Por Fernando Brito
“O 'Federal Reserve', o Banco Central dos americanos, manteve esta semana o “Quantitative Easing”, o programa de recompra de títulos públicos com que, na prática, é injetado dinheiro na economia americana.
Com isso, conseguem aquecer a atividade econômica e o emprego, que lá anda na faixa dos 7,2% – mais do que os nossos 5,4%, mas alto pelos padrões dos EUA.
E porque lá podem fazer isso dando uma banana para a inflação?
Porque a moeda americana, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, substituiu o ouro como reserva de valor mundial e, com isso, há fome de dólares nos mercados emergentes e, consequentemente, apreciação de suas moedas e perdas no comércio mundial.
Isso sem contar a arapuca do mercado de derivativos – leia-se dólar – nesses países, que faz tic-tac para refluir estrepitosamente ao menor sinal de aperto monetário por lá, com recuperação das taxas dos títulos do Tio Sam.
Para conter essa inevitável maré, países como o nosso têm de manter uma espécie de “piscinão”, armazenando dólar para desaguar nas crises cambiais provocadas por esse movimento.
As nossas, por exemplo, há um bom tempo estão acima de US$ 350 bilhões, boa parte delas aplicadas no próprio Tesouro Americano, a juros baixinhos, enquanto a gente toma dinheiro aqui muito mais caro.
É isso ou ficar exposto a quebrar nossa moeda, quando a maré de verdinhas se inverte.
Por isso, é uma crueldade o que fazem certos “analistas de mercado” e economistas “ortodoxos” (ortodoxia é aquela ciência que ensina as pessoas a viverem sem comer, com o pequeno incômodo causado por morrer de fome), querendo julgar o endividamento brasileiro pela “dívida bruta”, aquela que não considera, nas contas, as reservas cambiais do país.
Nesse caso, que é a conta feita pelos “sabidos” do FMI, andamos devendo perto de 70% do PIB – um luxo, se comparado à divida dos países desenvolvidos. Mas é correto olhar a dívida assim, se temos, obrigatoriamente, que manter uma “poupança em dólar” para fazer frente aos fluxos e refluxos de capital financeiro?
É por isso que nossa dívida tem de ser analisada sob o conceito de dívida líquida. Isto é, quanto o país deve, descontado o valor dessa cruel “poupança” (e mal remunerada) em dólares a que somos obrigados.
E olhando assim, fica fácil entender o que aconteceu com o endividamento brasileiro desde o período Fernando Henrique (quando, pelas reservas serem quase zero, dívida líquida e bruta praticamente se confundiam) até a situação de hoje.
É só dar uma conferida no gráfico acima, elaborado pelos professores João Sicsú e Ernesto Salles.
Duro, mesmo, é ver a tropa [tucanos e sua mídia] que endividava o país mesmo vendendo os móveis da casa ainda hoje ser levada a sério quando fala em “fundamentos econômicos”. E pior, fazendo a cabeça boboca de gente que diz ser “o novo” que não percebe que a economia mundial não é uma continha que se aprenda num curso de contabilidade, mas é política, porque envolve relações de poder e dominação.
Monetária, inclusive.”
FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/index.php/politica-expansionista-e-inflacao-se-a-sua-moeda-e-o-dolar-nao/).[Trecho entre colchetes adicionado por este blog 'democracia&política'].
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