terça-feira, 10 de março de 2009

CRISE PODE FORTALECER O PAÍS

O Jornal do Brasil de domingo publicou o seguinte artigo de Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

“A crise mundial é severa e, sabemos, com impacto profundo nas diferentes economias. Não podemos ignorar tal realidade, mas também a crise não pode imobilizar o país. Fomos postos à prova e devemos ser assertivos. Essa é a postura que os brasileiros esperam de suas lideranças. A indústria não foge a esse compromisso.

Nosso desafio não é apenas enfrentar os percalços inexoráveis de curto prazo – em termos de produção, emprego e renda – mas, sobretudo, evitar um retrocesso (de viés mais permanente) na trajetória de crescimento.

O Brasil interrompeu o ciclo de reformas estruturais que estava em andamento. Não cabe neste espaço discutir os motivos – de diferentes ordens e inspirações – que nos levaram a postergar discussões tão necessárias, como as novas e urgentes regras a pautar a relação capital/ trabalho ou o perfil mais adequado à Previdência.

Precisamos retomar tal processo. A reforma tributária é outro tema de importância para a competitividade brasileira. Os partidos políticos representados no Congresso devem buscar o entendimento e aprovar, com urgência, o projeto aprovado na Comissão da Câmara, que simplifica o sistema de arrecadação de impostos e contempla a desoneração dos investimentos e das exportações. A agenda das reformas inclui ainda uma nova revisão do regime de aposentadorias e pensões da Previdência Social e a modernização do sistema político.

É preciso também ter pressa com a adoção de medidas que melhorem o ambiente de negócios para as empresas. Isso requer definição de marcos regulatórios, delimitação de poderes e do papel das agências reguladoras e incentivos à inovação e às exportações. O crescimento econômico depende ainda da retomada de investimentos em áreas essenciais como energia, transportes e saneamento básico.

Este é também o momento de reavaliar a política econômica e promover uma mudança no eixo da política macroeconômica. Impõe-se a necessidade de mudança da relação câmbio/juro. A prevalência de taxas de juros elevadas – de dois dígitos quando há muito a inflação recuou para apenas um dígito – é o exemplo maior. Ela conduziu à perda de competitividade dos produtos brasileiros, não apenas pelo nível da taxa de câmbio em si, mas também pelo ônus do elevado custo financeiro. A combinação juro alto e câmbio valorizado, dominante nos últimos 10 anos, não é mais aceitável em um ambiente mundial recessivo e deflacionário.

A instabilidade originada pela crise mundial mudou o atual patamar do câmbio. Mas, passada a turbulência inicial, é necessário evitar a revalorização da moeda brasileira, vale dizer, praticar taxas de juros substancialmente menores que no passado. Todavia, no médio prazo, combinar a mudança nos preços macroeconômicos com a manutenção de inflação controlada exigirá maior esforço fiscal, como a contenção nos gastos correntes de custeio e de pessoal.

Sem menosprezar os efeitos imediatos da recessão externa – que exigem ações emergenciais para minimizar a queda da atividade e suas consequências – acreditamos ter diferenciais que permitirão ao Brasil sair fortalecido em relação aos demais mercados emergentes. Dispomos de recursos naturais abundantes, dominamos a tecnologia de produção de combustíveis renováveis e abrigamos um sistema financeiro sólido.

Indicadores de fevereiro mostram que, depois da forte queda no último trimestre de 2008, a atividade industrial começa a dar sinais de recuperação. O desempenho de alguns setores, como o automobilístico, confirma a previsão de que o ritmo de desaceleração da economia brasileira será inferior ao dos países desenvolvidos.

Não podemos perder mais essa oportunidade de consolidar as agendas do crescimento e da competitividade e preparar a economia brasileira para um novo salto. Discutir o longo prazo não é fugir à crise. É o momento de preparar o país e as empresas para as transformações provocadas pelo novo cenário mundial. Com certeza, um conjunto de oportunidades diferenciadas se apresentará. Identificá-las e aproveitá-las será a chave do sucesso.

O Brasil e os empresários tiveram dinamismo e energia para superar outras turbulências e construir a décima economia do mundo. As experiências do passado e a implementação das reformas serão decisivas para sairmos desta crise e fazer o país retomar o caminho do crescimento.”

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