terça-feira, 3 de maio de 2011

A MORTE DE BIN LADEN, A CAMINHO DA IRRELEVÂNCIA


Por Luiz Carlos Azenha, no "Viomundo"

Osama bin Laden era um homicida que pretendia implantar no mundo um califado.

Surfou na profunda sensação de humilhação dos muçulmanos diante do desprezo ocidental e no desespero de milhões de muçulmanos diante da falta de resposta de governos locais —muitos dos quais, aliás, mantidos com apoio do Ocidente— às demandas sociais.

Eu me lembro de ter visto, pasmo, no Quênia, numa viagem em que visitei a cidade de origem de Barack Obama, a imagem de bin Laden estampada na lataria de matatus, os ônibus locais, como se fosse uma espécie de herói.

E olha que o Quênia não é exatamente um caldeirão de extremistas…

Tive a oportunidade, também, de visitar a universidade onde foram formuladas as ideias do talibã, na Índia, financiada pela Arábia Saudita. Bin Laden e os talibãs foram aliados de conveniência no Afeganistão: a matriz de pensamento de ambos era o wahabismo saudita, que prega a restauração moral e intelectual do islamismo de olho nas glórias do passado.

Os estudantes da escola eram de famílias muito pobres da Índia, que viam no internato a possibilidade de redenção numa sociedade altamente estratificada e sob as mudanças estonteantes causadas pela globalização, especialmente no meio rural. A escola era a “fuga” para a segurança, material e moral.

Em várias sociedades muçulmanas, o cidadão comum encontra, através das mesquitas ou do ensino religioso, os serviços sociais que não lhe são oferecidos pelo estado, capturado em vários lugares por elites ocidentalizadas e corruptas.

Essas nuances todas, obviamente, foram desprezadas pela conveniente “guerra ao terror”, que "justificou", inclusive, a invasão do Iraque, o mais secular dos países árabes, com o uso de uma falsa ligação entre Saddam Hussein e Osama bin Laden. Saddam abominava as lideranças religiosas e só mais tarde, depois da primeira guerra do Golfo, promoveu intensa campanha de construção de gigantescas mesquitas como forma de ampliar seu apoio interno.

Visitei a maior delas, em Bagdá, algumas semanas antes da invasão que derrubou o regime de Saddam.

Bin Laden foi morto quando caminhava para a irrelevância política, substituído por partidos ou movimentos influenciados fortemente pelo islamismo, no molde do que hoje governa a Turquia. A “Irmandade Muçulmana”, vista antes com horror por Washington —quando isso era politicamente vantajoso–, agora é tida como fator moderador no Egito e em outros países do Oriente Médio onde exerce alguma influência.

A médio prazo, a canalização político-partidária do descontentamento dos jovens árabes e muçulmanos mataria bin Laden por falta de oxigênio, especialmente porque os recrutas dele eram jovens de classe média radicalizados pela falta de oportunidades. São os mais inclinados a encontrar resposta para suas aspirações nas mudanças em andamento no mundo árabe.

Barack Obama fez o serviço antes, com isso dando passo importante para garantir a reeleição em 2012. O sucesso da CIA diante de tantos fracassos anteriores e a discrição de Obama nas últimas horas colocam Obama no papel de moderado, diante dos “talibãs” republicanos.”

FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha e publicado em seu portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/a-morte-de-bin-laden-a-caminho-da-irrelevancia.html) [imagem do Google adicionada por este blog].

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