quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Corrupção: ALÉM DA POLÍTICA, BRASILEIROS DEVEM OLHAR PARA O ESPELHO



Por Bob Fernandes, no “Terra Magazine”

“Tempos difíceis quando falar de Política é falar de prontuários, de casos de polícia. Tempos difíceis quando políticos e partidos chamam a polícia para fazer Política.

Chamam e falam de polícia, todos, como se fizessem Política. A Política se torna, assim, assunto de polícia.

Tempo muito difícil. Porque desafios como a violência, por exemplo, só serão enfrentados com ampla ação da sociedade. Portanto, com a Política, não só com a polícia.

Tempo difícil quando tantos se rendem à avacalhação da Política. Da Política no seu sentido maior.

Sem a Política, no seu sentido pleno, uma sociedade não se entende, não se encontra. Quando Política e polícia se confundem no noticiário, no imaginário, algo deu errado.

Quando um país tem mais de 1 milhão de assassinatos em 30 anos, muito já deu errado. Muito errado quando se mata 50 mil a cada ano e a sociedade, e suas Mídias, debatem como se a Política fosse apenas um assunto de polícia.

Quando líderes e partidos se acusam de corrupção, e quase todos têm razão, algo está muito fora do lugar. Quando sociedade e Mídias discutem sobre quem rouba mais, e não se chega a um consenso, muito está fora do lugar.

Quando acusação de corrupção é rebatida com acusação de corrupção, e parece sobrar razão, é tempo de cuidado e de muita reflexão. Por onde se anda a conversa é a mesma: corrupção e corruptos. Estranho, ou muito revelador, é o silêncio quanto aos corruptores.

Não são muitas as hipóteses. Ou a corrupção tem mesmo essa dimensão ou, na ausência, na falência da Política, se usa e se abusa do tema corrupção para fazer Política. E a história já ensinou mais de uma vez: esse caminho leva à escuridão.

Depois da catarse de junho nas ruas, a Política teve uma chance. Mas, responsabilidade de todos, nada mudou nas estruturas do fazer, do "pagar" a Política.

Se o que se diz, o que se ouve país afora é fato, é verdade, a responsabilidade não está restrita, vai muito além da Política, dos partidos e políticos.

O Brasil tem mais de 5.600 municípios, 26 estados e o DF. São mais de 73 mil políticos, renováveis a cada 2 ou 4 anos. Deles, se diz o que se diz, mas, lembremos: eles não vieram de Marte. Os "políticos" brasileiros não brotaram do solo.

Um "Político" é um cidadão que, eventualmente, tem um mandato. Um mandato, ou um posto no serviço público, não são anteriores aos usos e costumes. Usos e costumes da sociedade precedem o mandato ou um cargo público.

A Política segue sendo assunto de polícia Brasil afora? "Político" é só isso que está nas manchetes, o que o senso comum brada nas ruas? Se isso é verdade, passou da hora de o Brasil, de os brasileiros encararem… o espelho.”

[P.S deste blog ‘democracia&política’:

Por falar em “olhar no espelho”, é oportuno, mais uma vez, relembrar às grandes empresas, inclusive de mídia, aos empresários e comerciantes em geral, e a muitos cidadãos: Deixem de hipocrisia. Sonegar impostos, por meio de omissão ou falseamento de dados para a Receita, da não emissão de notas fiscais e de inúmeras outras fraudes é roubar dinheiro público. Não são somente os políticos progressistas que “são corruptos”. Sonegar é também se apropriar, já na origem, para benefício próprio, de dinheiro que, por lei, é público.

Sobre esse roubo perpetrado por cidadãos que se dizem honestos e éticos, mas não se olham no espelho, é interessante o dado abaixo, obtido no “sonegômetro” mostrado constantemente atualizado no “Blog do Saraiva” (http://saraiva13.blogspot.com.br/):

Mais de R$ 726,987 bílhões de reais de dinheiro público já foram roubados este ano, até hoje (27 nov). Esse montante deixou de ser arrecadado pelo setor público por meio de sonegação, elisão fiscal, informalidade e outros desvios de conduta. Somente esse roubo este ano daria para construir um Brasil "padrão FIFA" em saúde, educação, estradas, mobilidade urbana, segurança pública e defesa nacional.

É quantia mais de 14 mil vezes maior que a relacionada com o tal mensalão, tão cinicamente apregoado como o “maior escândalo da história”. Com o agravante de que o dito “mensalão do PT” não utilizou dinheiro público, mas dinheiro de empréstimo com a empresa privada “Cielo” (ex-“Visanet”), tratado por certos juízes da PGR e do STF como “público” apenas como um estranho artifício jurídico específico para poder condenar-se os réus da AP 470
].

FONTE: escrito e apresentado pelo jornalista Bob Fernandes, no “Terra Magazine” (http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2013/11/26/corrupcao-alem-da-politica-brasileiros-devem-olhar-para-o-espelho/). [Observação final entre colchetes adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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