sábado, 7 de maio de 2011

Luis Nassif: “O MAL QUE SERRA CAUSOU AO PSDB”


“Logo que comecei no jornalismo, em pleno regime militar, me despertava a curiosidade tentar entender como determinados personagens ascendiam ao centro do poder. Nem falo dos presidentes, mas de assessores, alguns ministros, tratados com temor reverencial pela mídia.

Por Luis Nassif, em seu blog

Foi um dos primeiros exercícios que me ajudaram a compreender a natureza das grandes burocracias. A maioria era constituída de pessoas sem muito brilho, alguns francamente medíocres, que acabaram ocupando cargos relevantes unicamente devido ao fechamento do sistema em si mesmo e a questões circunstanciais em suas carreiras.

A burocracia cria sua própria lógica. A ascensão das chefias se dá pela inércia, pelas ligações pessoais, não mais pelos méritos. E aí, a organização está fadada a minguar, por falta de renovação.

O caso José Serra-PSDB é emblemático. Analise-se o político Serra hoje, fora do minarete do controle burocrático que exerceu sobre o PSDB. Perdeu os espaços possíveis junto ao PSDB nacional e ao DEM. Dançou em São Paulo.

Montou uma aliança com Kassab que vai entrar para a história. Kassab ficou com todos os quadros técnicos do serrismo, conseguiu a estrutura operacional de que necessitava, inclusive o cacife da prefeitura para atrair parte do DEM ... e irá se aliar a Aécio.

Serra apostou no barco do PSD, encheu a bola de Kassab, ajudou a montar a tripulação. Quando o barco saiu do cais, percebeu que estava fora, como um membro da corte portuguesa que não conseguiu alcançar as caravelas que permitiriam a fuga para o Brasil.

Experimentou todo o desgaste possível com suas manobras para queimar Alckmin e restou de mãos abanando. Depois, foi até Alckmin para —suprema humilhação para quem conhece o ego de Serra— se explicar, atribuindo as informações sobre sua traição a intrigas de secretários de confiança do próprio governador. Na campanha, todas as acusações contra Serra eram rebatidas com o argumento simplório de que não passavam de "intriga petista".

Antes disso, desde que se tornou governador, aliou-se ao pior esgoto jornalístico e abandonou por completo o discurso programático. Chegou para ao final da campanha sem nada, explorando apenas fígado e intestinos de seus eleitores. Tem um final melancólico, sem discurso, sem bandeiras e sem seguidores.

Agora, olhe para trás. A esse personagem vingativo, pequeno, politicamente burro (uso o termo que lhe foi dito por dois dos seus melhores amigos, quando viram o brejo em que se embrenhava), de uma incompetência política única na moderna história brasileira, foi depositada a esperança do segundo maior partido nacional, da parte mais influente da mídia, de parte relevante da classe média, de ser o grande vingador branco, que derrotaria o lulismo.

Quem ousasse apontar o rei nu era execrado. Ocorreu com um dos melhores políticos do DEM que, em meados de 2009, ousou fazer uma análise isenta que apontava essa pequenez de Serra. Amigos próximos evitavam cumprimentá-lo em público para não se indispor com o feroz imperador.

Ocorreu com a mídia, escondendo seus esbirros autoritários, sua falta de gana, a inapetência gerencial, cedendo às suas pressões. No futuro, será tema para boas teses dissecando o mal que vitimou o PSDB: o caciquismo, o burocratismo que impediu a renovação do partido.”

FONTE: escrito pelo jornalista Luis Nassif, em seu blog, e transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=153583&id_secao=1) [imagem do Google adicionada por este blog].

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