Entrevista concedida quarta-feira (5) pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após cerimônia de lançamento dos “Planos Setoriais” na reunião do “Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas” - Brasília/DF
Jornalista:
E a MP dos Portos?
Jornalista:
Sancionou?
Presidenta: Estamos no processo de sanção. A
ministra-chefe da Casa Civil vai descer e fazer uma explicação ampla, geral e
irrestrita para os senhores sobre os vetos...
Jornalista:
São quantos portos?
Presidenta: Eu não falo, não vou falar. Não
falarei agora, nós estamos nos finais. Veja, ela falará com vocês.
Jornalista:
Ainda não bateu o martelo então, presidente?
Presidenta: Nós estamos no final da discussão,
inclusive eu estou subindo para ver o final.
Jornalista:
O que estão orientando os vetos? É preservar a competitividade do setor?
Presidenta: Querida, eu não vou falar. Se eu estou
dizendo para vocês que ela falará, é porque não está pronto para eu falar,
senão eu falaria agora com vocês.
Jornalista:
Presidenta, como a senhora avalia a questão indígena, os conflitos que estão
acontecendo?
Presidenta: Olha, eu acredito que nós, o
Brasil, temos uma população indígena e não podemos negar essa existência, até
porque ela é a população originária do país. Isso não significa que outras
populações que se estabeleceram no Brasil também não têm direito. Eu acho que
essa é uma questão que tem de ser resolvida com base no diálogo. Agora, o
Brasil, o governo brasileiro, cumpre lei rigorosamente. O que a Justiça dispõe
para nós fazermos, nós cumprimos. Agora, sempre vamos preferir o processo
negocial para evitar choques, mortes, ferimentos. Até porque eu acho que isso é
algo que é característico da sociedade brasileira. A gente sempre prefere, o
Brasil sempre prefere – o Brasil que eu
falo são os homens e mulheres deste país – sempre prefere uma solução
negociada, uma solução sem atrito. Agora, nós também temos uma característica,
nós cumprimos a lei e achamos que a lei não é algo que as pessoas podem falar “não gosto desta, gosto daquela”, não é
assim. Todo mundo neste país cumpre lei, do presidente da República ao bebê que
acaba de nascer. Ele nasce sobre um arcabouço, que é o arcabouço legal,
constitucional, que garante que nós todos aqui vivamos em paz e harmonia.
Então, isso é algo que, como presidenta da República, eu faço inteiro, mas
inteiro e total... Eu faço, acho que é mais do que inteiro e total, eu acho que
está no âmago da minha condição de presidenta. Eu faço disso um elemento de
característica da minha condição presidencial.
Jornalista:
Essas desocupações imediatas determinadas pela Justiça, presidente, elas são
difíceis de serem cumpridas?
Presidenta: Eu não discuto e nem posso
fazê-lo, viu, Tânia? É decisão judicial. Não cabe a ninguém fazer esse processo
de discussão. Nós sempre preferiremos processo negociais, mas cumpriremos todas
as decisões judiciais.
Jornalista:
E o país, presidenta, tem espaço para usinas com grandes reservatórios?
Presidenta: Tem.
Jornalista:
Ainda tem espaço na Amazônia?
Presidenta: Eu acho que essa é uma discussão
que o Brasil tem de travar. Eu acho importante essa fala do professor [Luiz]
Pinguelli hoje. Nós, de fato, conseguimos uma vitória, com a redução que temos
do desmatamento. Vocês vejam que, de 2004 para cá, nós reduzimos o desmatamento
como fonte de geração de gás de efeito e também como fonte de destruição de
nossa riqueza patrimonial que é a Amazônia. Nós conseguimos isso. Quando nós
conseguimos isso, outros desafios acontecem e aparecem. Aliás, como acontece em
todas as áreas da vida é assim. Agora, nós teremos de ter um cuidado muito
grande com a redução das emissões geradas pelo setor de energia, do uso de
energia, seja na hidroeletricidade, porque na hidroeletricidade, quando você
não tem reservatório, o que é que faz o papel de reservatório? Uma térmica. E
uma térmica é muito mais poluente do que uma hidrelétrica com reservatório. Além
disso, eu gosto muito de enfatizar o que nós fizemos ontem, viu gente? Nós,
ontem, lançamos mais uma vez o “programa ABC”, dentro do “Plano Safra da
Agricultura, do Agronegócio e da Pecuária”, nós lançamos o programa – ABC é “Agricultura de Baixo Carbono” –
que, colocando em torno de R$ 4,5 bilhões para financiar práticas sustentáveis
na área agrícola, como plantio direto na palha, como rotação lavoura; pastagem,
floresta; e fixação de nitrogênio no solo e recuperação de pastagem. Isso não
só aumenta a produtividade do país, mas é adoção de técnicas avançadas. Estamos
colocando R$ 4,5 bilhões, com juros de 5%, e prazo de 8 a 15 anos. Vocês vejam
que foi crescente o acesso a essa forma de financiamento. Atraiu os produtores.
Por que atraiu os produtores? Primeiro, porque é um crédito de boa qualidade, é
um crédito barato, de prazo maior. Segundo, porque, ao contrário do que muitos
possam pensar, o uso dessas técnicas mais adequadas ao meio ambiente, a chamada
“agricultura de baixo carbono”, ela é extremamente eficiente. O produtor que
adota essa técnica acaba ganhando. Por que ele ganha? Porque ele consegue
produzir mais com melhor qualidade e com menor custo, considerando que há um
financiamento governamental adequado para isso.
Eu agradeço a vocês, dou beijos.
Jornalista:
Tem mais medida, presidente, para segurar o dólar?
Presidenta: Olha, Tânia, nós tão temos medida
nenhuma para segurar o dólar, viu? Eu queria informar que este país adota o
regime de câmbio flexível. Um abraço.
Jornalista:
E a minha entrevista, presidente?
Presidenta: Tânia, de fato, eu te devo essa.
Tem coisa que a gente deve e não nega. Agora, como qualquer devedor, pago
quando puder, tá Tâniazinha?
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