Li no jornal Tribuna da Imprensa o seguinte artigo de Manuel Cambeses Júnior. O autor é coronel-aviador da Reserva da Força Aérea; conferencista especial da Escola Superior de Guerra, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
UMA GUERRA PELOS HIDROCARBONETOS
A acirrada competição entre a China e os Estados Unidos pelo acesso a fontes petroleiras constitui matéria muito sensível. De acordo com as projeções do Departamento de Energia e de Administração de Informação Energética dos Estados Unidos, as importações norte-americanas em petróleo, no ano de 2005, alcançaram aproximadamente 70% de seu consumo total, enquanto as chinesas atingiram a expressiva marca de 73,4% de suas atuais necessidades.
Essas cifras evidenciam, claramente, os níveis de dependência de petróleo importado tanto pelos EUA como pela China. Isto, certamente, torna este assunto de altíssima sensibilidade, tanto em termos de segurança nacional como de Geopolítica. O tema acresce de importância quando sabemos que esse petróleo é proveniente de um limitado número de países produtores.
De acordo com o que assinala o editorialista Thomas Friedman, do jornal The New York: “A crise petroleira ocorrida em 1973 coincidiu com a acentuada dependência de petróleo do Japão e da Europa”. Houve uma época em que os Estados Unidos eram o único grande consumidor de petróleo, porém logo entraram em cena o Japão e a Europa, e o poder de fornecimento de hidrocarbonetos passou a cair exclusivamente nas mãos dos países integrantes da OPEP. Entretanto quando a China e a Índia passaram a fazer parte desse confuso e disputado cenário, as coisas tenderam a se agravar, em uma ordem de magnitudes bastante diferentes.
De conformidade com a denominada teoria da transição de poder, a aproximação de curvas entre uma potência dominante e uma rival em ascensão constitui, nesse momento, um imenso perigo e uma explosiva possibilidade de conflito. É a ocasião em que a primeira buscará gerar uma guerra preventiva para aproveitar as vantagens de que ainda dispõe. Não devemos esquecer que isto é assumido, de maneira explícita, pela atual Doutrina de Defesa estadunidense. Sobre este particular, Ian Shapiro, professor da Universidade de Yale, assinala:
“Em sua Estratégia de Segurança Nacional, de 2002, o presidente George W. Bush insiste em que os EUA mantêm há muito tempo a opção pela ação preventiva para enfrentar ameaças importantes à segurança coletiva” (Containment, Princeton, 2007).
Ao persistir no tempo essa doutrina, ali estariam plantadas as bases para a elaboração de uma ação preventiva frente a um rival que ameaça a sua prevalência, e que põe em perigo suas fontes de aprovisionamento energético. Em um instigante trabalho sobre a “Doutrina de Ação Preventiva nos Estados Unidos”, a Oxford Analytica recorda que o documento de “Estratégia de Segurança Nacional”, de 2007, menciona especificamente a China como um futuro risco à segurança nacional dos Estados Unidos.
O fato de a China outorgar caráter estratégico às suas fontes de aprovisionamento energético, passou, consequentemente, a constituir fato relevante entre as causas fundamentais dessa preocupação por parte dos estrategistas norte-americanos.
É importante destacar que o consagrado polemólogo-estratego estadunidense Mikkal Herberg, Diretor do Programa de Segurança Energética do Escritório Nacional de Investigações sobre a Ásia, considera inevitável a tendência a um conflito, capaz de gerar discussões em altos decibéis emocionais e, consequentemente, passíveis de evoluir para vigorosos estrondos bélicos entre ambos os países, por razões energéticas, no transcorrer da próxima década (China’s Global Hunt for Energy”, Foreign Affairs, outubro de 2007).”
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