sexta-feira, 24 de junho de 2011

ENCONTRO DE TROGLODITAS POLÍTICOS


Por Mário Augusto Jakobskind

“Silvio Berlusconi foi repudiado nas urnas, perdendo em um plebiscito tudo que defendeu diante dos eleitores. 96% se posicionaram em favor da revogação das leis do seu governo sobre privatização dos serviços de abastecimento d’água, volta da produção da energia nuclear e, ainda por cima, a definição clara do fim da lei que permite ao presidente do Conselho de Ministros e aos ministros serem julgados sob a alegação de compromissos institucionais.

Uma semana antes, Berlusconi perdera em eleições regionais, inclusive no seu reduto de Milão. Quer dizer: os italianos, que compareceram em bom índice (56%) às urnas, na prática deram a resposta sobre o que passaram a achar do presidente do Conselho de Ministros. Mas ele pretende dar a volta por cima utilizando, mais uma vez, a ‘vendeta’ sobre Cesare Battisti, apelando para o Tribunal de Haia. Esperneia para consumo interno, porque qualquer jurista sabe muito bem que não aconteceu nenhuma violação do tratado entre Brasil e Itália. Depois do possível arquivamento da solicitação, Berlusconi ficará totalmente sem bandeiras. Como a decisão demora, é possível que até lá o troglodita tenha caído.

Na semana passada, Berlusconi recebeu a visita de outro troglodita político, o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu e se posicionou contra o Estado Palestino, tema que será apresentado nas Nações Unidas em setembro. Os dois extremistas se entenderam às mil maravilhas. Percebendo que o reconhecimento do Estado Palestino em setembro poderá acontecer, Netanyahu, navegando contra a opinião pública mundial, tenta convencer dirigentes europeus a não aceitarem a criação do Estado Palestino, que deveria ter acontecido em 1948 quando da criação do Estado de Israel.

O governo extremista de Israel usa de sofismas para evitar a reparação de injustiça histórica com um povo sem padrinhos, como os palestinos. O atual presidente dos Estados Unidos, maior aliado de Israel, se posicionou, em um primeiro momento, pela volta às fronteiras anteriores a 1967. Pressionado, Barack Obama voltou atrás, afirmando ter sido mal interpretado etc e tal.

Netanyahu foi recebido no Congresso estadunidense sendo ovacionado efusivamente, tanto por Democratas como por Republicanos. Por essas e muitas outras, é bastante questionável os Estados Unidos continuarem como "mediador" entre palestinos e israelenses. Para começar entendimento para valer, seria fundamental que o governo israelense aceitasse retirar os colonos dos assentamentos em território palestino. Partidos extremistas apoiadores de Netanyahu não aceitam essa premissa. Muito pelo contrário, até estimulam, porque nunca abandonaram o projeto do ‘Grande Israel’.

O Hamas e Al Fatah estão unidos, depois de muitos anos de desentendimentos, inclusive com confrontos sangrentos. Chegaram à conclusão de que unidos são fortes e desunidos favorecem a eternização de um estado de coisas que lhes tem sido desfavorável.

Em termos de algum eventual acordo entre israelenses e palestinos, a unidade, ao contrário do que afirma o troglodita político Netanyahu, é favorável. Antes disso, Israel negociava apenas com um setor. A partir de agora, o fará, se é que o fará, com um único grupo. E os palestinos já disseram que as negociações ficam por conta dos que já negociavam com os israelenses, ou seja, os integrantes da Al Fatah. E qualquer acordo seria firmado pelo governo unido. Mas, concretamente, o acordo está cada vez mais difícil.

Como Netanyahu e os seus não querem uma paz com dignidade para todos, utilizam argumentos dos mais variados, exatamente para impedir qualquer entendimento. Aí acontece a manifestação dos parlamentares estadunidenses dando todo apoio ao troglodita político israelense, fortalecendo as pretensões expansionistas dos sionistas.

A continuidade do governo Netanyahu, que tem como Ministro do Exterior Avigdor Liberman, um desclassificado que prega abertamente o extermínio de árabes, é realmente fator impeditivo de qualquer acordo entre israelenses e palestinos”. [...]

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio "Brecha". Foi colaborador do "Pasquim", repórter da "Folha de São Paulo" e editor internacional da "Tribuna da Imprensa". Integra o Conselho Editorial do seminário "Brasil de Fato". É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes” - Fantástico/IBOPE. Artigo publicado no site “Direto da Redação”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/encontro-de-trogloditas-politicos).

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