sexta-feira, 7 de junho de 2013

ENTREVISTA COM A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, DILMA ROUSSEFF

Entrevista concedida quarta-feira (5) pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após cerimônia de lançamento dos “Planos Setoriais” na reunião do “Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas” - Brasília/DF

Jornalista: E a MP dos Portos?

Jornalista: Sancionou?

Presidenta: Estamos no processo de sanção. A ministra-chefe da Casa Civil vai descer e fazer uma explicação ampla, geral e irrestrita para os senhores sobre os vetos...

Jornalista: São quantos portos?

Presidenta: Eu não falo, não vou falar. Não falarei agora, nós estamos nos finais. Veja, ela falará com vocês.

Jornalista: Ainda não bateu o martelo então, presidente?

Presidenta: Nós estamos no final da discussão, inclusive eu estou subindo para ver o final.

Jornalista: O que estão orientando os vetos? É preservar a competitividade do setor?

Presidenta: Querida, eu não vou falar. Se eu estou dizendo para vocês que ela falará, é porque não está pronto para eu falar, senão eu falaria agora com vocês.

Jornalista: Presidenta, como a senhora avalia a questão indígena, os conflitos que estão acontecendo?

Presidenta: Olha, eu acredito que nós, o Brasil, temos uma população indígena e não podemos negar essa existência, até porque ela é a população originária do país. Isso não significa que outras populações que se estabeleceram no Brasil também não têm direito. Eu acho que essa é uma questão que tem de ser resolvida com base no diálogo. Agora, o Brasil, o governo brasileiro, cumpre lei rigorosamente. O que a Justiça dispõe para nós fazermos, nós cumprimos. Agora, sempre vamos preferir o processo negocial para evitar choques, mortes, ferimentos. Até porque eu acho que isso é algo que é característico da sociedade brasileira. A gente sempre prefere, o Brasil sempre prefere – o Brasil que eu falo são os homens e mulheres deste país – sempre prefere uma solução negociada, uma solução sem atrito. Agora, nós também temos uma característica, nós cumprimos a lei e achamos que a lei não é algo que as pessoas podem falar “não gosto desta, gosto daquela”, não é assim. Todo mundo neste país cumpre lei, do presidente da República ao bebê que acaba de nascer. Ele nasce sobre um arcabouço, que é o arcabouço legal, constitucional, que garante que nós todos aqui vivamos em paz e harmonia. Então, isso é algo que, como presidenta da República, eu faço inteiro, mas inteiro e total... Eu faço, acho que é mais do que inteiro e total, eu acho que está no âmago da minha condição de presidenta. Eu faço disso um elemento de característica da minha condição presidencial.

Jornalista: Essas desocupações imediatas determinadas pela Justiça, presidente, elas são difíceis de serem cumpridas?

Presidenta: Eu não discuto e nem posso fazê-lo, viu, Tânia? É decisão judicial. Não cabe a ninguém fazer esse processo de discussão. Nós sempre preferiremos processo negociais, mas cumpriremos todas as decisões judiciais.

Jornalista: E o país, presidenta, tem espaço para usinas com grandes reservatórios?

Presidenta: Tem.

Jornalista: Ainda tem espaço na Amazônia?

Presidenta: Eu acho que essa é uma discussão que o Brasil tem de travar. Eu acho importante essa fala do professor [Luiz] Pinguelli hoje. Nós, de fato, conseguimos uma vitória, com a redução que temos do desmatamento. Vocês vejam que, de 2004 para cá, nós reduzimos o desmatamento como fonte de geração de gás de efeito e também como fonte de destruição de nossa riqueza patrimonial que é a Amazônia. Nós conseguimos isso. Quando nós conseguimos isso, outros desafios acontecem e aparecem. Aliás, como acontece em todas as áreas da vida é assim. Agora, nós teremos de ter um cuidado muito grande com a redução das emissões geradas pelo setor de energia, do uso de energia, seja na hidroeletricidade, porque na hidroeletricidade, quando você não tem reservatório, o que é que faz o papel de reservatório? Uma térmica. E uma térmica é muito mais poluente do que uma hidrelétrica com reservatório. Além disso, eu gosto muito de enfatizar o que nós fizemos ontem, viu gente? Nós, ontem, lançamos mais uma vez o “programa ABC”, dentro do “Plano Safra da Agricultura, do Agronegócio e da Pecuária”, nós lançamos o programa – ABC é “Agricultura de Baixo Carbono” – que, colocando em torno de R$ 4,5 bilhões para financiar práticas sustentáveis na área agrícola, como plantio direto na palha, como rotação lavoura; pastagem, floresta; e fixação de nitrogênio no solo e recuperação de pastagem. Isso não só aumenta a produtividade do país, mas é adoção de técnicas avançadas. Estamos colocando R$ 4,5 bilhões, com juros de 5%, e prazo de 8 a 15 anos. Vocês vejam que foi crescente o acesso a essa forma de financiamento. Atraiu os produtores. Por que atraiu os produtores? Primeiro, porque é um crédito de boa qualidade, é um crédito barato, de prazo maior. Segundo, porque, ao contrário do que muitos possam pensar, o uso dessas técnicas mais adequadas ao meio ambiente, a chamada “agricultura de baixo carbono”, ela é extremamente eficiente. O produtor que adota essa técnica acaba ganhando. Por que ele ganha? Porque ele consegue produzir mais com melhor qualidade e com menor custo, considerando que há um financiamento governamental adequado para isso.

Eu agradeço a vocês, dou beijos.

Jornalista: Tem mais medida, presidente, para segurar o dólar?

Presidenta: Olha, Tânia, nós tão temos medida nenhuma para segurar o dólar, viu? Eu queria informar que este país adota o regime de câmbio flexível. Um abraço.

Jornalista: E a minha entrevista, presidente?

Presidenta: Tânia, de fato, eu te devo essa. Tem coisa que a gente deve e não nega. Agora, como qualquer devedor, pago quando puder, tá Tâniazinha?


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