Li hoje no site “Terra Magazine” o seguinte artigo de Carlos Drummond, de Campinas (SP). O autor é jornalista e coordena o Curso de Jornalismo da Facamp.
“Manifestações de humor cáustico e previsões apocalípticas veiculadas na internet dão uma idéia do impacto devastador da crise econômico-financeira nas mentes dos americanos. Descobrir que a liberdade irrestrita para enriquecer está na raíz do colapso foi como levar um facada nas costas. Para milhões de pessoas, perseguir a riqueza sem cerceamentos era o valor mais importante. Difícil admitir que a ideologia glorificada conduziu a um abismo de falências, desemprego e sofrimento.
O uso clássico do humor para representar e purgar tragédias está presente, por exemplo, na criação do ator e humorista premiado Andy Borowitz, que imaginou uma manifestação de administradores de hedge funds, os principais veículos da explosão financeira, para reivindicar ao Fed (banco central dos Estados Unidos) medidas para deter a sua perda de riqueza.
Na criação do humorista, publicada em meio a crise, a notícia sobre o protesto seria assim:
"Milhares de administradores dos principais hedge-funds dos Estados Unidos fizeram uma carreata ontem em Washington para exigir a intervenção do Federal Reserve em defesa das suas fortunas ameaçadas.
"Chamada de 'A marcha de um milhão de Mercedes', a manifestação foi a maior já vista com carros conduzidos por motoristas particulares na história da capital americana.
"Limusines começaram a congestionar as ruas de Washington às 10 horas quando enfurecidos donos de hedge-funds se concentraram diante da sede do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, para reivindicar medidas efetivas de proteção à sua riqueza em risco."
Reprimida pela polícia com gás pimenta, a manifestação imaginária teve desdobramento em uma reação de um grupo de mulheres dos executivos, que saquearam a loja da grife Ralph Lauren em East Hampton, Nova Iorque, despojando o estabelecimento da sua coleção da estação.
No terreno da realidade, alguns já se preparam para o apocalipse. A revista New York publicou recentemente um artigo intitulado A nova paranóia: administradores de hedge-funds inflacionam os mercados de ouro, de armas e de botes infláveis, sobre o clima de pânico instalado pela crise. De acordo com o veículo, no final de 2008, quando os mercados financeiros implodiram, a conversa nas mesas de negociação passou a girar em torno da necessidade de se estocar alimentos, água, geradores, armas e botes infláveis de alta velocidade. Gene Lange, um administrador de hedge fund, está convencido que em setembro, na semana em que o Lehman Brothers explodiu e a AIG foi socorrida, o sistema esteve à beira do colapso e portanto é sensato preparar-se para o pior de todos os cenários.
Preparação, no caso de Lange, inclui um compartimento no porão da sua casa em Nova Jersey com alimentos, água, fraldas descartáveis e outras provisões para suprir a necessidades da sua família por seis meses; um cofre para armas acessível por identificação biométrica; e um veículo militar à diesel e adaptado para trânsito fora de estrada. O executivo também cogita colocar um barco inflável de alta velocidade em uma unidade de armazenagem no lado Oeste da cidade, o que lhe permitiria abandonar a ilha de Manhattan rapidamente, e considera a possibilidade de comprar uma fazenda remota para usar como esconderijo.
Ele não está sozinho, diz a matéria da New York. No seu livro Riqueza, Guerra, publicado no ano passado, Barton Biggs, ex-estrategista-chefe do Morgan Stanley, aconselha as pessoas a se prepararem para a possibilidade de uma falência completa da sociedade civil.
Um analista senior prestigiado entre os profissionais dos hedge funds escreveu pouco antes do Natal que alguns dos seus clientes estavam tão pessimistas que compraram armas de fogo e cofres e abarrotaram a suas dispensa com pacotes de sopa e alimentos enlatados. O seu medo se reflete, em grande medida, no mercado: os preços dos títulos das empresas se desvalorizou tanto que eles temem uma taxa de falências mais alta do que a da Grande Depressão dos anos 1930.
Suspeita-se que o medo de um colapso da sociedade, entre os administradores de hedge funds dos Estados Unidos, seja proporcional à irresponsabilidade dos atos que cometeram em operações financeiras de risco ilimitado.”
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