segunda-feira, 3 de março de 2008

CGU: OS ERROS NOS ESCÂNDALOS DA MÍDIA SOBRE OS “CARTÕES CORPORATIVOS”

A Folha Online de hoje, em seu blog de Josias de Souza, publicou a esclarecedora matéria a seguir exposta. Trata da análise ainda em curso na Controladoria-Geral da União (CGU) sobre os erros nos noticiários sobre cartões corporativos usados por funcionários do governo federal. Ressalta-se que, sobre os erros descobertos nos governos estaduais do PSDB ou DEM, a mídia, desmotivada, não demonstrou interesse em trazê-los com algum destaque para a população.

O relatório da CGU mostra claramente aquilo que já é sabido por todos: a grande imprensa brasileira, dissociada da responsável busca da verdade, da correta informação, é um instrumento nas mãos de grupos sem princípios, a não ser o do retorno ao poder no Brasil (Obs: sugiro a leitura de “Por que a grande mídia brasileira é tucanopefelista”, publicada neste bog “democracia & política” em 10/02/2008).

Vemos pela análise da CGU que muitas das reportagens que dominaram as TV e os jornais nos últimos meses como sendo o grande problema nacional eram simples detalhes usados na mídia como instrumento para fins capciosos. Os supostos “escândalos” muito magnificados foram razão para praticamente todos os noticiários e programas de entrevistas e debates, para a paralisação do Congresso em torno de CPI sobre cartões e até razão para comentários induzindo o impeachment do Presidente Lula. Tudo não passou de manobra artificial, apoiada em falsidades ou minudências, para ganhar vantagem na luta pela volta ao governo do PSDB/DEM (e dos grandes interesses internacionais e nacionais que eles representam ou a eles foram convenientes).

Leiamos a análise da CGU:

“CGU VÊ ERROS CRASSOS NO NOTICÁRIO SOBRE CARTÕES", Alan E. Cober

"Quando focalizou o atacado dos R$ 171,5 mil que Matilde Ribeiro pendurara no cartão de crédito, a imprensa mandou ao olho da rua uma ministra que não conseguiu explicar o inexplicável. Quando se deixou seduzir pelo apelo da tapioca de R$ 8,30 do ministro Orlando Silva, o noticiário descambou para um varejão de miudezas que pendurou nas manchetes uma penca de equívocos e injustiças.

O ministro Jorge Hage (Controladoria Geral da União) guarda no computador um texto que deixa mal o jornalismo. Relaciona 11 erros crassos que envenenaram o noticiário sobre cartões corporativos. Considerando-se que o Congresso se prepara para instalar uma CPI que vai se ocupar do tema, vale a pena reproduzir o conteúdo do arquivo eletrônico de Hage.

1. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) foi acusada de ter utilizado o cartão corporativo para adquirir roupa de cama. Despesa regular e necessária, atestaram os técnicos da CGU. Os panos forraram as camas utilizadas por servidores da agência que realizam a fiscalização sanitária no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. São plantonistas, obrigados a pernoitar no batente.

2. A Polícia Federal escalou o noticiário por ter sacado o cartão numa clínica de estética chamada “By Kimberly”. Eis o detalhe que a reportagem não relatou: a despesa decorre de pagamento de um revólver, devolvido à PF nos termos do Programa Nacional de Desarmamento;

3. Denunciou-se que o cartão do Ministério da Agricultura despejara verbas públicas numa agência de matrimônio. Os técnicos da CGU foram atrás. Descobriram o seguinte: pagou-se, na verdade, a manutenção de veículo do ministério numa oficina mecânica. Por equívoco da Receita Federal, a oficina fora classificada no Cadastro de Pessoas Físicas como intermediária de casamentos. Alertado, o fisco promoveu a correção.

4. Acusou-se o comando da Marinha de sacar o cartão para adquirir um bichinho de pelúcia. Era lorota. Comprou-se, na verdade, um pedaço de veludo. A loja trazia o vocábulo “pelúcia” na logomarca. Mas o pano foi usado para forrar uma bandeja que carrega medalhas em solenidades de condecoração militar.

5. Criticou-se a Marinha por ter manuseado o cartão corporativo numa casa chamada Beleza Cosméticos Ltda.. A compra destinava-se à aquisição de material de consumo para um curso de barbeiro ministrado na Escola de Fuzileiros Navais;

6. Atacou-se a Marinha, de novo, por conta da aquisição de uma caixa de bombons. Os chocolates serviram para retribuir gentilezas à esposa de uma autoridade militar estrangeira que visitou instalações navais do Brasil.

7. Noticiou-se o gasto de uma repartição pública numa loja que trazia o termo “joalheria” enganchado no nome. Compraram-se jóias? Não. Foram adquiridas baterias para um telefone celular.

8. Informou-se que, na Universidade de Uberlândia, até motoboy dispunha de cartão de crédito. Na verdade, tratava-se de um agente administrativo que tem entre suas atribuições a realização de compras emergenciais da reitoria. Por acaso, o servidor vai às compras equilibrando-se numa motocicleta.

9. A própria CGU freqüentou o noticiário por ter mandado roupas para uma lavanderia. Foram à máquina de lavar toalhas de mesa usadas num evento festivo da repartição: o Natal dos funcionários.

10. Um servidor do setor de manutenção do Ministério das Comunicações ganhou notoriedade por ter mandado reparar o forro de uma mesa de sinuca. O móvel encontra-se na garagem do ministério há 16 anos, desde 1992. Traz a plaqueta de “patrimônio da União”. É usado como passatempo dos motoristas, nos horários de folga. Para a CGU, a despesa foi absolutamente legal.

11. Entre as supostas irregularidades praticadas pelo ministro Altemir Gregolin (Pesca) mencionou-se um gasto de R$ 70 feito na choperia Pingüim, em Ribeirão Preto (SP). Varejando as notas da prestação de contas, a CGU verificou que o cartão pagou uma refeição do ministro. Não há no documento menção a bebida alcoólica. Perscrutando a agenda de Gregolin, verificou-se que teve compromisso oficial na cidade no dia em que comeu na choperia mais famosa de Ribeirão.”

A matéria da Folha da qual extraímos parte do texto acima, continua, como é natural para um grande jornal brasileiro, tentando inocular no público o veneno que poderá aniqüilar o governo Lula. Escreve a Folha que isso (agora desvendado pela CGU) é detalhe realmente, mas poderão vir a ser descobertos, no futuro, grandes e criminosas falhas de autoridades do governo. Orienta a CPI para buscar essas desejadas falhas.

2 comentários:

Sergio Telles disse...

Vamos fazer uma devassa nas contas da mídia golpista, se levantar as receitas dessas empresas, essas negociatas de publicidade que envolvem também a manipulação editorial da empresa, uma verdadeira vergonha. Por isso eles caem, caem... porque mentem, mentem...

Sergio Telles disse...

Como deve ter notado, ao mesmo tempo que você estava no meu blog, eu estava aqui no seu lendo exatamente a matéria que você recomendou... rsrs que grande coincidência!

Seu blog também está com grande qualidade e muito interessante, há realmente um grave problema de responsabilidade sobre o jornalismo e o poder midiático, que só nossa luta e insistência irá corrigir. Beijos!