Por Thierry Meyssan, no “Al-Watan” (Síria)
“A verdade é outra, muito diferente: a OTAN e o CCG perderam, sucessivamente, uma guerra da 4ª geração e uma guerra de tipo nicaraguense. Foram eles, e apenas eles, que organizaram e financiaram a morte de 120.000 sírios.
Uma das manobras da preparação da Conferência de Genebra é a de reescrever a história da Síria. As potências da OTAN e do “Conselho de Cooperação do Golfo” tentam impor a sua versão dos acontecimentos, o que lhes daria nítida vantagem à mesa das negociações. Daí, subitamente, uma avalanche de artigos e de reportagens recapitulativas na imprensa ocidental e do Golfo.
Os ocidentais e o CCG afirmam que a crise síria se situa no prolongamento da "primavera árabe". O "regime de Bachar" teria esmagado, num banho de sangue, a aspiração do seu povo à democracia. A OTAN e o CCG teriam, então, intervindo para proteger a população civil...
A realidade é muito diferente: os Estados Unidos planificaram a destruição da Síria quando de uma reunião, a 15 de setembro de 2001, em Camp David. Começaram a prepará-la adotando o “Syria Accountibility Act” (Lei de Avaliação da Síria), em 12 de dezembro de 2003.
Primeiro, tentaram precipitar a Síria na guerra fazendo adotar a Resolução nº 1559 do Conselho de Segurança [da ONU]; depois, assassinando o antigo primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, e acusando disso, nomeadamente, o presidente Al-Assad.
Tendo falhado esse cenário, subcontrataram a guerra ao Reino Unido e à França, que se prepararam para tal pelo “Tratado de Lancaster”, a 2 de novembro de 2010. O sinal de lançamento das operações foi dado pelos Estados Unidos, a partir do Cairo, no início de fevereiro de 2011.
FEVEREIRO DE 2011-JULHO DE 2012: A GUERRA DE 4ª GERAÇÃO
A partir dessa data e durante 15 meses, a OTAN e o CCG lançaram uma guerra de 4ª geração, inteiramente baseada no seu domínio da “grande mídia”. Eles fizeram crer ao mundo inteiro, e inclusive aos sírios, que todo o país se tinha revoltado, quando as mais importantes manifestações não tinham excedido as 5.000 pessoas.
Graças à atuação de franco atiradores e a comandos, eles fizeram crer numa repressão sangrenta das autoridades. Entretanto, em março-abril de 2012, após a queda do Emirado islâmico de Baba Amr, Nicolas Sarkozy negociou a retirada da França, enquanto em maio os Sírios começaram a pôr em dúvida as reportagens da “Al-Jazeera”, e em junho Washington aceitava a sua derrota na “Conferência de Genebra” (a inicial).
Durante esse período, os combatentes eram, quer takfiristas sírios (dos quais 3.000 foram feitos prisioneiros em Baba Amr), quer profissionais estrangeiros, sobretudo membros líbios da “Al-Qaida” comandados por Abdelhakim Belhaj.
Em conjunto, formavam o “Exército sírio livre”, enquadrado por oficiais britânicos e franceses, e dispondo da assistência logística da Turquia.
JULHO DE 2012-AGOSTO DE 2013: A GUERRA DE TIPO NICARAGUENSE
A eleição de François Hollande para a presidência francesa, e a nomeação do sionista Laurent Fabius para o ministério das Relações exteriores, relançou a guerra. Apoiando-se na CIA, do general David Petraeus, e na perícia do embaixador Robert S. Ford (antigo assistente de John Negroponte), a França lançou o rastilho de uma nova guerra, de tipo nicaraguense, dessa vez reunindo em Paris os "Amigos da Síria", a 6 de julho de 2012.
Duas semanas mais tarde, um mega-atentado decapitava as forças armadas ao assassinar os membros do Conselho Nacional de Segurança. De imediato, 40.000 jihadistas estrangeiros, apoiados por alguns milhares de sírios e enquadrados por oficiais franceses e britânicos, lançaram-se ao assalto de Damasco.
Esse foi o momento da verdade. Os sírios, até aí muito passivos, ajudaram o seu exército a defender a capital e a repelir os invasores. Seguiu-se-lhe um ano de cruel e mortífera guerra, que fez mais de 100.000 mártires.
Durante esse período, os Estados Unidos optaram por se retirar, deixando os seus aliados fazerem o trabalho no local. Quando muito, tentaram exercer pressão sobre o Catar e a Arábia Saudita para limitar o peso dos jihadistas, e favorecer os mercenários laicos.
Centros de recrutamento foram abertos na Tunísia e no Afeganistão. Pontes aéreas foram organizadas, a partir da Líbia ou do Iêmen, para encaminhar dezenas de milhares de jihadistas vindos para a morte na Síria.
Tal como na Nicarágua, encontraram-se sírios para os apoiar, mas, na realidade, eles serviram mais para controlar as "zonas libertadas" que para se baterem contra o exército regular.
DE AGOSTO DE 2013 À DATA DE HOJE: O FRACASSO DA OTAN
Constatando o seu novo fracasso, as potências da OTAN e do CCG tentaram ultrapassar, de outro modo, os vetos russo e chinês no Conselho de Segurança. Ao montar um crime, ao qual deram enorme aura simbólica, elas justificariam uma intervenção internacional com o álibi da “proteção da população civil”. Desse modo, poderiam acabar bombardeando o país como o tinham feito na Líbia.
O ataque químico de Ghoutta, a 21 de Agosto de 2013, foi organizado pela OTAN. As armas foram encaminhadas a partir de uma caserna do exército turco até Damasco e as mídias de guerra, habituais, foram mobilizadas para fazer desse episódio um assunto mais grave que todos os outros.
Mas o deslocamento, e colocação imprevista, da marinha russa ao largo das costas mediterrânicas teria constrangido o Pentágono a realizar o ataque a partir do Mar Vermelho; sobrevoando, por isso, a Jordânia e a Arábia Saudita, quer dizer, mergulhando os seus aliados na guerra.
Tendo Washington renunciado a entrar num conflito regional, a sua diplomacia empenha-se depois a preparar a "Conferência de Genebra 2".
GENEBRA 2
A "Conferência de Genebra 2", que se realizará, provavelmente, no final de janeiro de 2014, deverá pôr fim a três anos de guerra. Segundo a versão que se registrará dos acontecimentos, a Síria terá atravessado uma guerra civil da qual sairá vencedora face a uma agressão estrangeira.
São, pois, os dirigentes ocidentais e do Golfo os responsáveis pela guerra, e que carregam a culpabilidade pela morte de 120.000 sírios e de dezenas de milhares de jihadistas.”
FONTE: escrito por Thierry Meyssan, no “Al-Watan” (Síria). Transcrito na “Rede Voltaire” e no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=229889&id_secao=9).
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