessário para derrubar o programa nuclear iraniano, consideradas as pausas para avaliação de danos, antes de novas ondas de bombardeio. Sem plataformas avançadas, como porta-aviões, a armada aérea israelense tem de depender do reabastecimento em voo para alcançar alvos que estão a mais de 1.200 km de distância. E quem leia as ordens-de-batalha de Israel vê que não contam com mais de meia dúzia de aviões desse tipo.
Outra dificuldade observada pelos analistas é o inventário das bombas penetra-bunkers, do tipo capaz de penetrar nas paredes de concreto ou de rocha que protegem as centrífugas instaladas em Natanz e agora também em Fordow, perto de Qom. Israel tem várias bombas GBU-28, que talvez penetrem as paredes de Natanz. Mas só a Força Aérea dos EUA tem o detonador-penetrador “Massive Ordnance Penetrator” de 13,607 toneladas que poderia levar as bombas até Fordow, a instalação nuclear escavada na rocha, onde, dizem alguns críticos, o Irã estaria enriquecendo urânio a níveis de utilização militar”.
Assim sendo, por que tantos insistem em repetir e discutir as ameaças israelenses de ataques ao Irã?
Tenho frequentemente comentado que o principal objetivo das ameaças de atacar o Irã é agitar as correntes do fantasma, tentando dificultar o mais possível qualquer possível aproximação entre os EUA e o Irã. (...)
Quanto à insistência dos israelenses de que atacarão o Irã se não sossegarmos nossos fachos, ofereço aqui uma análise que me pareceu interessante e persuasiva.
Ali se argumenta que a Força Aérea de Israel simplesmente não tem os cavalos necessários para transportar o armamento necessário para um ataque terminal contra as reforçadas, resistentes e dispersas instalações iranianas, em missão de milhares de quilômetros – e, lembrem-se: quanto mais combustível é carregado, menos armas – a menos que os EUA ou ajudem no reabastecimento dos aviões israelenses, ou permitam que os aviões de ataque decolem de bases dos EUA no Iraque. E, provavelmente, sequer nesse caso.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeO58kKLwY112KMAYBdXLNJ_QdvFS_Huo5xLXYr2K5oDQDmNb1gbX1W9-xIb1C5pTnHdbebjcmRsLzYMgzsVkmXt2n3ZXo9CfYHBbKKho1qhl5AgypsHeUevMZ2YOBajgSC5ehz1hcRrw/s400/natanz-29aug02_1.jpg)
Vista em planta do Complexo Nuclear de Natanz, Irã (foto de 2002)
Em resumo, temos que:
“Teoricamente, os israelenses poderiam dar conta da missão, mas sob altíssimo risco de fracassarem. Se decidirem atacar Natanz, terão de provocar vastos danos no primeiro ataque – e provavelmente não conseguirão montar ataques subsequentes contra as outras instalações.
Feitas todas as análises, só há um exército capaz de empreender e manter operações aéreas em amplas áreas e sustentadas, indispensáveis para eliminar o programa de armas nucleares do Irã: os EUA”.
Os israelenses poderiam começar alguma coisa – mas caberia ao Tio Sam terminar o serviço.
Colho esse argumento, para apoiar minha tese, segundo a qual um ponto chave, para Israel, no raid contra a Síria, foi o tipo de apoio norte-americano que gerou – ou não gerou – e o que tal apoio significaria para Israel, se movesse ataque igualmente dramático, mas menos conclusivo contra Natanz, na esperança de que os EUA se sentissem obrigados a entrar na campanha.
Tudo isso para dizer que “atacar o Irã”, só se for nossa guerra dos EUA. Não sei se essa conclusão mais me tranquiliza ou mais me perturba”.
FONTE: do Blog “China Matters”, sob o título “The Saudi-Israeli-French Axis of Anxiety Over US-Iran Rapprochement”. Traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/11/ira-versus-o-eixo-da-ansiedade-sauditas.html). [Título adicionado por este blog ‘democracia&política’].
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