[Festa de antigos e novos neoliberais com beijos e juras de amor eterno (a direita internacional e nacional acha que com eles volta ao poder no Brasil) ]
Enviado por Miguel do Rosário para o blog “O Cafezinho”
“O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, publicou há pouco um artigo no qual prega a não destruição de pontes entre os partidos do campo progressista. Cita nominalmente PT, PCdoB, PSB e PDT, como legendas que tem um legado em comum e objetivos similares. Pede a seus dirigentes para distinguir entre as diferenças táticas (e eleitorais) e as semelhanças estratégicas (ideológicas).
É um artigo bonito, talvez até meio ingênuo do ponto-de-vista político, tanto que o jornal online "Brasil 247" explorou uma contradição: o fato de Amaral criticar economistas neoliberais que hoje estão ao lado de Marina Silva, sua correligionária e maior companheira de Eduardo Campos, presidente do PSB e pré-candidato a presidente da república.
Mas contradições fazem parte da política. Amaral faz também a luta interna de ideias, alertando seus próprios companheiros de partido.
Ademais, concordo com Amaral. É preciso fazer política com P maiúsculo e buscar convencer, unir e transformar. Os horizontes de uma revolução ainda estão distantes, diz Amaral. Mas não sempre estiveram, digo eu, inclusive às vésperas das revoluções?
De qualquer forma, a palavra de Amaral é a mensagem de uma verdadeira liderança, imbuída de senso histórico e preocupada com as armadilhas que a vaidade traz ao campo progressista. É, na verdade, uma corajosa autocrítica. E das mais duras.
"DE TÁTICA E DE ESTRATÉGIA
A eleição presidencial, do ponto de vista político-ideológico, será travada em condições mais difíceis para o campo progressista.
Por Roberto Amaral, vice-presidente do PSB.
Tática e estratégia são termos bastante conhecidos pelos militantes da esquerda, pois, de certa maneira, foram importados da guerra (Clausewitz, 1832) para a política, pela práxis do chamado marxismo-leninismo. A vitória, objetivo final da guerra, é a soma de conquistas e, às vezes, de derrotas, táticas. A história está repleta de exemplos paradigmáticos e um deles, dentre tantos, é o das retiradas táticas de Kutuzov, preparatórias da vitória da Rússia sobre Napoleão e o Exército francês. Com todos os riscos das simplificações, ouso dizer que estratégia (que se pode definir, latu senso, como a arte de explorar as condições de luta em proveito de determinado objetivo) é, politicamente, o objetivo final, e a tática, a ação instrumental – meio, ou, se quiserem, o movimento, ou guerra de posições (Gramsci), esta muito condicionada pelas circunstâncias.
O pleito de 2014, já em curso, coloca na cena adversários eleitorais, e, de certa maneira, adversários políticos, na medida em que tivermos visões políticas — visão de mundo e de Brasil–, distintas (o suposto é que comunistas, socialistas, social-democratas, trabalhistas, liberais, conservadores et caterva as tenham). Adversários que deverão se definir, e se possível se distinguir entre si, em face de problemas concretos, como saúde, educação e segurança, mazelas que não são causa, mas efeito da ordem capitalista, que os socialistas combatem.
Deles é a inimiga estratégica (final), provedora de todas as injustiças sociais cevadas pelo Estado de classes e seu testamento de desigualdades econômicas, políticas e sociais, das quais resultam (pois não caíram dos céus) a disfunção da saúde pública (e não da saúde privada), a disfunção da educação pública (e não da educação privada), a disfunção da segurança pública (e não da segurança privada). O que não funciona é o SUS. O Sírio-Libanês e os Einsteins, como seus quejandos, funcionam muito bem. Para quem pode pagar. O campo progressista combate, tendo como adversário estratégico o campo conservador. Táticas, entretanto, podem ser as divergências que sempre ocorrem em nosso campo, na busca incessante de definir o melhor meio de enfrentar o inimigo estratégico, hoje, como ontem, pronto a suprimir conquistas democráticas e sociais, pois essa é a essência do capitalismo.
O socialismo – é sempre bom lembrar – nasce da crítica ao capitalismo (e, dele consequente, a ditadura da burguesia sobre o proletariado, do capital sobre o trabalho) e tem como seu objetivo final (ou estratégico) a derrocada do regime de injustiças e sua substituição por uma sociedade sem classes, fundada, portanto, na liberdade e na igualdade. A fraternidade do Iluminismo chega por consequência. Mas a Revolução 'tout court' não está posta, e não é uma expectativa vista de nosso horizonte histórico. Por força disso que parece ser uma evidência, aqueles que contestam o capitalismo e o elegem como adversário, socialistas à frente, optaram pela via eleitoral, dentro do capitalismo e segundo suas regras, para a disputa, imediata, do governo, e, remotamente, do poder (quem sabe quando?). Em outras palavras, os revolucionários se tornam reformistas pro tempore. Mas, lembre-se sempre, sendo tática, isto é, imposta pela oportunidade, a opção reformista não implica, necessariamente, renúncia à revolução, a ser pleiteada quando as condições objetivas indicarem seu momento. O problema é que muitas vezes nem reformistas conseguimos ser.
Para os socialistas, portanto, o período eleitoral é também o rico momento de proselitismo, de defesa de suas teses, de difusão de seu programa, de conquista de adeptos. É o momento de falar ‘aos corações e mentes’, de fortalecer suas organizações e preparar as condições favoráveis para uma futura base de governo progressista.
Por força dessas considerações, todos os objetivos eleitorais são táticos, e táticas são as alianças que a lógica dos pleitos impõe, com o peso, inclusive, das contradições programáticas, desde que não se perca de vista o combate ao adversário estratégico.
É o retrato da 'realpolitik'.
A disputa pela Presidência da República, porém, não é irrelevante, ditam nossas derrotas e nossas vitórias recentes.
Significa a intervenção possível, hoje, na realidade que se pretende transformar, em favor do progresso das forças sociais. Se ainda não é possível revolver o Estado de classes, reformulemo-no, fazendo emergir os interesses das massas 'sotopostas', sempre irmãos dos interesses da Nação, do desenvolvimento, da soberania, donde, no caso brasileiro, a associação entre nacionalistas, socialistas e a esquerda de um modo geral. Dou como exemplo de iniciativa nesse sentido o governo Vargas do período democrático (1951-54). Juscelino, após a inflexão reacionária do regime tampão de Café Filho (1954-1955), reuniu o apoio popular a composições com o capital nacional e internacional. Superou as diversas tentativas de deposição e cimentou o projeto desenvolvimentista. Jango (1961-1964) assinala a primeira grande emergência das massas em todo o período republicano. Mas emergência frustrada pelo golpe militar de 1964. Lula (2003-2011) promove o encontro das grandes massas com o intento varguista da conciliação de classes. Manteve-se no poder, reelegeu-se e elegeu sua sucessora.
Nessa perspectiva, podemos dizer que, com as alianças (ações táticas) possíveis, os governos Vargas (PTB-PSD) e Lula (PT-PMDB, principalmente no segundo quatriênio) lograram perseguir o desenvolvimento (um desenvolvimentismo que eu chamaria de ‘nacional-popular’) do país como ponto de partida para realizar – não a justiça social, porque ela é impossível sob o capitalismo – mas a emergência política, econômica e social das grandes massas, produzindo riqueza e distribuindo renda como meio de reduzir as brutais desigualdades sociais e econômicas que fazem de nosso país um dos mais injustos do Planeta.
O governo Dilma, não obstante a persistente crise financeira internacional, não só dá continuidade ao binômio desenvolvimento-distribuição de renda, como ousa enfrentar o capital financeiro, ao promover a baixa dos escandalosos juros praticados desde sempre em nossa economia. Esbarra, entretanto, no alto preço que o presidencialismo brasileiro, dito de ‘coalizão’, cobra para a governabilidade que fugiu das mãos de João Goulart. Rende-se, no Congresso, à base conservadora, constituída por oportunistas de todos os matizes, sob a liderança paralisante do PMDB. O fato objetivo é que nenhum governo democrático brasileiro conseguiu realizar a reforma do Estado. Os pontos principais das ‘reformas de base’ levantadas por Jango estão dramaticamente atuais.
A disputa, portanto, dar-se-á, no plano programático-ideológico, a partir dessa realidade fática. De um lado, estará o nosso adversário estratégico, o campo "conservador", que trabalha sob o marco da tragédia que foi o governo neoliberal de FHC[/PSDB/DEM], definido como exemplar por Mailson, Malan, Armínio Fraga, Lara Rezende, Gianetti e outros, incensados no cotidiano pela mídia vassala. Do outro lado, o campo progressista, ao qual cabe consolidar e aprofundar essas conquistas da democracia brasileira, ela própria uma conquista, como a distribuição de renda, espargindo seus benefícios por um número ainda maior de brasileiros e, ademais, melhorando a qualidade desses benefícios.
Prever o futuro, adiantar os fados, isso é obra de cartomantes, pitonisas e astrólogos. Não possuo esses dons. Posso, porém, ad argumentandum, projetando para 2014 os dados de hoje, afirmar que as eleições presidenciais, do estrito ponto de vista político-ideológico, ressalte-se, travar-se-ão em condições mais difíceis para o campo progressista (considerando-se a ambiência em que se desenvolveram as eleições de 2002 até aqui), posto que, a despeito das inegáveis conquistas dos últimos 10 anos, as esquerdas se acomodaram ao presidencialismo de coalizão e perderam espaço na formulação de propostas governamentais, o que só é amenizado pela evidência de que a direita se apresenta, partidariamente, envolta em contradições internas insuperáveis no eixo São Paulo – Minas. Não tenhamos, entretanto, ilusões. Para o imperialismo americano, o Brasil é muito importante, não só do ponto de vista econômico como, principalmente, geopolítico. Na hora apropriada, a direita [estrangeira e nacional] marchará unida, com o apoio da mídia goebbeliana, a trombetear a revisão histórica das conquistas até aqui havidas e o retorno ao delírio neoliberal.
Essas considerações constituem um longo preâmbulo para a discussão de matéria que me parece mais de fundo: a continuidade da união das forças progressistas e de esquerda, para além do pleito de 2014, que, mirando-se o mundo do alto da ponte, é uma incidência, importante, mas apenas isso para quem pensa em termos históricos. A esquerda orgânica precisa cuidar para que as tricas e futricas (inevitáveis) da disputa eleitoral, a política menor, não se sobreponham ao projeto da grande política, que é a construção das opções populares. E a mais didática forma de os partidos da esquerda – PSB, PT, PCdoB e PDT -revelarem esses objetivos maiores, de união na ação, é avançarem na atuação conjunta no movimento social. No momento em que, justamente, sobreleva a febre eleitoral, é hora de nossos dirigentes [especialmente do PSB] contemplarem o futuro que é a continuidade da ação comum nas lutas empreendidas pelos movimentos sociais.
Ademais, qualquer que seja o pronunciamento da cidadania eleitoral, é fundamental, para nosso futuro, que os partidos do chamado ‘campo das esquerdas’ renovem e aumentem substancialmente suas presenças no Congresso, de especial na Câmara dos Deputados, onde, atualmente, somos esmagada minoria, a mercê de transações que se operam à margem da política e de qualquer ordem de ética.
Ninguém, a não ser os anjos no Paraíso e os paranoicos na terra, realiza a política dos seus sonhos na Passárgada que inventou; todos fazemos a política possível (com os dados fornecidos pela realidade) no mundo real, um possível condicionado pela ordem ética de cada um. A preeminência das circunstâncias sobre o sonho, da realidade sobre a vontade, não constitui, porém, um determinismo. Se ao agente político não é dado escolher as condições nas quais vai atuar, cabe-lhe, sempre escolher, livremente, o papel a exercer nas circunstâncias dadas.”
FONTE: escrito por Roberto Amaral, vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente diretor da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). Artigo transcrito no blog "O Cafezinho" (http://www.ocafezinho.com/2013/10/31/a-corajosa-autocritica-partidaria-de-roberto-amaral/).[Título, imagens do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
COMPLEMENTAÇÃO
MARINA CENSURA E TIRA O ARTIGO ACIMA DO SITE DO PSB
Mas contradições fazem parte da política. Amaral faz também a luta interna de ideias, alertando seus próprios companheiros de partido.
Ademais, concordo com Amaral. É preciso fazer política com P maiúsculo e buscar convencer, unir e transformar. Os horizontes de uma revolução ainda estão distantes, diz Amaral. Mas não sempre estiveram, digo eu, inclusive às vésperas das revoluções?
De qualquer forma, a palavra de Amaral é a mensagem de uma verdadeira liderança, imbuída de senso histórico e preocupada com as armadilhas que a vaidade traz ao campo progressista. É, na verdade, uma corajosa autocrítica. E das mais duras.
"DE TÁTICA E DE ESTRATÉGIA
A eleição presidencial, do ponto de vista político-ideológico, será travada em condições mais difíceis para o campo progressista.
Por Roberto Amaral, vice-presidente do PSB.
Tática e estratégia são termos bastante conhecidos pelos militantes da esquerda, pois, de certa maneira, foram importados da guerra (Clausewitz, 1832) para a política, pela práxis do chamado marxismo-leninismo. A vitória, objetivo final da guerra, é a soma de conquistas e, às vezes, de derrotas, táticas. A história está repleta de exemplos paradigmáticos e um deles, dentre tantos, é o das retiradas táticas de Kutuzov, preparatórias da vitória da Rússia sobre Napoleão e o Exército francês. Com todos os riscos das simplificações, ouso dizer que estratégia (que se pode definir, latu senso, como a arte de explorar as condições de luta em proveito de determinado objetivo) é, politicamente, o objetivo final, e a tática, a ação instrumental – meio, ou, se quiserem, o movimento, ou guerra de posições (Gramsci), esta muito condicionada pelas circunstâncias.
O pleito de 2014, já em curso, coloca na cena adversários eleitorais, e, de certa maneira, adversários políticos, na medida em que tivermos visões políticas — visão de mundo e de Brasil–, distintas (o suposto é que comunistas, socialistas, social-democratas, trabalhistas, liberais, conservadores et caterva as tenham). Adversários que deverão se definir, e se possível se distinguir entre si, em face de problemas concretos, como saúde, educação e segurança, mazelas que não são causa, mas efeito da ordem capitalista, que os socialistas combatem.
Deles é a inimiga estratégica (final), provedora de todas as injustiças sociais cevadas pelo Estado de classes e seu testamento de desigualdades econômicas, políticas e sociais, das quais resultam (pois não caíram dos céus) a disfunção da saúde pública (e não da saúde privada), a disfunção da educação pública (e não da educação privada), a disfunção da segurança pública (e não da segurança privada). O que não funciona é o SUS. O Sírio-Libanês e os Einsteins, como seus quejandos, funcionam muito bem. Para quem pode pagar. O campo progressista combate, tendo como adversário estratégico o campo conservador. Táticas, entretanto, podem ser as divergências que sempre ocorrem em nosso campo, na busca incessante de definir o melhor meio de enfrentar o inimigo estratégico, hoje, como ontem, pronto a suprimir conquistas democráticas e sociais, pois essa é a essência do capitalismo.
O socialismo – é sempre bom lembrar – nasce da crítica ao capitalismo (e, dele consequente, a ditadura da burguesia sobre o proletariado, do capital sobre o trabalho) e tem como seu objetivo final (ou estratégico) a derrocada do regime de injustiças e sua substituição por uma sociedade sem classes, fundada, portanto, na liberdade e na igualdade. A fraternidade do Iluminismo chega por consequência. Mas a Revolução 'tout court' não está posta, e não é uma expectativa vista de nosso horizonte histórico. Por força disso que parece ser uma evidência, aqueles que contestam o capitalismo e o elegem como adversário, socialistas à frente, optaram pela via eleitoral, dentro do capitalismo e segundo suas regras, para a disputa, imediata, do governo, e, remotamente, do poder (quem sabe quando?). Em outras palavras, os revolucionários se tornam reformistas pro tempore. Mas, lembre-se sempre, sendo tática, isto é, imposta pela oportunidade, a opção reformista não implica, necessariamente, renúncia à revolução, a ser pleiteada quando as condições objetivas indicarem seu momento. O problema é que muitas vezes nem reformistas conseguimos ser.
Para os socialistas, portanto, o período eleitoral é também o rico momento de proselitismo, de defesa de suas teses, de difusão de seu programa, de conquista de adeptos. É o momento de falar ‘aos corações e mentes’, de fortalecer suas organizações e preparar as condições favoráveis para uma futura base de governo progressista.
Por força dessas considerações, todos os objetivos eleitorais são táticos, e táticas são as alianças que a lógica dos pleitos impõe, com o peso, inclusive, das contradições programáticas, desde que não se perca de vista o combate ao adversário estratégico.
É o retrato da 'realpolitik'.
A disputa pela Presidência da República, porém, não é irrelevante, ditam nossas derrotas e nossas vitórias recentes.
Significa a intervenção possível, hoje, na realidade que se pretende transformar, em favor do progresso das forças sociais. Se ainda não é possível revolver o Estado de classes, reformulemo-no, fazendo emergir os interesses das massas 'sotopostas', sempre irmãos dos interesses da Nação, do desenvolvimento, da soberania, donde, no caso brasileiro, a associação entre nacionalistas, socialistas e a esquerda de um modo geral. Dou como exemplo de iniciativa nesse sentido o governo Vargas do período democrático (1951-54). Juscelino, após a inflexão reacionária do regime tampão de Café Filho (1954-1955), reuniu o apoio popular a composições com o capital nacional e internacional. Superou as diversas tentativas de deposição e cimentou o projeto desenvolvimentista. Jango (1961-1964) assinala a primeira grande emergência das massas em todo o período republicano. Mas emergência frustrada pelo golpe militar de 1964. Lula (2003-2011) promove o encontro das grandes massas com o intento varguista da conciliação de classes. Manteve-se no poder, reelegeu-se e elegeu sua sucessora.
Nessa perspectiva, podemos dizer que, com as alianças (ações táticas) possíveis, os governos Vargas (PTB-PSD) e Lula (PT-PMDB, principalmente no segundo quatriênio) lograram perseguir o desenvolvimento (um desenvolvimentismo que eu chamaria de ‘nacional-popular’) do país como ponto de partida para realizar – não a justiça social, porque ela é impossível sob o capitalismo – mas a emergência política, econômica e social das grandes massas, produzindo riqueza e distribuindo renda como meio de reduzir as brutais desigualdades sociais e econômicas que fazem de nosso país um dos mais injustos do Planeta.
O governo Dilma, não obstante a persistente crise financeira internacional, não só dá continuidade ao binômio desenvolvimento-distribuição de renda, como ousa enfrentar o capital financeiro, ao promover a baixa dos escandalosos juros praticados desde sempre em nossa economia. Esbarra, entretanto, no alto preço que o presidencialismo brasileiro, dito de ‘coalizão’, cobra para a governabilidade que fugiu das mãos de João Goulart. Rende-se, no Congresso, à base conservadora, constituída por oportunistas de todos os matizes, sob a liderança paralisante do PMDB. O fato objetivo é que nenhum governo democrático brasileiro conseguiu realizar a reforma do Estado. Os pontos principais das ‘reformas de base’ levantadas por Jango estão dramaticamente atuais.
A disputa, portanto, dar-se-á, no plano programático-ideológico, a partir dessa realidade fática. De um lado, estará o nosso adversário estratégico, o campo "conservador", que trabalha sob o marco da tragédia que foi o governo neoliberal de FHC[/PSDB/DEM], definido como exemplar por Mailson, Malan, Armínio Fraga, Lara Rezende, Gianetti e outros, incensados no cotidiano pela mídia vassala. Do outro lado, o campo progressista, ao qual cabe consolidar e aprofundar essas conquistas da democracia brasileira, ela própria uma conquista, como a distribuição de renda, espargindo seus benefícios por um número ainda maior de brasileiros e, ademais, melhorando a qualidade desses benefícios.
Prever o futuro, adiantar os fados, isso é obra de cartomantes, pitonisas e astrólogos. Não possuo esses dons. Posso, porém, ad argumentandum, projetando para 2014 os dados de hoje, afirmar que as eleições presidenciais, do estrito ponto de vista político-ideológico, ressalte-se, travar-se-ão em condições mais difíceis para o campo progressista (considerando-se a ambiência em que se desenvolveram as eleições de 2002 até aqui), posto que, a despeito das inegáveis conquistas dos últimos 10 anos, as esquerdas se acomodaram ao presidencialismo de coalizão e perderam espaço na formulação de propostas governamentais, o que só é amenizado pela evidência de que a direita se apresenta, partidariamente, envolta em contradições internas insuperáveis no eixo São Paulo – Minas. Não tenhamos, entretanto, ilusões. Para o imperialismo americano, o Brasil é muito importante, não só do ponto de vista econômico como, principalmente, geopolítico. Na hora apropriada, a direita [estrangeira e nacional] marchará unida, com o apoio da mídia goebbeliana, a trombetear a revisão histórica das conquistas até aqui havidas e o retorno ao delírio neoliberal.
Essas considerações constituem um longo preâmbulo para a discussão de matéria que me parece mais de fundo: a continuidade da união das forças progressistas e de esquerda, para além do pleito de 2014, que, mirando-se o mundo do alto da ponte, é uma incidência, importante, mas apenas isso para quem pensa em termos históricos. A esquerda orgânica precisa cuidar para que as tricas e futricas (inevitáveis) da disputa eleitoral, a política menor, não se sobreponham ao projeto da grande política, que é a construção das opções populares. E a mais didática forma de os partidos da esquerda – PSB, PT, PCdoB e PDT -revelarem esses objetivos maiores, de união na ação, é avançarem na atuação conjunta no movimento social. No momento em que, justamente, sobreleva a febre eleitoral, é hora de nossos dirigentes [especialmente do PSB] contemplarem o futuro que é a continuidade da ação comum nas lutas empreendidas pelos movimentos sociais.
Ademais, qualquer que seja o pronunciamento da cidadania eleitoral, é fundamental, para nosso futuro, que os partidos do chamado ‘campo das esquerdas’ renovem e aumentem substancialmente suas presenças no Congresso, de especial na Câmara dos Deputados, onde, atualmente, somos esmagada minoria, a mercê de transações que se operam à margem da política e de qualquer ordem de ética.
Ninguém, a não ser os anjos no Paraíso e os paranoicos na terra, realiza a política dos seus sonhos na Passárgada que inventou; todos fazemos a política possível (com os dados fornecidos pela realidade) no mundo real, um possível condicionado pela ordem ética de cada um. A preeminência das circunstâncias sobre o sonho, da realidade sobre a vontade, não constitui, porém, um determinismo. Se ao agente político não é dado escolher as condições nas quais vai atuar, cabe-lhe, sempre escolher, livremente, o papel a exercer nas circunstâncias dadas.”
FONTE: escrito por Roberto Amaral, vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente diretor da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). Artigo transcrito no blog "O Cafezinho" (http://www.ocafezinho.com/2013/10/31/a-corajosa-autocritica-partidaria-de-roberto-amaral/).[Título, imagens do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
COMPLEMENTAÇÃO
MARINA CENSURA E TIRA O ARTIGO ACIMA DO SITE DO PSB
Censura a Amaral mostra face autoritária de Marina. E seu poder sobre o PSB
"A censura do site do PSB ao próprio vice-presidente nacional do partido, retirando do ar seu artigo – no qual critica a turma “neoliberal” com quem Marina Silva e Eduardo Campos andam tomando “lições” de economia – mostra toda a hipocrisia que há no discurso “de nova politica” da dupla de candidatos.
Mesmo que Roberto Amaral, com a solidariedade de seus companheiros de partido não lhe tem, tente se fazer de “desentendido” sobre o que se passou, como fez numa entrevista ao "O Globo", o episódio revela que Marina Silva, mesmo que sem cargo formal no PSB, assumiu o papel de dona da legenda, desmoralizando publicamente seu vice-presidente sob o silêncio cúmplice e acovardado do candidato “posto” e presidente da sigla, Eduardo Campos.
Pior, mostrou, na truculência, os métodos que serão usados para “enquadrar” qualquer diferença de opinião.
Alias, Roberto Amaral, em "O Globo", diz que “tenho direito de ter opinião”.
Não tem, não.
Seu partido foi abduzido pelo estranho casal que reúne ambição e oportunismo, e um homem de esquerda, como é Amaral, ex-ministro de Lula, terá de se curvar e se calar.
Agora, no PSB, o que vale é o 'diktat' de Marina, com a nova trupe fernandista que agora lhe faz a cabeça.
Se alguém achava que Marina tinha apenas "um ar autoritário", enganou-se. Pratica, ela própria o autoritarismo.
Não quer um partido que reúna pessoas, quer um onde lhe obedeçam.
Não quer rede, quer mordaça."
FONTE da complementação: escrito por Fernando Brito no seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/index.php/censura-a-amaral-mostra-face-autoritaria-de-marina-e-seu-poder-sobre-o-psb/).
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