Nas redações da mídia ‘conservadora” ocultaram-se as pesquisas que apontavam a popularidade do presidente e o apoio às Reformas de Base.
Por Flávio Aguiar
[A fórmula da direita não mudou...]
Porque não dá para falar de um sem pensar no outro.
Brizola era o grande espantalho da direita brasileira, desde as redações da mídia conservadora aos civis e militares golpistas, antes e depois do golpe.
Quem viveu, lembra da campanha: “Cunhado não é parente, Brizola pra presidente”. A legislação brasileira proibia parente de presidente de se candidatar, e a discussão girava em torno de se isso se referia apenas aos consanguíneos...
Goulart era visto como um conciliador pela direita. Era perigoso porque temiam a influência do cunhado sobre ele. Com o passar do tempo, ser conciliador também ficou perigoso para a direita, que arreganhava os dentes em toda parte.
Daí, tinha um Goulart no meio do caminho, no meio do caminho tinha um Goulart.
Antes de ser uma pedra no caminho, Goulart foi uma pedra no sapato da direita, "uma pulga na camisola", como dizia o título de famoso 'sketch' de rádio naquelas épocas.
Primeiro, como Ministro do Trabalho de Getúlio, tomou uma série de medidas em favor dos trabalhadores, como a regulamentação de aposentadorias, a convocação do Primeiro Congresso da Previdência Social, e defendeu o aumento do salário mínimo reivindicado pelos sindicatos, de 100%, contra 42% oferecidos pelas classes patronais. O sonho dessas, na verdade, era o retorno do estilo do governo Dutra, que durante sua gestão não deu num único reajuste do mínimo. Jango teve de renunciar ao ministério em fevereiro de 1954, mas em 1º de maio Getúlio assinou o decreto concedendo o aumento de 100%, sem saber ainda que [assim] já estava assinando sua Carta Testamento.
Depois, Jango elegeu-se por duas vezes vice-presidente (as votações eram separadas então): primeiro com o conciliador Juscelino Kubitschek, tendo mais votos do que este. Depois, como vice de Jânio, tendo concorrido contra este, na chapa encabeçada pelo Marechal Lott.
Quando houve o “Movimento da Legalidade” em 1961, Jango optou pela conciliação, aceitando a emenda parlamentarista. Porém, três fatores principais viriam a fazê-lo “de uma pedra no sapato”, “uma pedra no meio do caminho da direita”. O primeiro foi a rejeição da emenda parlamentarista no plebiscito de 1963 - que permanece sendo um sonho conservador no Brasil, com a desobrigação do voto e o voto distrital puro. O segundo foi a crescente “influência” de Brizola, com a radicalização da situação geral no país. O terceiro foi o comício da Central do Brasil, em 13 de março, em que o discurso do presidente, preconizando “Reformas de Base”, acendeu luzes vermelhas em todos os recantos da direita.
Nas redações da mídia conservadora – então quase toda a mídia brasileira [como hoje] – com exceção da “Última Hora” e de mais alguns pasquins alternativos, como o “Brasil Urgente” – ocultaram-se as pesquisas que apontavam a popularidade do presidente e o apoio às Reformas de Base, para não atrapalhar o embrutecedor e ensurdecedor alarido pela sua deposição e a mudança do regime. Nos quartéis, a conspiração ganhou foros de “defesa da disciplina”, coisa que atraiu até militares que em 1961 tinham defendido a “Legalidade”, como o General Machado Lopes.
Deposto Jango, sua participação política mais importante – e surpreendente – foi seu apoio à “Frente Ampla”, organizada basicamente por Carlos Lacerda, seu arqui-inimigo e do getulismo antes do golpe, com adesão de Juscelino. Por esse caminho, João Goulart voltou a ser uma pedra no sapato da direita, especialmente de sua linha dura dentro e fora dos quartéis. Sua situação ficou parecida com a de Pedro II depois de sua deposição pelo golpe de 15 de novembro de 1889. Diante das contradições do novo regime, o símbolo do antigo passa a ser lembrado com reverência, até mesmo por alguns que apoiaram a sua deposição. Jango tornou-se, assim, de fato, um perigo para a direita em avanço por toda a América do Sul.
Terá isso sido um motivo suficiente para que sua morte tenha sido ordenada por alguém, como sugerem as suspeitas ora a serem examinadas por equipes forenses da Polícia Federal, em hipóteses que vão da “Operação Condor” ao delegado Sérgio Fleury? É o que vamos saber nos próximos capítulos.
Enquanto eles não vêm, lembremos um episódio de tentativa hoje tacitamente reconhecida para matá-lo. Depois da aceitação da emenda parlamentarista, quando Jango partiria de Porto Alegre para Brasília, armou-se contra ele uma “Operação Mosquito”. Esta consistia em interceptar o avião presidencial por caças da Aeronáutica e derrubá-lo.
Caça Gloster Meteor da FAB, na época de Jango
Algumas articulações, porém, desarticularam a operação, que chegou a ser ensaiada, conforme depoimento de oficial da arma recentemente à Comissão da Verdade.
Duas delas não surpreendem. A primeira partiu de Porto Alegre, articulada pelo então comandante da Base Aérea de Canoas, tenente-coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro (depois assassinado pelos golpistas em abril de 64 na mesma base aérea), e consistiu em difundir uma série de versões evasivas sobre o plano de voo do avião presidencial.
A segunda foi a articulação de sargentos e suboficiais, além de oficiais legalistas, em várias bases aéreas do país para impedir que caças levantassem voo, como houve na de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, do mesmo modo que sargentos, suboficiais e oficiais legalistas tinham impedido, em 1961, que os caças de Canoas bombardeassem o Palácio Piratini em Porto Alegre.
A terceira – a surpreendente – foi a ação do então Chefe da Casa Militar do presidente interino Rainieri Mazzili, que fora Chefe do Serviço de Informações do Estado Maior do Exército, pressionando os chefes da conjura a abandonarem a ideia. Esse oficial chamava-se Ernesto Geisel.”
FONTE: escrito por Flávio Aguiar no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Cronica-Lembrancas-em-torno-de-Goulart/4/29529). [Imagens do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
Duas delas não surpreendem. A primeira partiu de Porto Alegre, articulada pelo então comandante da Base Aérea de Canoas, tenente-coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro (depois assassinado pelos golpistas em abril de 64 na mesma base aérea), e consistiu em difundir uma série de versões evasivas sobre o plano de voo do avião presidencial.
A segunda foi a articulação de sargentos e suboficiais, além de oficiais legalistas, em várias bases aéreas do país para impedir que caças levantassem voo, como houve na de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, do mesmo modo que sargentos, suboficiais e oficiais legalistas tinham impedido, em 1961, que os caças de Canoas bombardeassem o Palácio Piratini em Porto Alegre.
A terceira – a surpreendente – foi a ação do então Chefe da Casa Militar do presidente interino Rainieri Mazzili, que fora Chefe do Serviço de Informações do Estado Maior do Exército, pressionando os chefes da conjura a abandonarem a ideia. Esse oficial chamava-se Ernesto Geisel.”
FONTE: escrito por Flávio Aguiar no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Cronica-Lembrancas-em-torno-de-Goulart/4/29529). [Imagens do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
Nenhum comentário:
Postar um comentário