O RIDÍCULO DEVIDAMENTE ENQUADRADO
Por Fernando Brito
“Embora seja um bom trabalho de reportagem – e um sinal de que a ABIN é mais furada que uma peneira, como já se tornou cansativo falar – o caso da “espionagem” brasileira é de uma estupidez sem par.
A começar pelo termo "espionagem" em lugar de "contraespionagem", porque nosso país não está “indo espiar” ninguém, mas apenas cuidando do que, às escondidas, estrangeiros vêm fazendo aqui. Ou será que deveríamos celebrar também algo como a “liberdade de espiar”, para americanos montarem salas de rádio dissimuladas, franceses fuçarem nossa base espacial em Alcântara, Irã ou Iraque tratarem de seus enfrentamentos com o EUA ali em pleno Setor de Embaixadas da Asa Sul de Brasília?
Aliás, o fato de ter sido identificado um espião francês em Alcântara, muito anterior à explosão de um protótipo de nosso Veículo Lançador de Satélites ( a foto, lá em cima, segue sendo impressionante) tornava uma obrigação monitorar suas ações, ainda mais sabendo que nosso programa de satélites poderia vir a ser concorrente comercial do francês, localizado em Kourou, na Guiana Francesa.
Melhor ainda que na "Folha", agora “reforçada” na sua mediocridade por Reinaldo Azevedo, resta um Jânio de Freitas para enquadrar devidamente o caso. Sai da visão primária com que a edição do jornal tratou o tema, transformando num caso de “espionagem brasileira”.
Muito além da bobagem de querer traçar qualquer paralelo entre a invasão eletrônica dos EUA sobre nossas comunicações, em nosso território, Jânio vai ao ponto central: o jogo de poder é bruto e um país precisa se defender dele.
O eterno drama da "Folha" e dos tucanos
COISAS DELES
Por Janio de Freitas
"Gentileza não gera gentileza, não. Se há, pelo menos, dez anos são conhecidas da contraespionagem brasileira as salas sem presença humana e com equipamentos de transmissão, alugadas em Brasília pela Embaixada dos Estados Unidos, temos aí outro caso exemplar de gentileza não correspondida. A qual permite supor que, entre suas consequências, estejam a intercepção e a retransmissão, à Agência de Segurança Nacional dos EUA, das comunicações de Dilma Rousseff e de outras autoridades brasileiras.
O subterfúgio de instalações veladas está na essência da espionagem e das ações de sabotagem, mas tem mais de uma resposta eficaz. Não aplicar nem uma delas parece ser um vício brasileiro.
Bem antes do golpe de 1964, militares do Exército constataram que uma agência de turismo na rua Santa Luzia, na Cinelândia, pertinho da embaixada americana ainda instalada no Rio, na verdade era cobertura para um posto da CIA. No mesmo quarteirão, mas na rua México, ao lado da embaixada, descobriram que um curso para sargentos desejosos de fazer vestibular, ou galgar uma promoção, funcionava para cooptar e infiltrar novos agentes da CIA nos quartéis.
A confiança em que o governo Jango nunca seria derrubado e o receio de um caso problemático com o governo americano sustaram qualquer reação. Houve, se houve mesmo, algum monitoramento, que se distingue das outras ações subterrâneas por se limitar à vigilância cautelosa.
Aqueles e vários outros postos identificados estavam sujeitos, porém, a dois tipos de ação defensiva. Uma, política, de exigir que o governo americano desmontasse os postos e recambiasse os estrangeiros em ação neles (o chefe da agência de turismo era um estrangeiro de língua espanhola). Um aborrecimento diplomático, por certo.
A outra ação possível, mais simples e terminante, seria estourar os postos a pretexto de indícios ou denúncias de contrabando, lavagem de dinheiro, funcionamento irregular, essas atividades que a polícia estoura dia a dia. “Ah, era coisa de vocês? Não sabíamos, agora não há mais nada a fazer.”
Salas em Brasília com equipamentos ativos dia e noite, e presença humana muito esporádica, só servem para “guardar equipamento como rádio walkie-talkie” no cinismo conveniente à espionagem -como foi na resposta dada ao excelente repórter que é Lucas Ferraz, revelador de documentos da ABIN, a Agência Brasileira de Informação, sobre alguns monitoramentos seus.
A soma das muitas e diferentes gentilezas do governo Jango foram retribuídas do modo que se sabe. As dos governos Lula e Dilma, e provavelmente Fernando Henrique e José Sarney, sabe-se apenas que também tiveram retribuição à americana. Sabe-se graças a Edward Snowden.”
FONTE: postado por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/index.php/espionagem-na-folha-o-ridiculo-devidamente-enquadrado/).
COMPLEMENTAÇÃO
MÍDIA AMERICANA MINIMIZA "ESPIONAGEM" BRASILEIRA
Do jornal online “Brasil 247”
“Embora tenham repercutido a denúncia da "Folha" sobre ações da Agência Brasileira de Inteligência, jornais americanos como o "The New York Times", o "USA Today", o "The Wall Street Journal" e o "Huffington Post" enfatizaram que foram ações pequenas e que nem de longe podem ser comparadas à bisbilhotagem em larga escala conduzida pelo governo americano. Embora tenha servido para constranger o governo brasileiro, a denúncia [da "Folha" e da mídia americanófila] ganhou, nos Estados Unidos, sua correta medida.
Sim, deu no "New York Times". A notícia da "Folha" sobre ações conduzidas pela Agência de Inteligência Brasileira (ABIN) relacionadas a supostos alvos diplomáticos repercutiu no maior jornal americano. E colocou o Brasil, segundo a publicação, numa "posição desconfortável", por estar liderando as críticas à bisilhotagem em larga escala conduzida pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos (leia mais aqui).
No entanto, o próprio "New York Times" fez questão de enfatizar que a ação da ABIN nem de longe pode ser comparada ao que foi feito pelo governo americano nos seguintes termos:
"By almost any measure, such modest operations stand in sharp contrast to the sweeping international eavesdropping operations carried out by the National Security Agency. Brazil’s president, Dilma Rousseff, recently postponed a state visit to Washington after revelations that the N.S.A. had spied on her and the Brazilian oil giant, Petrobras".
Da mesma forma, a denúncia da "Folha" repercutiu em publicações como o "The Wall Street Journal "(leia aqui), "Huffington Post" (leia aqui) e o "USA Today" (leia aqui). Neles, a ação da ABIN foi classificada como usual e de pequeno alcance. Ou seja: nada comparável à ação da NSA, que monitorou ligações telefônicas de milhões de indivíduos e grampeou ligações de ministros e chefes de Estado.”
FONTE da complementação: jornal online “Brasil 247” (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/119848/M%C3%ADdia-americana-minimiza-espionagem-brasileira.htm). [Título, imagem do google, sua legenda e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
2 comentários:
Concordo totalmente, de forma alguma pode ser traçado qualquer tipo de paralelo. Pelo menos pelas informações que são conhecidas...
Será que o governo brasileiro (e também os demais) não está apenas fingindo esta indignação toda? Justamente por ter culpa no cartório?
Recomendo também este artigo
Edward Snowden: “Um Manifesto pela Verdade”
http://www.anovaordemmundial.com/2013/11/edward-snowden-um-manifesto-pela-verdade.html
Eco Anti-NOM,
O seu 1º parágrafo responde ao 2º. Não há, nem pode haver, fingimento. As ações não são comparáveis, tal a disparidade de magnitude e ilegalidade.
Li o artigo de Edward Snowden enviado para a revista alemã Der Spiegel. Muito bom.
Maria Tereza
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