terça-feira, 17 de março de 2009

EMBRAER: UMA INICIATIVA "DO BRASIL PARA O MUNDO": OZIRES SILVA

O jornal Gazeta Mercantil de ontem, 16 de Março de 2009, publicou o seguinte artigo de Ozires Silva, Reitor da Unimonte, Santos (SP) e ex-presidente da Embraer:

“A mundialmente prestigiada Royal Aeronautical Society (RAS), de Londres, publicou como matéria de capa, na edição de sua revista mensal de Janeiro de 2009, Aerospace, uma reportagem produzida pelo seu editor Richard Gardner, sob o título "Do Brasil para o Mundo". No seu trabalho Gardner menciona que os brasileiros há 40 anos iniciaram um trabalho, acreditado por poucos, para desenvolver localmente uma indústria aeronáutica, mundialmente competitiva. Traz de volta que seria impensável, há poucas décadas, que o terceiro maior produtor de jatos comerciais do mundo, já no início do século XXI, pudesse ser uma empresa brasileira, a Embraer. Ao longo do texto de quatro páginas traz para os leitores mundiais um pouco da história desse esforço, desenvolvido em São José dos Campos (SP), com o apoio da Força aérea Brasileira (FAB) e conseguindo fazer com que uma economia primária que prevalecia no município nos idos dos 1950 fosse transformada no sentido de produzir produtos de alto valor agregado e de uma sofisticação típica de regiões ou de países mais desenvolvidos.

Na conclusão argumenta que a visão de futuro que caracterizou o empreendimento, partindo praticamente do zero, soube superar as críticas, entre as muitas que foram feitas.

Conclui salientando ser preciso compreender que o impulso proporcionado pelo governo foi de substancial importância para que os resultados da atualidade possam ser colhidos.

Lamenta o contraste com o que aconteceu no Reino Unido, que abandonou o mercado agora tão bem explorado pela Embraer, enaltecendo o entusiasmo de toda a equipe da empresa brasileira que, superando as dificuldades, pensa alto e com dedicação, procurando fazer o necessário para no futuro construir e manter um elenco de sucessos.

É neste cenário de êxitos, resultante de contínuos esforços ao longo de mais de 40 anos, que se encontram razões para nos julgar atônitos e mesmo espantados de ver que esse imenso acervo de realizações, possa ser jogado por terra, com críticas as mais superficiais. Tudo vem de demissões que tiveram de ser enfrentadas, por mais relutantes que tenham sido para seus dirigentes, responsáveis pelo futuro do empreendimento. E foram determinadas nestes momentos difíceis em que a empresa procura levar a termo ações que possam superar uma crise, sobre as quais não tem a menor responsabilidade ou condições de atenuar.

Desde sua fundação, em 1970, as vendas da companhia se consolidaram no mercado internacional, no qual, durante anos procurou conquistar e consolidar suas vitórias. E por que fez isso? Simplesmente, como consequência de vários problemas e disposições legais ou normativas, o Brasil não se tornou um vigoroso comprador dos produtos nacionais. As justificativas para isso são muitas e escapam do que se procura centrar nestes comentários.

Nos últimos anos, as vendas da Embraer no Brasil jamais superaram 5% da sua produção global, despontando a FAB, como seu maior cliente local, mas infelizmente, ainda relativamente pequeno. Os Estados Unidos surgiram como o maior comprador de forma consistente, desde o início da década de 1980, quando nossos aviões certificados internacionalmente ganharam a possibilidade de saltar fronteiras.

E a chamada crise originou-se exatamente na grande nação do norte, afetando intensamente as intenções de compra e de operação dos maiores compradores de aviões brasileiros, obrigando a empresa nacional a se adaptar, com rapidez e eficiência, ao que ocorria no seu mais importante mercado, cuja demanda já se apresenta reduzida pelos efeitos da crise financeira irrompida.

Assim, o que se viu foi uma quantidade de publicações e de comentários procurando tornar o grande empreendimento num depositário de revoltas, acentuando-se que a imagem da empresa estaria manchada, por uma redução do seu efetivo de cerca de 20% do número de colaboradores que participam do seu esforço para vender produtos de alto valor agregado ao exterior. Não se compreendeu que o mais importante no mundo moderno é a produção eficiente e competitiva, se possível, de produtos de elevado valor, sobretudo nestes momentos de dificuldades. E que, iniciativas, voltadas à produção eficiente e competitiva sempre foram fundamentais, mormente agora, e na realidade precisam ser protegidas e estimuladas!

Em 17 de Junho de 2008, em artigo publicado nesta mesma coluna foi perguntado: "Por que não temos no Brasil nenhum Prêmio Nobel?"A resposta foi dada, por analistas que acompanham a concessão de um dos prêmios de maior visibilidade mundial. Acentuam eles que as instituições, empresas e mesmo os brasileiros em geral não têm o hábito de promover e apoiar o que há de melhor na nossa cultura, no desempenho pessoal e das organizações produtivas, como pode ser comumente observado em outros países. Em outras palavras, a atitude e o comportamento dos nossos compatriotas, em geral não caminham para uma unanimidade em relação aos líderes, educadores ou cientistas destacados, nascidos como brasileiros. Parecem garantir o dito francês, de que não existem heróis para os criados de quarto. Sempre há uma ponta de crítica sobre entidade ou pessoa que possa ser indicada para láureas ou homenagens.

Assim, sem desejar ser pessimista, não parece que sejamos como um todo a favor de sucessos e, basta uma ponta de dúvida, para que se desencadeie uma cadeia de críticas, nem sempre se lembrando das raízes e dos êxitos de iniciativas que deram certo.

kicker: A Embraer nunca vendeu mais de 5% da produção no Brasil nos últimos anos.”

2 comentários:

iurikorolev disse...

Cara Maria Thereza
Muito interessante a matéria.
Os americanos têm um ditado simples :
"Do the right thing!".
Faça a coisa que tem que ser feita e os resultados virão.
No Brasil (pais tropical bonito por natureza...) os cientistas não contam com muito prestígio na sociedade.
Muito diferente da China,e.g., país inteligente que sabe plantar para o futuro, em que os cientistas são celebridades nacionais.
Aqui faltam dirigentes de qualidade em todos setores. Só tem bobalhão que gosta de aparecer, mas na hora de formular de forma concreta politicas estratégicas só sai asneira.
Você que tem mais acesso às pessoas no poder tem mais possibilidade de formar opinião.

Abraços
Iuri

Unknown disse...

Iurikorolev,
Você está 100% certo (exceto a última frase). Já é um número cabalístico consagrado no mundo que a cada dólar despendido em pesquisa científica e tecnológica, retornam para a economia nacional 7 a 14 dólares. A EMBRAER não fugiu à regra. Desde o seu início. Com o investimento de cerca de US$ 50 milhões feito pelo CTA da Aeronáutica no desenvolvimento do avião Bandeirante, antes de criar-se a EMBRAER, retornaram para o Brasil cerca de US$ 2 bilhões em fluxo de caixa com as quase 500 aeronaves vendidas. E foram criados milhares de bons empregos por mais de 10 anos.
Maria Tereza