segunda-feira, 3 de junho de 2013

POR QUE A INTERNET ENGOLE VOCÊ

Para checar no Facebook leva só um minuto.” Essas são as famosas últimas palavras de inúmeras pessoas, todos os dias, antes de serem engolidas por várias horas assistindo a vídeos, fazendo comentários sobre almoços de sushi no Instagram e fuçando no Google para descobrir o que aconteceu, afinal, com o ator Dolph Lundgren.

Por Tia Ghose* em “Scientific American”

Se isso parece você, não se sinta tão mal: segundo especialistas, esse comportamento é natural, considerando a forma pela qual a internet está estruturada. As pessoas se conectam numa busca compulsiva por resultados imprevisíveis, como aqueles repartidos na internet. E a onipresença da web e a ausência de fronteiras incentivam as pessoas a perder a noção do tempo, ficando difícil exercer a vontade de desligar o computador.

A internet não vicia da mesma maneira que viciam substâncias farmacológicas”, disse Tom Stafford, cientista da Universidade de Sheffield, na Grã-Bretanha. “Mas é compulsiva; é irresistível; distrai


CHEGOU MENSAGEM

Os humanos são criaturas sociais. Consequentemente, as pessoas gostam de informações sociais disponíveis no e-mail e na internet. O e-mail e as redes sociais têm a mesma estrutura de recompensa das maquininhas caça-níqueis de um cassino: quase tudo é porcaria, mas de vez em quando você acerta no prêmio maior – no caso da internet, segundo Stafford, um pouquinho de fofoca saborosa ou um e-mail amigo. O resultado instantâneo reforça a atração da internet.

Os resultados imprevisíveis da internet treinam as pessoas de modo bastante semelhante àquele pelo qual Ivan Pavlov treinava cachorros que, no século 19, ficavam condicionados a soltar saliva quando ouviam uma sineta que associavam a comida.

Com o passar do tempo, as pessoas vinculam um sinal (por exemplo, o barulhinho da mensagem instantânea ou a homepage do Facebook) com um bem-vindo pedido de agradáveis químicos cerebrais. As pessoas habituam-se, segundo Stafford, a procurar esse pedido a toda hora.

LUTAR OU FUGIR

Ler e-mails ou debruçar-se sobre uma tela também pode ativar a reação por estresse agudo [lutar ou fugir], disse Linda Stone, pesquisadora que estudou os efeitos fisiológicos do uso da internet. Linda Stone mostrou que cerca de 80% das pessoas suspendem a respiração, ou respiram superficialmente, quando verificam seus e-mails ou olham para o monitor – uma condição que ela chama “apneia de e-mail”.

A internet tem conteúdo importante que exige uma ação, ou reação – por exemplo, um compromisso com o chefe ou as fotos de noivado de um grande amigo. Portanto, antecipam-se e suspendem a respiração quando olham para suas telas.

Mas a suspensão da respiração dispara uma sucessão de reações fisiológicas que preparam seu corpo para enfrentar ameaças em potencial ou antecipar surpresas. Ativar constantemente essa reação física pode ter consequências negativas para a saúde, segundo Linda Stone.

SEM LIMITES

Outro motive para a internet viciar tanto, disse Stafford, é a ausência de fronteiras entre as tarefas. Uma pessoa pode começar “pesquisando qualquer coisa, aí entrar, por acaso, na Wikipedia e depois acabar tentando descobrir o que foi que aconteceu com Depeche Mode”, disse Stafford, referindo-se a uma banda de música.

Estudos sugerem que a força de vontade é como um músculo: pode ser reforçada, mas também pode ficar exausta. Uma vez que a internet está sempre “ligada”, continuar numa tarefa exige uma flexão constante daquele músculo da força de vontade, que pode exaurir o autocontrole de uma pessoa. “Você nunca escapa da tentação”, disse Stafford.

CRIANDO FRONTEIRAS

Para aqueles que querem afrouxar o controle da internet sobre suas vidas, algumas técnicas simples podem ser a solução. Ferramentas bloqueadoras da internet que limitam o tempo de navegação recuperam controle sobre seu tempo. Outro método é planejar com antecedência, assumindo o compromisso de trabalhar por 20 minutos, ou até terminar determinada tarefa, e depois permitir cinco minutos de navegação na web, disse Stafford.

A tecnologia tem tudo a ver com a erosão das estruturas”, disse Stafford à “LiveScience”. “Mas na realidade, em termos psicológicos, precisamos mais estrutura e essas coisas são tensas.”

FONTE: escrito por Tia Ghose* em “Scientific American”. A autora é pesquisadora e repórter para o “Center for Investigative Reporting and California Watch”. Transcrito no portal “Vermelho” com tradução de Jô Amado, edição de Larriza Thurler.   (
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=214986&id_secao=6
).

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